quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Importância do Efeito Placebo

PLACEBOS: O EFEITO DA CRENÇA
Mesmo superficialmente, todo aluno de medicina aprende que a mente tem influência direta sobre o corpo e sabe que as pessoas se sentem melhor quando pensam (ainda que não seja verdade) que estão tomando medicamentos. A cura ou a melhora pela ingestão de pílulas de açúcar é classificada como “efeito placebo”. Meu amigo Rob Williams, fundador da Psich-K, um sistema psicológico de tratamento com base em energia, sugere que o melhor termo a ser usado nesses casos é “efeito percepção”. Eu prefiro chamar de “efeito-crença” para enfatizar que nossas percepções, sejam elas precisas ou não, têm grande impacto sobre nosso comportamento e nosso corpo.
Considero o efeito-crença uma prova da habilidade de cura da mente/corpo. No entanto, por se tratar de algo que “ocorre apenas na mente”, o efeito placebo tem sido associado pela medicina a algo que só funciona com charlatães ou, na melhor das hipóteses, com, pacientes fracos e sugestionáveis. Mas o assunto é abordado muito rápida e superficialmente nas escolas de medicina. Os professores passam logo às matérias que tratam das verdadeiras ferramentas modernas: as drogas e a cirurgia.
Infelizmente, isso é um grande erro. O efeito placebo deveria ser um dos principais tópicos de estudo para estudantes de medicina. Os médicos deveriam ser treinados para reconhecer o poder de nossos recursos internos, e não para considerar o poder da mente como algo simples e inferior ao poder dos elementos químicos ou de um bisturi. Está na hora de deixarem de lado sua convicção de que o corpo e seus membros são desprovidos de inteligência e que precisamos de elementos externos para manter a saúde.
O efeito placebo deveria ser alvo de pesquisas patrocinadas. Se os pesquisadores descobrissem como utilizá-lo, poderíamos ter uma ferramenta mais eficiente, à base de energia e sem efeitos colaterais, para tratar as doenças. Os profissionais que utilizam a energia como instrumento de cura afirmam já ter essas ferramentas; porém, como cientista, acredito que, quanto mais descobrirmos sobre a ciência do placebo, mais facilmente poderemos utilizá-la sob condições clínicas.
Creio que este desprezo da medicina em relação à mente seja resultado não apenas do pensamento dogmático, mas também de aspectos financeiros. Se o poder da mente pode curar doenças, para que ir ao médico? E o mais importante: por que tomar remédio? Para meu desgosto, descobri recentemente que a indústria farmacêutica vêm estudando os pacientes que reagem ao tratamento com pílulas de açúcar com o objetivo de eliminá-los das experiências médicas. É desconcertante para essas empresas saber que na maioria dos experimentos seus medicamentos “falsos” têm o mesmo efeito que os grandes coquetéis químicos (Greenberg,2003). Embora essas empresas insistam em afirmar que não estão tentando, com isso, fazer com que medicamentos ineficazes sejam aprovados pelo governo, fica claro que a eficácia das pílulas placebo são uma ameaça para elas. A mensagem é muito clara para mim: já que não conseguimos competir com o placebo de maneira honesta, vamos eliminar a competição!
É engraçado pensar que os médicos não são treinados para lidar com o efeito placebo, pois alguns historiadores afirmam categoricamente que a história da medicina é a história do placebo. No início, os médicos não dispunham de métodos eficazes para curar as doenças. Os métodos mais conhecidos no passado eram a sangria, o tratamento de ferimentos com arsênico e o famigerado veneno de cobra, utilizado para todos os fins. É claro que pelo menos um terço dos pacientes, aqueles considerados suscetíveis ao efeito placebo, apresentavam melhoras com esses tratamentos. E, mesmo no mundo de hoje, quando os médicos em seus aventais brancosreceitam medicamentos, os pacientes acreditam que vão melhorar e acabam melhorando, seja por meio de pílulas de verdade ou apenas de açúcar.
Embora a questão de como o placebo age ainda seja ignorada pela medicina, alguns pesquisadores já começam a prestar mais atenção ao assunto. Os resultados de seus estudos sugerem que não apenas os tratamentos utilizados no século 19 como a sofisticada tecnologia da medicina atual, com todas as suas ferramentas “concretas”, pode estimular o efeito placebo.
Um estudo da Escola de Medicina Baylor publicado em 2002 no New England Journal of Medicine avaliou o resultado de cirurgias em pacientes com problemas sérios de dores nos jeolhos (Moseley, et al., 2002). O principal autor do estudo, Dr. Bruce Moseley, “sabia” que a cirurgia ajudava seus pacientes: “Todo bom cirurgião sabe que não há efeito placebo em cirurgias”. Mas ele queria descobrir qual parte da cirurgia trazia alívio aos pacientes. Dividiu-os em três grupos e raspou a região da cartilagem danificada de um grupo. No outro grupo, afastou a junta do joelho e eliminou, com a ajuda de um jato d’água, a parte que imaginava estar causando a inflamação. Os dois métodos são considerados tratamentos-padrão para problemas de artrite nos joelhos. Já no terceiro grupo, Moseley “simulou” uma cirurgia. Sedou o paciente e fez três incisões em seu joelho. Durante todo o tempo agiu como se estivesse realmente executando a cirurgia. Jogou até água sobre o local para simular o procedimento. Após 40 minutos costurou as incisões. Prescreveu aos pacientes dos três grupos o mesmo tratamento pós-cirurgia, que incluía um programa de exercícios.
