sábado, 27 de fevereiro de 2016

Funcionalismo do Masoquismo




Para o entendimento deste traço psíquico nos apoiamos, principalmente, nas reflexões de Wilhelm Reich expressadas em seu livro “Análise do Caráter”, Capítulo 11, valendo-nos de trechos do mesmo. Este livro é uma ótima fonte de estudo sobre o funcionalismo da personalidade humana.
Antes de mais nada, vejamos dois conceitos globalmente aceito sobre o significado do MASOQUISMO, que encontramos no dicionário do Google:
a)      “atitude de uma pessoa que busca o sofrimento, a humilhação, ou que neles se compraz”.
b)      “perversão caracterizada pela obtenção de prazer sexual a partir de sofrimento ou humilhação a que o próprio indivíduo se submete; algolagnia passiva”.
A palavra em si foi cunhada pela psiquiatra alemão Richard Von Krafft-Ebing. A base para tal veio das cenas descritas no livro “A Vênus de Peles” (1870), escrito pelo jornalista austríaco Leopold Von Sacher-Masoch.  Na cena em questão, um dos personagens chega ao orgasmo após ser surrado pelo amante de sua esposa.
Em tempo, frisamos que ambos os conceitos são limitados. São poucas as pessoas masoquistas que desenvolvem uma perversão masoquista.  Tampouco é adequado afirmar que o masoquista busca o sofrimento, pois a base dos instintos, ou do ID, falando em linguagem estritamente psicanalítica, é o princípio do prazer.  Assim, uma análise mais acurada se fez necessária e W. Reich buscou elucidar esta questão.  Vejamos o que ele descobriu.
O masoquista vê como agradável o que a pessoa normal sente como desagradável. Assim, o masoquista não busca o sofrimento, mas sente prazer no sofrimento. Por aí, vemos que não dá para separar o masoquismo da sua polaridade oposta, o sadismo.
A psicanálise entende que cada fase de desenvolvimento psicossexual se caracteriza por uma forma correspondente de agressão sádica, como segue:
1)      Sadismo oral: frustração da sucção.  Impulso destrutivo: morder.
2)      Sadismo anal: frustração do prazer anal. Impulso destrutivo: esmagar, pisar, bater.
3)      Sadismo fálico: frustração do prazer genital. Impulso destrutivo: penetrar, perfurar.
O sadismo torna-se masoquismo quando se volta contra a própria pessoa, ou seja, quando são inibidos pela frustração e pelo medo, terminando em autodestruição.
O superego torna-se o agente da punição. O sentimento de culpa resulta do conflito entre o impulso amoroso e o impulso destrutivo.
A angústia é um fenômeno do mesmo processo de excitação no sistema vaso-vegetativo, advindo que, no sistema sensorial é percebido como prazer. A angústia não é nada mais do que uma sensação de aperto, uma condição de estase, medos (perigos imaginados) que se tornam emocionalmente carregados quando ocorre essa estase específica.
O masoquismo, longe de buscar desprazer, demonstra forte intolerância a tensões psíquicas e sofre uma superprodução de desprazer em termos quantitativos, não encontrados em qualquer outra neurose.
Segundo Reich, um traço de caráter masoquista típico é um sentimento subjetivo crônico de sofrimento que se manifesta objetivamente e se distingue como uma tendência para se queixar. Como traços adicionais, temos: tendências crônicas de infringir dor a si próprio e de se autodepreciar (masoquismo moral) e uma intensa paixão por atormentar os outros, com o que o masoquista não sofre menos que seu objeto.
Uma pessoa não castiga a si própria para aplacar ou subornar o superego, a fim de, então, desfrutar o prazer livre de angústia. O masoquista chega à atividade agradável como qualquer outra pessoa, mas o medo da punição interpõe-se. A autopunição masoquista é a realização não do castigo temido, mas de um outro, substituto, mais suave. Assim, representa um tipo de DEFESA contra o castigo e a angústia. A entrega passiva-feminina à pessoa que castiga é típica do caráter masoquista.
O masoquista gosta particularmente de provocar os objetos através dos quais sofreu desapontamentos. De início, esses objetos eram amados, então houve um despontamento ou o amor exigido pela criança não foi suficientemente satisfeito.
Qual o significado da exigência excessiva de amor? A resposta está na predisposição à angústia, sempre presente nos masoquistas.
Há uma correlação direta entre a atitude masoquista e a exigência de amor, por um lado, e por outro, a tensão desagradável e a predisposição à angústia.
Tal como se queixar representa uma exigência de amor disfarçada e a provocação uma tentativa desesperada de forçar o amor, a formação global masoquista representa uma tentativa malograda de se livrar da angústia e do desprazer. Malograda porque, por mais que ele tente, ele nunca se liberta da tensão interna que constantemente ameaça se transformar em angústia.
O caráter masoquista procura conter a tensão interna e a ameaça de angústia por um método inadequado, ou seja, atraindo amor através de provocações e desafios.
Essa exigência de amor se baseia num medo de ser abandonado, experimentado intensamente bem no começo da vida. O caráter masoquista não poder suportar ficar só, tal como não pode suportar a possibilidade de perder uma relação de amor.
O caráter masoquista não pode suportar a perda de um objeto, do mesmo modo que não poder despojá-lo de seu papel protetor. Não pode suportar a perda de contato.
Em todo masoquista, seja ele moral ou erógeno, encontramos uma base especificamente erógena para esse sentimento.
O erotismo cutâneo tem papel especial num masoquista. A pele assume esse papel de uma maneira muito complicada e sinuosa apenas quando vários elementos de desapontamento coincidem.
Só o medo de ser abandonado se baseia diretamente no medo que surge quando se perde o contato de pele com a pessoa amada. A síndrome do masoquista (que inclui a perversão) se relaciona com a pele: ser beliscado, esfregado com escovas, chicoteado, amarrado, qualquer coisa que faça a pele sangrar.
A intenção original não é um desejo de dor. O objetivo de ser chicoteado não é de sofrer dor; antes, a dor é suportada por causa da queimação. Fisiologicamente, a tensão interna é determinada pela restrição do fluxo sanguíneo. Por outro lado, o forte fluxo sanguíneo pela periferia do corpo ativa a tensão interna e, em consequência, a base fisiológica da angústia.
Ser abandonado no mundo significa ter frio e ficar desprotegido; isto é uma condição intolerável de tensão.  A combinação especial de erotismo cutâneo, aliado ao medo de ser abandonado, que procura resolução através de contato corporal, é característica específica do masoquismo.
O caráter masoquista não pode tolerar elogios e tende para a autodestruição e a auto-humilhação. Tende a sentir-se estúpido ou a agir como estúpido.
Toda estrutura neurótica tem um distúrbio genital que, de uma forma ou de outra, provoca a estase sexual e assim fornece à neurose sua fonte de energia.
O caráter masoquista gera uma quantidade excessiva de desprazer, e isso proporciona uma base real para seu sentimento de sofrimento.
O conflito entre o desejo sexual e o medo de punição é central em toda neurose. Não há processo neurótico sem esse conflito.
Para a terapia do masoquismo é importante que o analista penetre as barricadas de caráter do cliente, ajudando-o a superar a tendência de fazer uso de seu sofrimento para provar que o terapeuta está errado. A revelação de sua natureza sádica é o primeiro passo e o mais urgente – o sadismo original subjacente – aquele que carrega a angústia de castração.
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sexta-feira, 20 de março de 2015

