ASTROLOGIA HUMANÍSTICA
Os Ciclos e sua Relação com as Crises
A Astrologia Humanística constitui a primeira abordagem
astrológica a usar o conceito de ciclos como base para a compreensão e
interpretação dos seus símbolos fundamentais: casas, signos, plantas e aspectos.
(...)
O que é um ciclo? Ciclo é uma estrutura-forma de tempo. É o
contexto no qual ocorrem as mudanças. Toda a existência é estruturada pelo
tempo e toda a atividade tem lugar no tempo. Ciclo é o tempo de duração da vida
de qualquer entidade determinada. Embora um ciclo tenha um começo e um fim
reconhecíveis, é errôneo interpretar isso como um eterno ponto de partida –
começo, fim e novo começo. Uma tal visão dos ciclos, em astrologia, levará o
indivíduo a considerá-los como sequências repetitivas de eventos. Este não é o
verdadeiro retrato da realidade; pois, embora o padrão do seu desenvolvimento
se repita, desde o início até o fim, o conteúdo de um ciclo – os estados de
mudança, os eventos ou as experiências de seu período de duração – nunca se repete
exatamente. (...)
Sendo um “todo e de atividade”, um ciclo contém um meio,
assim como um começo e um fim, havendo fases de desenvolvimento identificáveis
à medida que ele se desenrola. Tão logo um momento particular é identificado
como parte de um ciclo, passa a estar inextricavelmente relacionado com o
começo e também com o fim desse ciclo. Qualquer momento específico ocorrido
dentro de um ciclo é considerado parte do “meio”, um desenvolvimento do impulso
que iniciou o ciclo, e é dirigido no sentido da consumação ou propósito desse
ciclo. Desse modo, todos os momentos dentro de um ciclo estendem-se para trás,
para a raiz do ciclo e, ao mesmo tempo para frente, na direção da semente do
ciclo. Este impulso simultâneo, para frente e para trás, envolve qualquer
momento particular com todos os outros momentos do ciclo. Rudhyar denomina este
fenômeno de INTERPRETAÇÃO-TEMPO. É a quarta dimensão do tempo. (...) Cada
momento no tempo é uma parte, um aspecto ou uma fase de uma realidade oniabrangente
– o Todo – e tem seu significado essencial somente com referência a esse Todo.
Assim sendo, cada unidade aparentemente separada tem participação e está
envolvida com cada uma das outras unidades existentes dentro do tempo de
duração de um ciclo. Isto acontece porque, em qualquer ciclo, o efeito também
age sobre a causa e cada momento presente é puxado pelo futuro, assim como é
empurrado pelo passado. O ciclo inteiro está implícito em cada um de seus
momentos.
Como um estudo dos ciclos, a astrologia torna-se, então, um
estudo das correlações entre todos esses fatores – entre o futuro e o passado
em cada momento presente; entre o macrocosmo universal e o microcosmo
individual. O mapa natalício é o ponto de partida do ciclo de vida do
indivíduo. Situa-se entre o passado ancestral – as raízes cármicas e o futuro
potencialmente individualizado – o propósito-vida dármico. Trata-se do padrão
ou plano que Jung chamou de processo de individuação, revelando, em linguagem
simbólica, como cada pessoa pode atualizar plenamente aquilo que é
potencialmente.
O QUE É UMA CRISE? Os ciclos são medidas de mudança. Para
que qualquer propósito se realize, devem ocorrer mudanças e, necessariamente,
mudanças envolvem crises. (...) Ela
deriva da palavra grega “krino”, “decidir”, e significa, simplesmente, um
momento de tomar uma decisão. Uma crise é um momento decisivo – aquele que
precede a MUDANÇA. Para evitar uma crise, teríamos que evitar a própria
mudança, o que constitui uma impossibilidade óbvia.
Embora toda a matéria, tanto viva quanto inanimada, esteja
mudando constantemente, somente o homem tem capacidade de tomar uma decisão
consciente. Com o fito de evoluir, ele deve abandonar o comportamento
instintivo, que serve apenas para a sobrevivência ou as compulsões sociais, em
favor da escolha consciente. A barreira para a escolha consciente é o “ego”,
aquilo que a sociedade disse ao indivíduo que ele deveria ser, em oposição à
experiência do Eu, que lhe diz o que ele realmente é. É na adaptação ao papel
social que o indivíduo assume padrões de comportamento habituais. Assim, quando
chega o momento de tomar uma decisão (crise), permitimos que esses padrões
determinem a nossa escolha, em vez de seguirmos as linhas de orientação
emanadas da nossa própria verdade pessoal.