O resultado foi impressionante. Sim, os grupos que receberam a cirurgia de verdade obtiveram melhoras. Mas o grupo placebo também! A conclusão é que, apesar de serem realizadas mais de 650 mil cirurgias em joelhos com artrite por ano, cada uma delas por cerca de 5 mil dólares, uma coisa ficou muito clara para Moseley, que declarou: “Minhas habilidades de cirurgião não resultaram benefício algum para esses pacientes. O único efeito em todas elas foi o placebo”. Os programas de TV anunciaram os resultados da pesquisa e mostraram imagens do grupo placebo andando, jogando basquete e desempenhando tarefas que não conseguiam antes da “cirurgia”. Só ficaram sabendo que não tinham sido operados de verdade dois anos depois. Um deles, chamado Tim Peres, disse que antes andava com a ajuda de uma bengala, mas que hoje consegue jogar basquete com os netos. Em uma declaração para o Discovery Health Channel, resumiu o tema de seu livro: “Qualquer coisa é possível neste mundo desde que sua mente queira. A mente é capaz de verdadeiros milagres”.
Estudos mostram que o efeito placebo também é eficaz no tratamento de diversas outras doenças como a asma e o mal de Parkinson. Em casos de depressão, já se tornou um dos principais métodos utilizados, algo tão comum que o Dr. Walter Brown, da Brown University School of Medicine, sugere pílulas com açúcar como primeiro tratamento em casos de depressão moderada (Brown,1998). Os pacientes são informados de que estão tomando remédios sem ingredientes ativos, mas isso não atrapalha o tratamento. Pesquisas mostram que mesmo quando eles sabem que estão tomando placebo, o efeito acaba sendo positivo.
Uma indicação do poder do placebo é apresentada em um relatório do Departamento norte-americano de saúde e assistência social. Segundo o documento, metade dos pacientes com depressão profunda que toma medicamentos com ingredientes ativos melhora e 32% daqueles que tomam placebo obtêm os mesmos resultados (Horgan, 1999). Mesmo esse estudo, porém, subestima o poder do placebo, pois muitos participantes da pesquisa percebem que estão tomando um medicamento verdadeiro porque sentem os efeitos colaterais que os os outros, que tomam apenas placebo, não sentem. Então, uma vez acreditando que estão tomando pílulas de verdade, tornam-se ainda mais suscetíveis ao afeito placebo.
Bem, com tantos efeitos positivos do placebo, não é de se surpreender que a indústria de antidepressivos de 8,2 bilhões de dólares esteja sendo acusada de exagerar na propaganda sobre a eficácia de suas pílulas. Em um artigo publicado em 2002 no periódico Prevention & Treatment, da American Psychological Association (Associação Psicológica Americana), “The emperor’s new drugs” (As novas drogas do imperador), o professor de psicologia Irving Kirsch, da Universidade de Connecticut, afirma ter descoberto que 80% do efeito dos antidepressivos, segundo experiências clínicas, pode ser atribuído ao efeito placebo (Kirsch et al,.2002). Kirsch usou a lei de liberdade de informações em 2001 para obter informações sobre as experiências clínicas feitas com os antidepressivos mais utilizados no mercado. Não se trata de dados extraídos do instituto Food and Drug Administration (FDA). Os números mostram que em mais da metade dos casos os antidepressivos não foram mais eficazes que o placebo. Kirsch declarou em uma entrevista para o Discovery Health Channel: “A diferença entre o efeito das drogas e o do placebo foi menos de dois pontos na média da escla clínica, que vai de 50 a 60 pontos. É uma diferença muito pequena, quase insignificante sob o ponto de vista clínico”.
Outro fato interessante sobre o efeito dos antidepressivos é que eles vêm obtendo desempenho cada vez melhor em testes clínicos nos últimos anos, o que sugere que seus efeitos placebo se devem, em grande parte, a estratégias de marketing. Quanto mais os efeitos milagrosos dos antidepressivos são divulgados pela mídia e pela propaganda, mais eficazes eles se tornam. As crenças são contagiosas! Vivemos hoje em uma cultura em que as pessoas acreditam que os antidepressivos funcionam. Por isso eles funcionam.
Uma designer do interior da Califórnia chamada Janis Schonfeld, que participou de um teste clínico sobre a eficácia do medicamento Effexor (venlafaxine) em 1997, ficou tão surpresa quanto Perez ao descobrir que vinha tomando placebo. Os comprimidos não apenas aliviaram a depressão que a incomodava havia 30 anos, como os exames que fez mostraram que a atividade de seu córtex pré-frontal havia aumentado (Leuchter ET AL.,2002). Mas a melhora não foi apenas no cérebro. Quando nossa mente se modifica, o corpo acompanha as mudanças. Schonfeld também sentiu náusea, um efeito colateral bastante comum do Effexor. Como a maioria dos pacientes que melhora após um tratamento com placebo e depois descobre que estava tomando pílulas de açúcar, ela achou que o médico tivesse se enganado. Tinha certeza de que estava tomando o remédio verdadeiro e pediu que fossem refeitos todos os exames para se certificar.