Dissociações



Dissociação é um mecanismo de defesa que se caracteriza pela REMOÇÃO da consciência, de uma memória relacionada a uma experiência traumática esmagadora para o sujeito. O impacto do trauma é tal que a pessoa separa os pensamentos e as emoções relacionadas ao acontecimento, apagando-os da memória. Pode ter sido um acidente, a perda de um ser amado, uma situação de abuso (mental, emocional, violência física ou mesmo sexual). Assim, toda dissociação relaciona-se com um grau de AMNÉSIA.
Freud percebeu a dissociação psíquica logo nos primórdios da Psicanálise. Na evolução de sua teoria, evidenciou que o processo dissociativo estava na base da histeria, das obsessões, das fobias e também das psicoses de defesa. Com base em estudos atuais, sabe-se que Anna O., a famosa paciente de Freud e Breuer, era sobretudo dissociativa. Contudo, Freud deu preferência à linha da repressão para fundamentar seus estudos sobre a histeria.
Há diversos graus de dissociação, que vão desde uma simples despersonalização até um transtorno de personalidade múltipla polifragmentada. O problema com a questão das personalidades múltiplas é o sensacionalismo que se criou á sua volta, levantando inclusive a dúvida de que realmente exista. Exemplos tornados famosos foram os casos de Eve (pseudônimo de Christine C. Sizemore) e Sybil (pseudônimo de Shirley A. Mason), dramatizados em filmes.
Os processos dissociativos funcionam como uma adaptação em primeiro plano, para lidar com situações desestabilizadoras, onde a intensidade do fluxo emocional é intensa. Nesses casos, as dissociações são egossintônicas e consideradas normais. Hoje, sabe-se que os glicocorticoides secretados durante experiências traumáticas podem desativar o hipocampo, tornando impossível que a memória episódica (a memória de estar lá) seja colocada em primeiro plano. Assim, essa memória pode estar perdida para sempre.
O uso da dissociação como mecanismo primário de defesa só é possível em pessoas que tem uma forte predisposição à autohipnose, de outro modo outras defesas primárias serão ativadas.  Terapeutas experientes tem encarado a dissociação como uma síndrome de estresse crônico pós-traumático com origem na infância. Uma criança com tendência a ter amigos imaginários ou criar identidades fantasiosas, pode ter mais facilidade para se refugiar em um mundo interno secreto, quando aterrorizada ou acometida por trauma emocional. São pessoas normalmente brilhantes e criativas.
Terror, horror e vergonha estão entre as emoções que provocam dissociação em qualquer situação traumática. A estas, pode-se acrescentar raiva, excitação e culpa. Entre os estados físicos, incluem-se dor intolerável e excitação sexual confusa. Quanto mais emoções em conflito, mais o campo se torna fértil para uma dissociação. Uma vez instalada na psique, a dissociação passa a ser uma defesa automática. O que começou como uma forma de adaptação termina por se tornar um elemento de regulação dos afetos, na idade adulta.
No trabalho clínico temos a oportunidade de testemunhar a ativação de um trauma há muito adormecido. A pessoa pode ver um filme com cenas de abuso, por exemplo, e ter seu próprio trauma revivido. Em outros casos, a pessoa começa a lembrar da situação traumática quando um filho ou criança próxima chega à idade que ele mesmo tinha quando sofreu a experiência dolorosa. Às vezes, basta um acontecimento fortuito para ativar a dissociação, como levar um tombo, sentir um odor, visitar locais onde viveu na infância... Enfim, são inúmeras as situações.
Um fenômeno dissociativo bastante estudado é a DESPERSONALIZAÇÃO, que consiste num distanciamento de si mesmo, onde a pessoa se sente um observador externo dos seus próprios processos mentais ou físicos. É uma experiência comum, como uma busca de adaptação do organismo em meio a um fator de estresse. O indivíduo necessita de uma pausa para se recompor e, assim, se abastecer para continuar as atividades. Estatísticas demonstram que esses sintomas acometem cerca de 70% das pessoas. Contudo, quando os sintomas são contínuos ou muito severos um diagnóstico preciso se faz necessário, uma vez que a despersonalização é comumente associada a outros transtornos mentais.
Em 1988, Benett Braun elevou o conceito de dissociação ao status de categoria superordenada quando propôs a seguinte conceitualização: BASK (behavior/affect/sensation/knowledge), cuja tradução ao português nos dá: comportamento - afeto - sensação - conhecimento. É possível dissociar numa ou em todas estas esferas. Pode-se dissociar: o comportamento, em uma paralisia; o afeto, ao recordar um trauma sem senti-lo; uma sensação, como na memória corporal de abuso; o conhecimento, como nos casos de fuga amnésica. Esse modelo de Benett coloca a depressão como subsidiária da dissociação, como também outros fenômenos até então considerados histéricos ou de natureza conflitiva intrapsíquica.
A experiência, durante a infância, que dá origem à maior parte das dissociações é o abuso, seja de que tipo for. A desestabilização das famílias, o crescimento das adições, o aumento das cenas de violência nos meios de comunicação são alguns exemplos pertinentes ao quadro da atual humanidade. Mas, sabemos que abusos acontecem desde sempre, através dos tempos. A análise de casos particulares remete, por vezes, a abusos sofridos pelos progenitores e seus ascendentes, evidenciando um padrão hereditário. Pactos de silêncio estão na raiz desses padrões, um tipo de conspiração familiar sistêmica empenhada em negar sentimentos, esquecer a dor e agir como se nada tivesse acontecido (ou esteja acontecendo).
Para mais informações sobre este tema sugerimos os seguintes autores: Nancy McWilliams, Benett Braun, Richard Chefetz e R. J. Loewenstein.