Infelizmente, está sempre presente a tentação de se evitar o
ato de tomar uma decisão, na esperança de que a necessidade desapareça e as
coisas permaneçam num confortável estado “normal”. Às vezes esta técnica dá a
impressão de que funciona, e o fio do status quo parece não ter sido rompido;
contudo, não importa quão pequenina a decisão ou quão insignificante a crise,
este ato de evitar representa, de qualquer modo, uma derrota espiritual. O fato
de recusar-se a decidir, ou o fato de esperar que as circunstâncias ou outras
pessoas decidam, não exime o indivíduo da responsabilidade. Toda vez que uma
decisão deixa de ser tomada, os padrões inconscientes e instintivos tornam-se
mais profundos. O que na infância era uma ranhura transforma-se, mais tarde,
num sulco e, finalmente, numa cova. Esta repetida ausência de decisão
consciente pode, numa determinada circunstância, aumentar a tensão, fazendo-a
finalmente explodir. O indivíduo será então obrigado a reagir a circunstâncias
difíceis ou dolorosas, que poderiam ter sido evitadas, caso tivesse ele
enfrentado as crises anteriormente e menores com objetividade e coragem. A
catástrofe resultante não é uma conseqüência inevitável das crises, mas sim das
decisões evitadas. Assim sendo, para os astrólogos humanisticamente orientados,
as crises não são eventos externos, embora os eventos externos possam
precipitá-los ou condicionar o seu desenvolvimento. As crises, tanto grandes
como pequenas, representam, essencialmente, oportunidades para o
desenvolvimento – as únicas oportunidades que realmente temos. O indivíduo deve
fazer um esforço contínuo no intuito de se manter alerta e livre dos padrões de
hábitos inconscientes, que obstaculizam o crescimento espiritual. Desse modo,
será capaz de usar as crises em favor de seus objetivos particulares.
O desafio das confrontações é interminável. Alguns destes
pontos críticos são biológicos (tais como a adolescência e a menopausa) e são
enfrentados em idades específicas, ao passo que outros são individuais e podem
ocorrer em qualquer época durante o período de vida. O potencial destes últimos
é inerente ao mapa de nascimento, e a interpretação de seus efeitos e reações
dependerá da idade da pessoa na ocasião da crise. Por meio de trânsitos e
progressões, o astrólogo pode deduzir a época e a natureza das futuras crises
em potencial. Caso se espere um tipo específico de período de transição, ou de
crise de crescimento, o indivíduo pode preparar-se para enfrentá-lo
conscientemente e com os olhos abertos e, através dele, poderá lucrar muito
mais em termos de maturidade pessoal e de desenvolvimento espiritual. Tal
conhecimento também poderá ajudar a pessoa a evitar decisões imprudentes ou
precipitadas. O sentimento de desespero que frequentemente surge no meio de uma
crise pode ser igualmente dispersado pela capacidade do astrólogo em predizer o
fim do ciclo.
Todavia, o conhecimento antecipado pode, por outro lado, ter
efeitos negativos. Com muita freqüência, a antecipação de uma crise iminente
provoca medo e ansiedade – as causas primárias de todos os males. Idealmente,
do ponto de vista humanístico esta abordagem negativa deverá ser menos
provável, uma vez que o objetivo da abordagem humanística é antes o
desenvolvimento espiritual, e não o conforto ou o enriquecimento material. Além
do mais, o astrólogo humanístico deverá saber que as crises não são eventos
isolados, mas fases de crescimento individual. Deverá interpretá-las tomando
como referência os ciclos maiores ou menores dentro dos quais elas ocorrem – as
fases desses ciclos. A fase correspondente à crise revelará seu significado e
propósito em função da natureza, do alcance e do propósito do ciclo como um
todo. A astrologia humanística, portanto, será capaz de trazer um sentido de
direção, de orientação e de determinação a cada crise. A maioria dos manuais
astrológicos não trata da capacidade para visualizar o que poderá e deverá
ocorrer no futuro (isto é, a meta e o propósito do ciclo completo), mesmo
quando a pessoa se acha no meio de uma caótica situação presente. Ela deve ser
aprendida enfrentando-se experiências em função da quarta dimensão temporal –
isto é, observando-se o ciclo todo em cada momento em que está sendo vivido e
abordando-se esse momento presente de maneira lúcida e consciente.
Embora a astrologia humanística possa prestar um grande
auxílio na compreensão das crises futuras, essa abordagem poderá ser ainda mais
valiosa no que se refere a compreender as crises já ocorridas. Tal compreensão,
embora tardia, é a melhor preparação para se enfrentar, construtiva e
expressamente, as crises de desenvolvimento que ainda estão por vir. Contudo,
como qualquer técnica, seu valor depende da pessoa que a está utilizando – de sua
coragem, discernimento e visão espiritual. Ninguém pode ver, quer num mapa de
nascimento, quer na própria pessoa, qualquer coisa que esteja além do alcance
do seu próprio entendimento. O astrólogo pode extrair de um mapa de nascimento
apenas aquilo que ele insere em sua própria vida.
Trecho extraído do livro “Ciclos de Evolução”, de Alexander
Ruperti.