Bruce H. Lipton (A Biologia da Crença, cap 5, págs. 163 a 168)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Mantras Para Aliviar o Corpo de Dor da Humanidade


Em nossas práticas de Yoga, costumamos separar um tempo para mantralizações. Há muitos anos nos dedicamos a essa disciplina e os resultados energéticos são maravilhosos.

Há mantras para diversas finalidades. Separamos alguns, muito conhecidos e consagrados através dos séculos que, acreditamos, são de extrema ajuda para aliviar a carga do corpo de dor da humanidade.

Um mantra deve ser entoado, no mínimo, 108 vezes. A intenção que se deve manter na mente e no coração é explicada abaixo, após a introdução de cada mantra. Pode-se  entoá-los o quanto quiser, a cada dia, semana ou mês.  

Para controlar o número de mantras entoados costumamos usar um japa-mala, colar de 108 contas, próprio para este tipo de prática espiritual.


1)      BARUCH ATOH ADONAI ELOHENU MEHLOCH AHOLUM

(Bendito sejas Tu, Ó Senhor nosso Deus, Rei do Universo!)

Este importante mantra hebraico invoca o senhor todo-poderoso do universo. Se o recitar por um período prolongado de tempo, a pessoa pode sentir um acúmulo de energia positiva no plexo solar e no chacra da garganta.

2)      OM JESU CHRISTAYA PARAMATMANE PURUSHA AVATARAYA NAMAHA

Este mantra declara que Jesus é o verdadeiro mestre do mundo, espírito que preside todos os espíritos, e está revestido da autoridade divina.