Bernizete Gouvea – psicanalista           bernizetegouvea.blogspot.com.br


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

relaxamento1

Exercício de relaxamento baseado nas técnicas de visualização criadora. Indicado para pessoas que tem dificuldade em relaxar ou meditar sozinhas. Para aqueles que padecem de ansiedade, recomendamos praticá-lo antes de dormir.

Boa prática!





terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Sabotador Interno: O Lado Psicótico do Ego


Desde Freud, passando por K. Abraham, R. Sterba, Fairbain, Winnicott, Bion e vários outros, evidenciou-se a presença de um lado psicótico do ego, cindido, parte integrante de qualquer pessoa considerada normal.

Essa realidade interna do ego foi detalhadamente estudada por algumas filosofias consideradas de cunho místico, como a budista, a tibetana e a gnóstica. Elas afirmam que o ego é multifacetado, contendo áreas profundamente inconscientes, que funcionam contra o próprio indivíduo. Dessa forma, e com base nisso, essas filosofias construíram toda uma didática para a “morte do ego”, com exercícios meditativos que objetivam o desenvolvimento de estados alterados de consciência, para assim “viajar” aos recônditos mais profundos da mente e compreender essas construções psíquicas.
Na psicanálise, parte-se do princípio de que essa parte do ego é fruto de cisões que aconteceram desde o nascimento, é algo inconsciente, que não reconhecemos em nós, a princípio.

Bion denominou de “parte psicótica da personalidade” a esse lado patológico de nós mesmos. Rosenfeld nomeou-a de “gangue narcisista”, pelo fato desta organização intimidar o restante do ego sadio. B. Joseph chamou-a de “pseudo-cooperativa”, pois ela faz de tudo para que o indivíduo não tenha acesso à sua parte doente. Uma observação interessante partiu de J. Steiner, quando afirmou que mesmo o lado sadio do ego está de acordo com o lado patológico, havendo entre eles uma relação perversa e viciosa, com a finalidade de permanecerem inalterados.

David Zimerman usa o termo contra-ego para referir-se a esta parte patológica da personalidade, considerando-a uma subestrutura intra-ego, que se organiza, segundo ele, como “uma oposição às partes sadias e verdadeiras do ego, embora algo frágeis, a partir do princípio de que são essas partes do ego que levam o sujeito a um estado de sofrimento, desamparo e humilhação”.

