Olhando do ponto de vista da anatomia oculta, os chacras da
base e sacral realizam uma dança intrincadíssima, onde a essência de “quem
somos” costuma ser formulada pela natureza de nossas relações afetivas e, por
sua vez, as relações afetivas são profundamente influenciadas pela identidade
que optamos por apresentar naquele momento. Em outras palavras, não conseguimos
encontrar aquele espaço de segurança necessário ao chacra da base, vivendo isolados
no alto de uma torre de marfim, mas também é verdade que se vincularmos nosso
senso de identidade a nossas relações com as pessoas, com o trabalho, com
objetivos materiais ou conceitos, nos sentiremos inseguros e sem confiança em
nós mesmos.
Na verdade, o ciúme e a possessividade ocorrem quando um
membro de um casal procura encontrar-se através de símbolos externos de
segurança e descobre que a outra parte está em falta. Então colocam sua relação
afetiva numa camisa de força, ansiando por aquela sensação de algo especial
proporcionada inicialmente pela paixão de um amor novo. Infelizmente isso não
resolve o problema básico de insegurança e, à medida que as condições da
aliança sofrem dificuldades, o membro cooperativo começa a bater em retirada
para manter seu equilíbrio pessoal.
Os sentimentos inevitáveis de rejeição e isolamento sentidos
pela parte ferida costumam ser projetados fora daquela relação afetiva, no
mundo exterior. Somente quando o indivíduo tem a coragem de olhar dentro de si
e reconhecer sua insegurança básica é que se dispõe a assumir responsabilidade
pelo desenvolvimento de alicerces sólidos, de modo que suas raízes possam ser
realmente nutridas e sua força interior possa aumentar.
É claro que a situação oposta também é comum, com a pessoa
parecendo tão competente e tanto no controle que tem pouca necessidade de
ligação afetiva e prefere mostrar o “rosto da independência” a todos os
interessados. Muitas vezes se surpreendem em relações com alguém que não está
disponível mental ou fisicamente, como alguém casado, que mora no exterior ou
que raramente expressa seus sentimentos. Nenhum desses indivíduos exige
compromisso, nem intimidade verdadeira e, nesse caso, a independência pode ser
mantida sem a perda de controle. Mas, qualquer um que precise manter um senso
de identidade tão forte assim não se sente seguro e, na verdade, tem medo de se
sentir desafiado por uma aliança que representa, potencialmente, mudança,
vulnerabilidade e, acima de tudo, amor.
Toda a questão de independência versus dependência é
fundamental quando estudamos o chacra sacral onde, em última instância, ambos
precisam entregar-se a uma faceta ainda mais importante das relações afetivas,
a INTERDEPENDÊNCIA.
Como disse o Profeta (com palavras escritas por Kahlil
Gibran) ao falar a respeito do casamento:
Entreguem o coração,
mas não para o outro guardar,
Pois somente a mão da
Vida pode conter seus corações.
E fiquem juntos, mas
não juntos demais,
Pois os pilares do
templo ficam separados,
E o carvalho e o
cipreste não crescem na sombra um do outro.
A interdependência permite a cada um conhecer o outro e
percorrer seu próprio caminho, ao mesmo tempo que sustentam alegremente uma
viga mestra, a relação afetiva, em favor de sua viagem maior.
Se não houver nada em comum, não há relação alguma, quer
estejamos falando de uma pessoa, um emprego ou uma crença. O interessante é
que, às vezes, a única coisa que mantém um casamento de pé é a falta de amor de
um pelo outro, e quando uma das pessoas morre, existe ainda mais um pesar
genuíno por essa relação afetiva disfuncional.
Outras relações parecem extremamente simbióticas e cômodas,
mas são mantidas por um contrato de codependência que diz: “Serei o que você
quer que eu seja desde que você seja o que eu quero, e que nenhum dos dois
desrespeite esse acordo nem por um minuto”. Chamo esse tipo de relação afetiva
de “tenda”, onde os únicos pontos de apoio são as cordas retesadas em direções
opostas para manter a tensão interior que não é imediatamente visível ao mundo
exterior. Esse arranjo funciona perfeitamente bem até um dos membros expandir
seus horizontes. As regras e regulamentos da tribo/família são questionados e
são feitas todas as tentativas no sentido de restaurar o status quo, muitas
vezes através do medo e da manipulação: “Se você me amasse...”, ou “Vou me
sentir feliz depois que você se encontrar realmente e tudo puder voltar a ser
como antes”.
Esse é um problema comum dessa época de mudança, quando
tanta gente está procurando um significado maior para sua vida e descobrindo
que os velhos modelos não têm a flexibilidade necessária à auto-expressão.
Entretanto, qualquer relação construída sobre os alicerces do amor e do
respeito tem condições de permitir o colapso das estruturas desgastadas, a
introdução de novas ideias e o encorajamento do diálogo que pode manter uma
ligação saudável.
Acho que todos conhecemos relações afetivas onde parece
inconcebível que uma das pessoas sobreviva sem a outra devido à sua ligação
profunda. Quando a separação acontece, todos observam com grande expectativa.
De vez em quando, a previsão realiza-se, com uma morte depois da outra; no
entanto, o mais comum é o indivíduo que ficou oscilar e depois começar a se
endireitar, utilizando suas reservas interiores e, apesar de sua tristeza,
preparar-se para seguir em frente. Na verdade, em geral surge uma personalidade
inteiramente nova, vivendo de uma maneira que questiona crenças antigas e
surpreendendo muitas vezes a própria pessoa.
Em síntese, esse chacra levanta questões que giram em torno
do respeito, espaço, flexibilidade e compromisso. Será que podemos encontrar um
lugar em nossas relações afetivas onde ambas as partes se sintam alimentadas,
respeitadas e ouvidas e, se necessário, estarmos dispostos a fazer isso por nós
mesmos, em vez de esperar que o mundo faça por nós? Esta última situação é
exemplificada pela “donzela em apuros”, preparada a esperar para sempre no alto
da torre por seu “cavaleiro andante”, sem perceber que ele está esperando ao pé
da escada; basta que ela tome a providência de dar o primeiro passo em sua
direção.
Christine
Page, “Anatomia da Cura”, ps. 156/159.