3)      HUNG VAJRA PEH

 De acordo com os ensinamentos do budismo tibetano, existe uma esfera de consciência em volta do nosso planeta. Dentro dessa esfera existem forças nocivas que às vezes são chamadas de “formas-pensamento”. Esses blocos de energia negativa gerados pela raiva, pela violência, pelos acontecimentos terríveis (como guerras mundiais) e outros aspectos infames da consciência causam devastação todos os dias. Circulando como gotas de óleo dentro do oceano da consciência, essas partículas de sujeira têm de ser neutralizadas de alguma maneira.  Os tibetanos usam o mantra de Vajrapani para remover essas partículas de sujeira da consciência. No seu aspecto de protetor dos devotos e iniciador dos habilitados, o Vajrapani é representado erguendo um raio com trovão acima da cabeça, numa mão estendida. A face do protetor é uma visão horrenda, mas, no mesmo instante em que o fragmento é neutralizado, o semblante adquire um aspecto de terna compaixão, mostrando que Vajrapani está pronto para introduzir o devoto nos mistérios espirituais mais elevados.

Durante a mantralização, visualize a camada de consciência que envolve a Terra sendo purificada das energias negativas.


4)      OM VAJRA SATTWA HUM

 Esta forma-pensamento tibetana de pensamento, de um branco intenso e azulado, é usada para criar clareza mental. Nas meditações tradicionais do budismo tibetano, uma pequena figura branca é visualizada sentada cerca de trinta centímetros acima da cabeça da pessoa. Quando o mantra é recitado, a figura emite um raio de luz branca que entra pelo topo de sua cabeça. Consequentemente, todos os padrões mentais e hábitos negativos são eliminados através da aura, dos chacras e do corpo etérico. O lixo é então absorvido pela Terra, que sabe como recicla-lo e transforma-lo em energia aproveitável.

Para usar esse mantra em favor do planeta, recite-o enquanto visualiza a Terra livrando-se do lixo que a humanidade produziu para a energia transformadora da luz solar. A energia da luz solar limpa a aura da Terra todos os dias. Com nossos esforços, estaremos acelerando e intensificando esse processo.

5)      NAMO KWAN SHI YIN PU SA

Kwan Yin é a forma feminina chinês de Avaloketeshwara. Entre os arquétipos budistas, Kwan Yin é uma fonte de grande compaixão. A consciência pode expandir-se, o conhecimento aumentar e os poderes espirituais manifestarem-se, mas sem compaixão eles são pouco mais que poeira ou palha. Jesus sugeriu isso quando disse que, sem amor, não temos nada. A idéia é a mesma aqui. O mantra Kwan Yin impregna o invólucro de consciência que circunda a Terra com uma compaixão dinâmica que se manifesta como graça e misericórdia. Recitar o mantra Kwan Yin é contribuir para aumentar a existência de uma compaixão ativa entre todos.

6)      OM HA KSA MA LA VA RA YAM SWAHA

 Kalachakra é o espírito da Roda do Tempo, a última lição que Buda ensinou antes de morrer. Recitar este mantra é uma forma pessoal de acelerar o próprio desenvolvimento. Recita-lo em favor do planeta ajudará a Terra na sua jornada espiritual.

7)      OM NAMA SHIVAYA

 Jesus disse: “Sede perfeitos como o Vosso Pai no Céu é perfeito”. As práticas do Extremo Oriente da tradição siddha já levavam esse ditame a sério, muitos séculos antes de Jesus nascer. Siddha é um ser que alcançou a perfeição. Isso quer dizer que cada chacra tornou-se perfeito no domínio do princípio energético básico que corresponde a ele. O elemento terra corresponde ao chacra da base da coluna; o elemento água corresponde ao segundo chacra; o fogo, ao terceiro; e assim por diante.

Quando Jesus andou sobre as águas, ele provou que dominava o princípio que rege o segundo chacra. Moisés fez o mesmo quando separou as águas para que os fiéis que deixavam o Egito pudessem passar. Quando Jesus acalmou a tempestade sobre o mar, ele demonstrou que dominava o princípio do quarto chacra. Também quando ele disse: “Céu e Terra poderão desaparecer, mas minhas palavras nunca morrerão”, ele demonstrou ter pleno domínio do princípio que rege o quinto chacra.

Para os mestres siddha da Índia, Jesus seria um deles. Um de seus mantras mais importante é Om Nama Shivaya. Recite este mantra hindu com a idéia em mente de que todos nós devemos nos tornar perfeitos, cada um à sua maneira.

8)      OM EIM SARASWATYEI SWAHA

 Saraswati, por cujo poder da fala (Vach) o universo foi criado, confere todo tipo de conhecimento. Recite o mantra Saraswati com a intenção de elevar conscientemente o conhecimento, entre os seres humanos, a níveis mais elevados. Finalmente, quando soubermos o bastante, os hábitos nocivos de nossa espécie simplesmente se dissiparão.