Segundo Zimerman, encontram-se no contra-ego os elementos que provocam o fracasso do processo analítico:

a)      Medo de perder a própria identidade;
b)      Medo da aniquilação, de se desintegrar;
c)       Medo de afrouxar as defesas e submergir na posição depressiva;
d)      Medo paranoico de mergulhar no desconhecido;
e)      Inveja do sucesso do analista;
f)       Sentimentos de culpa;
g)      Sentimentos de vergonha;
h)      Sentimentos de vulnerabilidade, por conta das próprias limitações.

O lado doente do ego é multifacético. Compõe-se de distintos “eus”, cada um com sua característica própria. Vejamos algumas: sabotagem; reclamação, polêmica e reivindicações constantes, retaliação e mutilação, perversão, repetição de padrões (crenças arraigadas e nunca questionadas), vitimização, nivelamento por baixo.
O contra-ego engloba os receios de –novamente – ser enganado, traído e humilhado, mobilizando recursos defensivos e ofensivos para evitar isso. Assim, ele sabota oportunidades de crescimento.
Normalmente, esses inimigos internos são tratados como amigos pela parte sadia do ego, que favorece a construção de barreiras, bloqueios e toda uma série de defesas para que os conteúdos reprimidos não venham à tona. É importante que nos conscientizemos dessas condutas prejudiciais, pois elas são autolimitantes ao extremo, causando-nos atrasos em vários setores: pessoal, profissional, de relacionamentos, etc.

A auto-observação é um começo muito bom. Através do desenvolvimento deste recurso psíquico podemos perceber a atuação da parte psicótica de nós mesmos e passar e entender certos padrões inconscientes sob os quais funcionamos. Mas, pela profundidade e complexidade do tema, aconselhamos a busca e orientação de um bom terapeuta.  


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Mitologia Hindu: Considerações sobre o Inconsciente


Com base no que encontramos na Filosofia/Mitologia Hindu, concluímos o seguinte:
a)    Os deuses são partes de nós, eternos, imortais, mantendo-se inalterados em nossas vidas sucessivas ou reencarnações. Deus, ou os Deuses, estão dentro de nós, em nosso Inconsciente Individual, mas também têm sua expressão fora de nós, no Inconsciente Coletivo.

b)    O Inconsciente é mais amplo do que possamos imaginar, abarcando muitas dimensões ou universos paralelos. Possui ordem e lei. Isso é válido tanto para o Inconsciente Individual como para o Coletivo.

c)    O Inconsciente é habitado por outras expressões, além dos deuses, em padrões de consciência que desconhecemos. Essas “formas de vida” têm vontade própria e têm relação com os elementos da natureza: fogo, água terra e ar. Podem ser do “bem” ou do “mal”, isto é, existem em várias escalas vibracionais.

d)    A energia psíquica não fica circunscrita ao Inconsciente Individual, mas circula através das mentes, ou do Inconsciente Coletivo. Nossos inconscientes se penetram e se influenciam mutuamente.

e)    A Filosofia/Mitologia Hindu se mostra prática, colocando à disposição dos interessados, exercícios psicofísicos para elevação do nível vibratório dos corpos (afirma que possuímos 6 corpos além do físico, que não os vemos por estarem situados em outras dimensões) e conseqüente melhoria dos estados de consciência, possibilitando a percepção de outros planos de existência por experiência direta.

f)     Afirma que há duas sendas no processo de evolução do ser humano: uma descendente e outra ascendente. A primeira é de densificação, de experimentação do mais denso, como um mergulho nas dimensões mais pesadas do universo. A segunda é de sutilização, de retorno ao princípio criador, destinada àqueles que não querem mais participar da Roda do Samsara, ou Ciclo de Reencarnações. 

Uma emoção ou um pensamento viaja através do espaço-tempo e afeta, positiva ou negativamente, outras formas de vida, sejam elas minerais, vegetais, animais, humanas ou sobrehumanas (deuses ou demônios).
As mais recentes descobertas da Física Quântica, que leva em consideração o intercâmbio interdimensional, já era conhecida dos antigos Rishis hindus. Basta ler os “Yoga-Sutras”, de Patanjali , sob o olhar treinado de Tamni, para ver isso.
A Mitologia/Filosofia hindu é completa, como um círculo fechado. É um sistema psicológico, cósmico, científico, religioso, artístico, sociológico, fenomenológico, místico, etc. Está tudo lá.
Impressiona o fato de que são colocadas à disposição do indivíduo, chaves práticas para alcançar níveis mais profundas de consciência.
A unidade múltipla perfeita no sistema hindu impressiona, pois se encaixa em qualquer conceito religioso.
A Mitologia hindu e sua inseparável filosofia, é profundamente psicanalítica. Absorve o ser humano e sua conduta, indo além, colocando possibilidades de evolução ao nível cósmico. Isso porque vê o ser humano de forma multidimensional, inserido num plano coerente, coletivo ao mesmo tempo (somos unidades de um corpo maior, como células). A energia sutil (Chi, Prana, Orgone, ou seja lá como queiramos chamá-la) não fica restrita ao indivíduo e seu inconsciente, mas viaja pelo espaço-tempo afetando outros seres.
Toda a Mitologia/Filosofia hindu se baseia na busca de um pensamento ideal, capaz de levar a planos mais sutis de consciência. Isso significa que é possível expandir nossa percepção, que é o mesmo que tornar consciente o Inconsciente, em níveis inimagináveis.
Aqui cabe explicar ou lembrar a noção do que seja o Inconsciente na Mitologia hindu. Ele é abrangente, multidimensional e é habitado por várias formas de vida, desconhecidas para nós, em nosso nível de freqüência vibratória. Nesses universos paralelos vivem civilizações, povos, sejam humanos ou não. Estão aqui e agora, só que em outros níveis vibratórios.
Os mantras são muito úteis para criar ressonância com esses universos. Tudo vibra no Universo. A vida vibra e a Mitologia/Filosofia hindu, prática como ela só, nos dá ferramentas maravilhosas para acessar esses outros universos, que estão dentro de nós e fora de nós.
Como já dizia Hermes, assim como é abaixo é acima, como é acima é abaixo. Também é oportuno citar o Templo de Delfos, com sua famosa e significativa expressão: “Homem, conhece-te a Ti Mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses”.
Essa é a psicanálise que o presente e o futuro nos reservam. Acredito que essa releitura da Mitologia/Filosofia hindu é um dos caminhos que pode nos conduzir a uma nova etapa da Psicanálise, a um conhecimento mais profundo e amplo do que seja o Inconsciente e suas possibilidades.




