terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Sabotador Interno: O Lado Psicótico do Ego


Desde Freud, passando por K. Abraham, R. Sterba, Fairbain, Winnicott, Bion e vários outros, evidenciou-se a presença de um lado psicótico do ego, cindido, parte integrante de qualquer pessoa considerada normal.

Essa realidade interna do ego foi detalhadamente estudada por algumas filosofias consideradas de cunho místico, como a budista, a tibetana e a gnóstica. Elas afirmam que o ego é multifacetado, contendo áreas profundamente inconscientes, que funcionam contra o próprio indivíduo. Dessa forma, e com base nisso, essas filosofias construíram toda uma didática para a “morte do ego”, com exercícios meditativos que objetivam o desenvolvimento de estados alterados de consciência, para assim “viajar” aos recônditos mais profundos da mente e compreender essas construções psíquicas.
Na psicanálise, parte-se do princípio de que essa parte do ego é fruto de cisões que aconteceram desde o nascimento, é algo inconsciente, que não reconhecemos em nós, a princípio.

Bion denominou de “parte psicótica da personalidade” a esse lado patológico de nós mesmos. Rosenfeld nomeou-a de “gangue narcisista”, pelo fato desta organização intimidar o restante do ego sadio. B. Joseph chamou-a de “pseudo-cooperativa”, pois ela faz de tudo para que o indivíduo não tenha acesso à sua parte doente. Uma observação interessante partiu de J. Steiner, quando afirmou que mesmo o lado sadio do ego está de acordo com o lado patológico, havendo entre eles uma relação perversa e viciosa, com a finalidade de permanecerem inalterados.

David Zimerman usa o termo contra-ego para referir-se a esta parte patológica da personalidade, considerando-a uma subestrutura intra-ego, que se organiza, segundo ele, como “uma oposição às partes sadias e verdadeiras do ego, embora algo frágeis, a partir do princípio de que são essas partes do ego que levam o sujeito a um estado de sofrimento, desamparo e humilhação”.

Segundo Zimerman, encontram-se no contra-ego os elementos que provocam o fracasso do processo analítico:

a)      Medo de perder a própria identidade;
b)      Medo da aniquilação, de se desintegrar;
c)       Medo de afrouxar as defesas e submergir na posição depressiva;
d)      Medo paranoico de mergulhar no desconhecido;
e)      Inveja do sucesso do analista;
f)       Sentimentos de culpa;
g)      Sentimentos de vergonha;
h)      Sentimentos de vulnerabilidade, por conta das próprias limitações.

O lado doente do ego é multifacético. Compõe-se de distintos “eus”, cada um com sua característica própria. Vejamos algumas: sabotagem; reclamação, polêmica e reivindicações constantes, retaliação e mutilação, perversão, repetição de padrões (crenças arraigadas e nunca questionadas), vitimização, nivelamento por baixo.
O contra-ego engloba os receios de –novamente – ser enganado, traído e humilhado, mobilizando recursos defensivos e ofensivos para evitar isso. Assim, ele sabota oportunidades de crescimento.
Normalmente, esses inimigos internos são tratados como amigos pela parte sadia do ego, que favorece a construção de barreiras, bloqueios e toda uma série de defesas para que os conteúdos reprimidos não venham à tona. É importante que nos conscientizemos dessas condutas prejudiciais, pois elas são autolimitantes ao extremo, causando-nos atrasos em vários setores: pessoal, profissional, de relacionamentos, etc.

A auto-observação é um começo muito bom. Através do desenvolvimento deste recurso psíquico podemos perceber a atuação da parte psicótica de nós mesmos e passar e entender certos padrões inconscientes sob os quais funcionamos. Mas, pela profundidade e complexidade do tema, aconselhamos a busca e orientação de um bom terapeuta.