9)      OM MANI PADME HUM

 Este é o célebre mantra que costuma ser traduzido como “A jóia da consciência está no coração do lótus”.

Avaloketeshwara é considerado um ser espiritual que alcançou um nível espiritual tão elevado que era como se tivesse escalado a montanha mais alta, chegando a um muro de pedras no seu topo. Uma vez ali, Avaloketeswara pulou para cima do muro de pedras e estava prestar a saltar dele, quando então ele entraria definitivamente em outro nível de ser e deixaria para sempre a humanidade. Nesse instante, ele ouviu um forte gemido atrás de si. Virando-se, viu o inconsciente coletivo da humanidade começando a lamentar a perda de sua presença. Tomado de compaixão, ele decidiu adiar essa etapa final da iluminação, sua beatificação definitiva, em favor de todos os seres vivos. Essa decisão tornou-se o “Juramento de Bodhisatwa”, o juramento de servir a todas as formas de vida consciente. Muitos budistas sérios faziam esse juramento. O grau de seriedade dos que fazem esse juramento varia, mas pensando bem, todos os grandes mestres espirituais da humanidade devem ter feito um juramento ou tomado uma decisão desse tipo, do contrário por que voltariam para nos ajudar?

A disciplina espiritual que faz uso do célebre mantra Mani é empreendida para promover a idéia de desenvolvimento espiritual associado ao ato de servir à vida. Durante a mantralização, recite-o sabendo que está colocando seu ombro metafísico na mesma roda que os mestres estão constantemente empurrando – a roda da evolução espiritual da humanidade.

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Se você se sentir preparado, organize a sua sessão mântrica. Ela não tem de ser nem grandiosa nem complicada. De acordo com os textos orientais, Deus reconhece as intenções do coração, mesmo quando os recursos são escassos. Com a mera prática mântrica, nem que seja só por curiosidade, você estará prestando um enorme serviço a todas as formas de vida do Planeta Terra.


                                                                                                                                Namastê!

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Considerações Sobre Amor-Próprio e Egoismo


Remexendo minha pequena,mas rica biblioteca, encontrei um livro de Erich Fromm, “A Arte de Amar”, onde ele faz reflexões interessantes sobre todos os tipos de amor.
Há um subtítulo no Capítulo 3 que fala sobre a diferença entre amor próprio e egoísmo.

Acreditando ser útil esclarecer o significado de cada um, transcrevemos abaixo o citado trecho:

Embora não haja nenhuma objeção à aplicação do conceito de amor a vários objetos, é uma crença muito difundida a de que, se é virtuoso amar os outros, é pecado amar a si mesmo. Considera-se que, se Omo a mim mesmo, não amo mais ninguém, que o amor a si mesmo é a mesma coisa que o egoísmo. Essa ideia está arraigada há muito tempo no pensamento ocidental. Calvino fala do amor a si mesmo como se fosse uma “peste”. Freud fala de amor a si mesmo em termos psiquiátricos, mas seu juízo de valor é igual ao de Calvino. Para ele o amor a si mesmo é a mesma coisa que o narcisismo, é a libido voltando-se para si mesma. O narcisismo é o primeiro estágio do desenvolvimento humano, e a pessoa que, mais adiante na vida, volta a seu estado narcísico é incapaz de amar; nos casos extremos, é insana. Freud considera que o amor é a manifestação da libido, e que a libido é ou voltada para os outros (amor) ou para si mesmo (amor a si mesmo). Amor e amor a si mesmo são, portanto, mutuamente exclusivos no sentido de que quanto mais há de um, menos há do outro. Se o amor a si mesmo é ruim, então a abnegação é virtuosa.