A Trindade Hindu e seu Desdobramento Feminino


BRAHMA, o Deus Criador, aparece de manto branco, montado num ganso ou num cisne. Possui quatro cabeças, das quais nasceram os Vedas, que ele leva nas mãos junto com um cetro e vários outros símbolos. É o Pai Celestial, Criador dos céus e da terra. Decresceu em importância com a ascensão de Shiva e Vishnu.
SHIVA, o Destruidor, apresenta-se de várias formas: o extremado asceta; o matador de demônios envolvido por uma serpente e com uma coroa de crânios na cabeça; o Senhor da Criação a dançar num círculo de fogo ou o símbolo masculino da fertilidade. Shiva é a representação do Espírito Santo, no hinduísmo.
VISHNU, o Conservador, traz em geral quatro símbolos: um disco, um búzio, uma maçã e uma flor de lótus. Sempre que a humanidade precisa de ajuda, esse deus benevolente aparece na Terra como um avatara ou reencarnação. É o equivalente hindu do Cristo.
Da trindade masculina origina-se uma trindade feminina: Brahma – Sarasvati; Vishnu – Lakshmi; Shiva – Parvati.
Segundo a tradição, os aspectos femininos surgiram de um encontro entre Brahma, Vishnu e Shiva, ocorrido logo após a criação. Desolados, entreolhavam-se os três quando, de súbito, ali apareceu uma belíssima donzela. Espantados, perguntaram-lhe de onde viera, e ela respondeu que se originara do fogo contido nos seus olhares recíprocos. Essa mesma donzela transformou-se, a seguir, em três, constituindo dessa maneira a trindade feminina.
A polaridade feminina dos deuses é o receptáculo, o aspecto da natureza indispensável à manifestação. Convém relembrar, entretanto, que os três aspectos masculinos e os três femininos são facetas de uma mesma realidade, una, indivisível, que os transcende, compondo essa realidade básica representada por Brahman.
Brahma, Shiva e Vishnu são os controladores da natureza material, e agem basicamente em três formas ou modos (gunas). Quando há criação, construção, geração, procriação, etc., a natureza material age no modo da paixão (rajas). Quando há estabilidade, manutenção, preservação, equilíbrio, sustentação, a natureza material age sob o modo da bondade (satva). E quando há destruição, dissolução, desgaste, devastação, declínio, etc., a natureza age sob o modo da ignorância (tamas). Brahma, Shiva e Vishnu são os “guna-avataras”, ou seja, as encarnações responsáveis, por cada um desses três modos da natureza material.