Põe-se a questão: a observação psicológica suporta a tese de que há uma contradição básica entre amor a si e amor aos outros? O amor a si é o mesmo fenômeno que o egoísmo ou trata-se de fenômenos opostos? Além disso, o egoísmo do homem moderno é de fato uma preocupação consigo mesmo enquanto indivíduo, com todas as suas potencialidades intelectuais, emocionais e sensuais? Será que “ele” não se tornou um apêndice de seu papel socioeconômico? O egoísmo é mesmo idêntico ao amor a si ou não seria causado pela falta desse amor?
Antes de iniciarmos a discussão do aspecto psicológico do egoísmo e do amor a si mesmo, precisamos apontar a falácia lógica existente na noção de que o amor aos outros e o amor a si são mutuamente exclusivos. Se é uma virtude amar o próximo como ser humano, deve ser uma virtude – e não um vício – amar a mim mesmo, já que também sou um ser humano. Não há concepção do homem em que eu mesmo não esteja incluído. Uma doutrina que proclame tal exclusão se revela intrinsecamente contraditória. A ideia expressa do “ama o próximo como a ti mesmo” da Bíblia implica que o respeito a si mesmo, o amor e a compreensão por si mesmo não podem ser separados do respeito, do amor e da compreensão por outro indivíduo. O amor por meu próprio eu é inseparavelmente ligado ao amor por qualquer outro ser.

Chegamos agora às premissas psicológicas básicas em que se fundamental as conclusões de nossa argumentação. Em geral, essas premissas são as seguintes: não apenas os outros, mas nós mesmos somos o “objeto” de nossos sentimentos e de nossas atitudes, as atitudes em relação aos outros e a nós mesmos, longe de serem contraditórias, são basicamente conjuntivas. No que concerne ao problema que estamos discutindo, isso significa: o amor aos outros e o amor a nós mesmos não são alternativas. Ao contrário, uma atitude de amor a si mesmo será encontrada em todos os que são capazes de amar os outros. O amor, em princípio, é indivisível no que concerne à conexão entre “objetos” e nosso próprio ser. O amor genuíno é uma expressão de produtividade e supõe cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento. Não é um “afeto” no sentido de ser afetado por alguém, mas um esforço ativo no sentido do crescimento e da felicidade da pessoa amada, arraigado em nossa própria capacidade de amar.

Amar alguém é a realização e a concentração do poder de amar. A afirmação básica contida no amor é dirigida para a pessoa amada como uma encarnação de qualidades essencialmente humanas. O amor a uma pessoa implica o amor ao homem como tal. Essa espécie de “divisão de trabalho”, conforme William James a chama, pela qual uma pessoa ama sua família mas não tem nenhum sentimento para como o “estranho” é indício de uma incapacidade básica de amar. O amor ao homem não é, como se costuma supor, uma abstração que vem depois do amor por uma determinada pessoa, mas é sua premissa, se bem que seja geneticamente adquirida amando-se indivíduos determinados.
Decorre daí que meu eu tem de ser objeto do meu amor tanto quanto outra pessoa. A afirmação da minha vida, da minha felicidade, do meu crescimento, da minha liberdade, arraiga-se na minha capacidade de amar, isto é, no cuidado, no respeito, na responsabilidade e no conhecimento. Se um indivíduo é capaz de amar produtivamente, ele também se ama; se ele só pode amar os outros, é que na verdade não pode amar. Admitindo-se que o amor a si mesmo e aos outros é, em princípio, conjuntivo, como explicaremos o egoísmo, que exclui obviamente qualquer preocupação genuína pelos outros? A pessoa egoísta só se interessa por si mesma, quer tudo para si, não tem prazer em dar, apenas em tomar. Ela vê o mundo exterior unicamente do ponto de vista do que pode dele obter; ela não se interessa pelas necessidades alheias, nem tem consideração pela dignidade e pela integridade delas. Não enxerga nada, além de si mesma; julga todos e tudo do ponto de vista da utilidade que podem ter para si; é basicamente incapaz de amar. Isso acaso não prova que a preocupação pelos outros e a preocupação por si são alternativas inevitáveis? Seria assim, se o egoísmo e o amor a si mesmo fossem idênticos. Mas admitir tal hipótese é uma falácia que levou a muitas conclusões errôneas com relação a nosso problema. Egoísmo e amor a si mesmo, longe de serem idênticos, na verdade são opostos. A pessoa egoísta não se ama muito, ela se ama pouco; na verdade, ela se odeia. Essa falta de carinho e de cuidado por si mesmo, que nada mais é que a expressão da sua falta de produtividade, deixa o egoísta vazio e frustrado. Ele é necessariamente infeliz e tenta ansiosamente arrancar da vida as satisfações que se impede de alcançar. Parece preocupar-se demasiado consigo, mas na verdade apenas faz uma tentativa malsucedida de dissimular e compensar seu fracasso em cuidar de seu eu verdadeiro. Freud considera que o egoísta é um narcisista, como se houvesse retirado seu amor dos outros e voltado todo ele para a sua pessoa. É verdade que as pessoas egoístas são incapazes de amar os outros, mas também não são capazes de amar a si mesmas.