BRAHMA

Brahma é o Criador do Universo. É a Inteligência Criadora, a Mente Cósmica.
Brahma tem quatro cabeças e está sentado num cisne (Hamsa). Suas quatro cabeças representam as quatro direções e também os quatro Vedas. Possui um desdobramento feminino, Sarasvati, sua consorte.
Em suas quatro mãos, Brahma sustenta um lótus, os Vedas, um vaso contendo amrita e abhaya mudra. O lótus representa a pureza, os Vedas o conhecimento sagrado, o amrita é o néctar da imortalidade e abhaya mudra abençoa com destemor.
Brahma é o primeiro deus da Trindade hindu. É considerado a representação da força criadora.  Quando um Universo está para ser criado, Brahma aparece montado numa flor de lótus que brota do umbigo de Vishnu e assim recria todo o universo.
No Brahmananda Purana há uma descrição poética sobre a maneira como Brahma criou o mundo. É dito, nesta escritura, que Brahma criou e recriou o mundo inúmeras vezes. Ninguém sabe quantos mundos existiram antes deste, ou quantos virão depois. O texto fala das quatro Eras ou Yugas, que juntas formam um Kalpa e que no fim de cada Kalpa a criação é destruída e volta ao seu estado transicional como um caos aquoso.
Depois, o texto narra a maneira como os seres foram gerados. Diz o Upanishad que, enquanto Brahma meditava, nasciam seres da sua mente. Ele assumiu um corpo feito de escuridão, e do seu reto saiu um vento – assim nasceram os demônios. Então Brahma descartou este corpo de escuridão e este se tornou a Noite.
Brahma assumiu um novo corpo, feito basicamente de bondade e luz. Da sua boca saíram agora os deuses brilhantes, ou devas. Ele descartou esse corpo, que se transformou no Dia.
Ele assumiu um terceiro corpo, que era todo feito de satva. Brahma estava tendo pensamentos ternos sobre pais e filhos, mãe e filhas, e assim nasceram os espíritos ancestrais. Estes espíritos surgem no crepúsculo e na aurora, quando Dia e Noite se encontram. Brahma, então, descartou este corpo e assumiu um quarto, feito de energia emitida pela sua mente. Com esses pensamentos, os seres humanos, as criaturas pensantes, foram criados. Então, ele descartou esse corpo, que se transformou na Lua.
Brahma teve um pensamento muito estranho, enquanto assumia um quinto corpo, feito de energia e escuridão, o que o levou a emitir criaturas horríveis que queriam devorar o mar primordial do caos; eram os ogros. Brahma ficou tão perturbado com esta última criação que todos os cabelos de sua cabeça caíram. Estes cabelos se transformaram em todas as criaturas que rastejam sobre seus ventres, as serpentes e outros répteis.
Brahma ainda estava perturbado com a criação dos ogros e, tomado de pensamentos tenebrosos, criou os horríveis Gandharvas, ou ghouls (demônios que devoram cadáveres).
A essa altura, Brahma havia recuperado sua compostura e começado a ter pensamentos agradáveis. Sua mente voltou ao tempo feliz e pacífico da sua juventude. Neste estado de felicidade, os pássaros foram criados. Agora, do corpo de Brahma, muito mais surgiu: mamíferos, plantas e outras formas de vida.
As qualidades que todos os seres vivos possuem hoje são o produto dos pensamentos de Brahma durante a hora de seu nascimento, e essas características permanecerão constantes enquanto durar o mundo atual.
Depois que Brahma cria o universo, ele permanece em existência por um dia de Brahma, que vem a ser aproximadamente 4 320 000 000 (1 Kalpa), de acordo com a cosmogonia hindu. Quando Brahma vai dormir, ao findar este ciclo, o mundo e tudo que nele existe começa a se dissolver. Quando ele acorda de novo, ele recria toda a criação, e assim sucessivamente, até que se completem 100 anos de Brahma (Maha-Kalpa). Para rever esses dados, consulte a primeira parte deste trabalho, no ítem “Os Princípios do Dharma, ítem “O Múltiplo”, pags.11 e 12.
Brahma é pouco cultuado na Índia. Não há muitas lendas a seu respeito, acreditamos que devido à sua proximidade de Brahman, o incorpóreo, que lhe confere grande abstração. Há apenas um templo dedicado a ele, no Lago Pushkar, em Ajmer.


SHIVA

Shiva compõe, com Brahma e Vishnu, a Trindade hindu. É considerado pelos seus adeptos como o aspecto principal da realidade trina.
Umas das muitas lendas a respeito de Shiva conta que, certa vez, Vishnu e Brahma discutiam a respeito de quem seria superior ao outro, quando, repentinamente, surgiu entre eles uma coluna de luz. Os dois suspenderam a disputa e concordaram em pesquisar a origem de tão estranha aparição. Brahma revestiu-se com a sua forma tradicional de um ganso (Hamsa) e voou, tal uma flecha, em busca do topo da coluna de luz. Durante mil anos subiu com a velocidade da um raio de sol até que, sem forças e sem esperança de encontrar o fim de tão estranha luz, notou que, lá no alto, vinha descendo e revoluteando caprichosamente, a pequena pétala de uma flor. Ao passar perto de Brahma, a pétala diz-lhe que vinha caindo há milênios, desde a época em que se havia desprendido da cabeça de Shiva. Ao ouvir Brahma relatar o fato, Vishnu tomou a forma de um javali e, imediatamente, com as suas formidáveis presas, começou a cavar o solo a fim de encontrar a base do pilar. Tudo em vão. Nesse momento, Shiva manifestou-se materialmente diante de Brahma e Vishnu, com mil braços e pernas, o sol, a luz e o fogo como seus três olhos, a cabeça rodeada por uma guirlanda de serpentes. Disse então com voz retumbante: “Oh, inconscientes, ambos nasceram de mim! Nós três somo um, embora apareçamos como Brahma, Vishnu e Shiva”.  Ao ouvir isso, conta a tradição, Vishnu e Brahma curvaram-se diante de Shiva, num culto silencioso que reconhecia sua grandeza.
As diferentes formas pelas quais Shiva se apresenta chocam muitas vezes as pessoas menos avisadas. Encontram-se imagens de aspecto sereno, outras de aspecto atemorizador nas quais esse deus é simbolizado como o poder de destruição da Natureza. Sob esse ponto de vista, Shiva é considerado o Senhor dos crematórios, e suas estátuas o apresentam ornado de crânios e coberto pelas cinzas dos mortos. Sendo o aspecto renovador de Deus, Shiva é representado dinamicamente e, como tal, o melhor símbolo para representá-lo está contido na dança. Dançando, Shiva representa a Divindade em sua manifestação; dissolve as formas antigas, integrando-as no grande Todo, de modo que qualquer coisa de novo resulte desse esforço contínuo.  A tradição fala de 108 danças executadas por Shiva, que estão representadas no tempo de Chidambaram, na Índia. Misticamente, Shiva está no fundo de nossos corações. Lá se desenrola essa dança constante.
Na Mitologia hindu, Shiva é o renovador ou transformador, que destrói para construir algo novo. Possui várias representações, sendo “Pashupati” (o Senhor dos Animais) a mais antiga, datando de cerca de 4.000 anos a.C. Atribui-se a Shiva a criação do Yoga, que é uma disciplina tântrica. 
Shiva também é chamado de Mahadeva (Deus Supremo), Shankara ( o meditante),  Shambhu (o benevolente) e Nataraja (o dançante).
O tridente que aparece nas muitas representações de Shiva é o trishula. É com essa arma que ele destrói a ignorância nos seres humanos. Suas três pontas representam as três qualidades da matéria: tamas ( inércia), rajas ( movimento) e satva (equilíbrio).
A serpente em volta da cintura e do pescoço simboliza que Shiva domina a morte.  No Yoga, a serpente representa a Kundalini, o fogo que reside adormecido na base da coluna, no Chacra Muladhara. Quando esta energia sexual é despertada, ela sobe pela coluna, ativando os Chacras e acordando os hipersentidos, produzindo estado de hiperconsciência.
No topo da cabeça de Shiva se vê um jorro d'água; é o Rio Ganges (Ganga). Há uma lenda que diz que o Ganges era um rio muito violento e não podia descer à Terra pois a destruiria com a força do impacto. Então, os homens pediram a Shiva que ajudasse e ele permitiu que o rio tão logo saísse do Mundo Espiritual, caísse primeiro sobre sua cabeça, amortecendo o impacto e depois, mais tranqüílo, corresse pela Terra.
O Lingan, ou Linga, é o símbolo fálico de Shiva, a energia criadora masculina que está presente na origem do universo. Na Mitologia hindu, reverenciar o lingan é o mesmo que adorar a Shiva. A base do lingan representa o Yoni, o útero, mostrando que a criação se dá com a união do masculino com o feminino.
O tambor representa o som da criação do universo - OM.  É com o som desse tambor que Shiva marca o ritmo do universo e o compasso de sua dança. Se ele parar de tocar, todo o universo se desfaz.
Shiva está intimamente associado ao fogo, pois esse elemento representa a transformação. Shiva nos incita à transformação por meio do fogo do Yoga.
Shiva, por vezes, aparece montado em um Touro branco, chamado Nandi. O touro está associado às forças telúricas e à virilidade. Também representa a força física e a violência. Montar o touro branco, significa dominar a violência e controlar sua própria força.
Também notamos a presença da Lua, em algumas imagens de Shiva. A lua representa, além da ciclicidade da natureza, as emoções e humores, incluindo os inconscientes.  Usar uma lua crescente nos cabelos simboliza que Shiva está além das emoções, não se afetando por elas. As transformações pelas quais passamos na vida são necessárias ao nosso aperfeiçoamento e crescimento interior. Querer as mudanças, aceitá-las e aprender com elas é estar em harmonia com nosso Shiva interior.
Como Nataraja, Shiva aparece como o rei dos dançarinos. Ele dança dentro de um círculo de fogo, símbolo da renovação e com sua dança cria, conserva e destrói o universo. A dança de Shiva é o eterno movimento do universo. Em uma das mãos, ele segura o tambor em forma de ampulheta com o qual marca o ritmo cósmico e o fluir do tempo. Na outra, traz uma chama, símbolo da transformação e da destruição de tudo que é ilusório. As outras duas mãos fazem mudras (gestos); a direita faz abhaya, um gesto  de proteção e bênção; a esquerda representa a tromba de um elefante, símbolo da remoção de obstáculos. Com seu pé direito, pisa sobre as costas do demônio da ignorância interior; o esquerdo, no ar, representa o equilíbrio e o impulso de ascensão. A base sobre a qual se sustenta o Shiva Nataraja é uma flor de lótus, símbolo do mundo manifestado.

Shiva nos convida a vencer a ignorância interior, a nos transformar, a dominar nossos instintos primários. Uma de suas representações é Pashupati, o Senhor das Feras. Ali, os quatro animais ao seu redor são o tigre, o elefante, o rinoceronte e o búfalo. Esses animais representam o orgulho, a força bruta, o ódio e a sexualidade desenfreada. Pashupati, então, é também aquele que domou suas feras interiores, suas emoções e convive sabiamente com elas.
Uma lenda hindu, contida no Shiva Purana, conta que os deuses estavam em luta com os demônios, e como não estavam conseguindo vencê-los, foram pedir auxílio a Shiva. Este lhes disse: "Eu sou o Senhor dos Animais (Pashupati). Os corajosos titãs só poderão ser vencidos se todos os deuses e outros seres assumirem sua natureza de animal”. Os deuses hesitaram pois achavam que isso seria uma humilhação. E Shiva falou novamente: "Não é uma perda reconhecer seu animal (a espécie que corresponde no mundo animal ao princípio que cada deus encarna no plano universal). Apenas aqueles que praticam os ritos dos irmãos dos animais (Pashupatas) podem ultrapassar sua animalidade." Assim, todos os deuses e titãs reconheceram que eram o rebanho do Senhor e que ele é conhecido pelo nome de Pashupati, O Senhor dos animais.
A função do nosso Shiva interior é matar o que não serve mais à nossa evolução e renascer para um novo ciclo de consciência. O processo cósmico é a morte e a ressurreição, a eterna renovação da vida.