É mais fácil entender o egoísmo comparando-o com a insaciável preocupação com os outros, que encontramos, que encontramos por exemplo, na mãe super-protetora. Embora ela conscientemente acredite ter uma hostilidade profundamente reprimida contra o objeto da sua preocupação. Ela se preocupa em excesso com ele não apenas porque ama muito o filho, mas porque precisa compensar sua falta pura e simples de capacidade de amá-lo.

Essa teoria da  natureza do egoísmo nasceu da experiência psicanalítica com a “abnegação” neurótica, um sintoma de neurose observado em não poucas pessoas que normalmente não se sentem perturbadas por esse sintoma, mas por outros ligados a ele, como a depressão, o cansaço, a incapacidade de trabalhar, o fracasso nos relacionamentos amorosos, e assim por diante. Não apenas essa abnegação não é sentida como um “sintoma”, como costuma ser o traço de caráter redentor de que tanta gente se orgulha. A pessoa “abnegada” não quer nada para si”; ela “vive só para os outros”, orgulha-se de não se considerar importante. Fica intrigada ao constatar que, apesar da sua abnegação, é infeliz, e que seus relacionamentos com os mais próximos dela são insatisfatórios. O trabalho analítico revela que sua abnegação não é algo separado dos outros sintomas que apresenta, mas um deles – na verdade, costuma ser o mais importante de todos; revela que ela está bloqueada em sua capacidade de amar ou de aproveitar o que quer que seja; que está impregnada de hostilidade contra a vida e que por trás da fachada abnegada está escondido um egocentrismo sutil, mas nem por isso menos intenso. Essa pessoa só pode se curar, se sua abnegação também for interpretada como um sintoma dentre outros, de modo que sua falta de produtividade, que está na raiz tanto da abnegação como de seus outros problemas, possa ser reparada.

A natureza da abnegação se torna particularmente patente em seus efeitos sobre os outros, e na maior  parte das vezes, em nossa cultura, no efeito da mãe “abnegada” sobre seus filhos. Ela acredita que, graças à sua abnegação, seus filhos experimentarão o que é ser amado e aprenderão, por sua vez, o que significa amar. No entanto, o efeito da sua abnegação não corresponde de maneira nenhuma às suas expectativas. Os filhos não denotam a felicidade das pessoas convencidas de que são amadas; são ansiosos, tensos, temem a desaprovação da mãe e anseiam por corresponder às suas expectativas. Normalmente, todos eles são afetados pela hostilidade oculta da mãe contra a vida, que eles muito mais sentem do que reconhecem claramente, e acabam eles próprios imbuídos dela. Globalmente, os efeitos que a mãe “abnegada” produz sobre seus filhos não é muito diferente dos da mãe egoísta; na verdade, costumam ser piores, porque a abnegação da mãe impede que os filhos a critiquem. Eles se vêem na obrigação de não desapontá-la; são ensinados, sob a máscara da virtude, a não gostar da vida. Se você tiver a oportunidade de estudar o efeito de uma mãe dotada de verdadeiro amor a si, poderá ver que nada conduz tão bem o filho à experiência do que é o amor, a alegria e a felicidade, do que ser amado por uma mãe que se ama.


A melhor maneira de resumir essas idéias de amor a si mesmo é citar Mestre Eckhart sobre esse ponto: “Se você ama a si mesmo, você ama todos os outros tanto quanto a si mesmo. Se você ama outra pessoa menos do que se ama, na verdade não conseguirá amar a si mesmo; mas, se você amar a todos, inclusive você, igualmente, então amará todos eles  como se fossem uma só pessoa, e essa pessoa é ao mesmo tempo Deus e homem. É assim uma grande e virtuosa pessoa que, amando-se, ama igualmente todos os outros”.