As cinco atividades divinas de Shiva são:

- a criação contínua do universo, originada no ritmo;
- a conservação baseada no equilíbrio e na medida dos movimentos;
- a destruição das formas já superadas, mediante o fogo interior;
- a eterna renovação;
- a encarnação da vida.


VISHNU

Vishnu representa a bondade, e é responsável pela sustentação, proteção, e manutenção do universo. Ele está presente em cada átomo da criação, bem como no coração de todos os seres. 

A palavra Vishnu significa "aquele que tudo penetra", ou "aquele que tudo impregna".

Vishnu, em pé, sobre um lótus ou uma serpente, representa o sábio indicando a busca do conhecimento. Possui quatro braços, tendo em cada mão um lótus (o conhecimento que sustenta a pureza da mente), um disco (a destruição da ignorância e dos apegos), uma concha (a origem da existência, os cinco elementos) e uma arma, a massa (o poder do conhecimento, o poder do tempo).
Enquanto a ordem prevalece no universo, Vishnu dorme. O universo surge do sonho de Vishnu. Mas quando há desequilíbrio no universo, Vishnu se utiliza de seu veículo, Garuda, e guerreia com as forças do caos, ou ele envia um de seus avatares (ou encarnações) para salvar o mundo.

Vishnu é o Logos manifestado, o Cristo, o Deus que encarna em forma humana a fim de se tornar um Salvador de almas.
Segundo a tradição, Vishnu se reencarna periodicamente entre os homens como um Avatar. A figura de avatar indica que os hindus têm bem presente a necessidade de uma comunicação especial para cada estágio da evolução humana. Segundo a teoria dos Avatares, Vishnu já desceu à terra nove vezes,  faltando uma para completar suas dez encarnações. 
Na tradição hindu relatada nos Puranas, o tempo é dividido em Yugas (Eras). A Yuga é um ciclo com duração determinada que corresponde à tradição das Idades existentes no Ocidente. A primeira é Krita e está relacionada à Idade de Ouro, uma época em que a Lei Divina é perfeitamente respeitada pelos homens, portanto não há doenças, ódios ou guerras. A segunda Yuga denomina-se Treta e corresponde à Idade de Prata. Nela começam as doenças, os ódios e as lutas. A terceira Yuga é a Dvapara, Idade de Bronze, onde os valores espirituais decaem ainda mais. Por fim, temos a quarta Yuga, chamada Kali, também conhecida como Idade de Ferro, sendo o pior período da humanidade, em termos de cumprimento da Lei Divina.
Vishnu, como segundo aspecto divino, encarna periodicamente nessas Yugas a fim de auxiliar a manifestação. A tradição aponta as seguintes encarnações  de Vishnu:
Matsya:
Veio em forma de peixe, quando um dilúvio cobriu quase todos os lugares da Terra. Dos seres humanos só restou Manu. Certa ocasião, quando Manu fazia suas abluções, um pequeno peixe disse-lhe: “Eu te salvarei!” E aconselhou Manu a construir um grande barco e não temer a inundação que se aproximava. Quando a inundação aconteceu o peixe conduziu o barco a um local seguro. Matsya, o peixe, salvara o sétimo Manu, o pai da raça humana.
Kurma:
Vishnu veio, na segunda vez, na forma de uma tartaruga, com a finalidade de levantar a terra, que se encontrava submersa pelo dilúvio. Ela se colocou no fundo do oceano e das suas costas elevou-se a montanha Mandara.
Varaha:
É o javali, que com sua imensa força eleva as terras acima das águas.
Narasinha:
O avatar agora é um ser meio homem, meio leão, simbolizando o estágio semi-selvagem que o homem vivia. Esse homem primitivo, que ainda recentemente povoava a face da Terra, não teria capacidade de compreender a mensagem divina em sua pureza total. O instrutor, portanto, aparecia sob uma forma capaz de sensibilizar o coração dos seres humanos da época.
Vamana:
O anão. Simboliza a perda de estatura física e psicológica dessas raças primitivas. Apesar disso, Vishnu está presente para auxiliar a raça humana. Todos os cinco avatares descritos aparecem na primeira Yuga.
Parasurama:
É o primeiro avatar da Treta Yuga.
Rama:
É o personagem herói, filho do rei Dasaratha, de Ayodhya, cujas aventuras estão relatadas no Ramayana, que se desenvolve em pleno Dvapara Yuga.
Krishna:
Este é o avatar cuja morte se dá no início da Kali Yuga, havendo muitas semelhanças com a vida de Jesus, o Cristo. Note-se que Krishna é anterior a Jesus.
Buddha:
O príncipe Sidarta, da Corte dos Sakyas, que abandona todas as riquezas para se tornar iluminado.
Kalki:
É o avatar que virá no fim da Kali Yuga, anunciando o fim do ciclo.