quinta-feira, 3 de abril de 2014

Os Mandamentos do Yoga: Yamas e Niyamas (Parte II)


Continuando com nosso tema, vamos explicar agora os Niyamas.

Como afirmamos anteriormente, Niyamas são observâncias ou regras de vida. São em número de cinco, como segue.


SAUCHA:

Saucha significa purificação e deve ser compreendido nos níveis físico, emocional e mental.

Pureza física diz respeito à higiene do corpo, tanto interna como externa. Não basta manter o corpo limpo por fora, mas também deve-se limpá-lo por dentro, purificando-o de toxinas. Para isso existem muitos métodos. No Yoga, trabalhamos com os Kriyas, exercícios especiais de limpeza interna que alcança o nível energético.

A purificação emocional está intimamente associada à devoção a Deus, ao cultivo do amor consciente. O amor ao divinal limpa o indivíduo de sentimentos negativos de ira, ódio, luxúria, cobiça, orgulho, etc.

Uma boa limpeza emocional se consegue, por exemplo, escutando música clássica, fazendo passeios em bosques e praticando meditação.

No aspecto mental, deve-se cultivar o bom humor, praticar técnicas de concentração, evitar contato com pessoas más e buscar o silêncio sempre que possível. Isso trará a serenidade necessária à mente.

 

SANTOSHA:

Quer dizer contentamento. Estar alegre, em paz, traz um tremendo bem-estar ao indivíduo. A alegria brota espontaneamente na pessoa que anda de acordo com os preceitos da consciência.

Para se conseguir santosha é preciso aprender a não se identificar com as diversas circunstâncias da vida. Uma pessoa que não se afeta com facilidade vai se tornando serena, emanando paz de seu interior. Isso trará uma progressiva descomplicação no decorrer de sua vida, pois uma pessoa genuinamente alegre e serena é facilmente amada e querida por todos.

No livro “Yoga e Consciência”, de Antonio Renato Henriques, pág. 181, encontramos o seguinte: “Santosha (o contentamento) é algo que surge espontânea e necessariamente como conseqüência do progresso no Yoga. A alegria própria do Santosha não é aqueça dos desejos satisfeitos, ao contrário, surge ela de um deleite do ser consigo mesmo, a partir de um desapego dos frutos da ação e de uma indiferença em relação às circunstâncias. Possui santosha aquele que mantém seu ritmo e sua alegria interior num ambiente de guerra ou paz, num clima de chuva ou sol. O yogue é um homem feliz e em paz, pois sua profunda alegria não se desfaz segundo as circunstâncias. O contentamento atua como uma armadura protetora que não permite que o ser sucumba diante dos revezes. Tal alegria atua também de modo irradiante, incluindo as tristezas alheias sob suas asas protetoras. Como disse La Ferriére: se não pudermos estar sempre alegres, podemos ao menos estar sempre em paz. Isto significa que, mesmo quando a miséria do mundo não consegue assimilar a alegria do yogue, pode ao menos ser receptiva a sua paz. Santosha é uma benção do alto a todos aqueles que perseverem no Caminho, e demonstra que o Yoga deve ser praticado com responsabilidade porque sendo um processo acelerado de crescimento, deve se dar sem violentações, de modo natural”.

 

TAPAS:

O termo “tapas” significa queimar, arder, brilhar, consumir pelo calor. Assim, Tapas diz respeito a austeridade e disciplina, imprescindíveis para o triunfo, seja material ou espiritual.

Existem muitos tipos e graus de austeridade.  Patanjali afirma: “O auto-esforço produz a destruição das impurezas e a conseqüente perfeição do corpo e dos sentidos”. Todo aquele que aspira a níveis de consciência mais profundos deve submeter-se a uma disciplina espiritual, a uma série de exercícios e meditações. Em nosso caso particular, tratamos de conhecimento de técnicas orientais, de tipo yogue.

Yengar diz que: “Pelo Tapas o yogue desenvolve a força do corpo, da mente e do caráter. Ganha coragem e sabedoria, integridade, rápido progresso e simplicidade”.

 

SYADHYAYA:

A palavra “svadhyaya” quer dizer ida para dentro de si mesmo. Indica a auto-reflexão em busca do autoconhecimento. Baseado nesta noção, o aspirante leva tudo que aprende à reflexão. Toda teoria que aprendeu ou estuda é direcionada ao enriquecimento interior. A praticidade é um elemento constante neste niyama, pois nenhum estudo é feito, nenhuma nova teoria é aprendida, se não for em função do autoconhecimento.

Svadhyaya induz a um estudo meditativo. Seu praticante busca refletir sobre a essência contida nos livros sagrados (Bíblia, Alcorão, Tao Te King, Pistis Sofia, etc.) sem perder o contato com sua realidade interior. Essa disciplina dá vida a tudo que estudamos.

Aqueles que apenas lêem sem compreender o que lêem estão perdendo tempo. Teorias não podem realizar mudanças em nosso interior, mas a reflexão profunda pode. Os conhecimentos adquiridos só tem valor se estiverem encadeados a um objetivo superior. Saber por saber é apenas encher a mente de informações e nada mais.

 

ISHVARA-PRANIDHANA:

Este termo sânscrito significa “depositar diante do Senhor”. Refere-se à ação desinteressada.

Ação desinteressada quer dizer sem apego ao fruto das obras, ofertando-as a Deus, fonte única de tudo.

O desapego só se faz possível mediante a eliminação do egoísmo e o desenvolvimento do amor. Através da meditação podemos chegar à compreensão profunda destas questões, mesmo porque uma pessoa apegada a coisas, pessoas e valores de personalidade, dificilmente crescerá espiritualmente. A renúncia é um fator indispensável no caminho espiritual autêntico. Renunciar não é viver na miséria, privando-se de tudo, mas é ofertar tudo a Deus, desapegar-se, não sofrer se tiver que abrir mão de algo.

Não esperar recompensas pelo bem praticado é uma atitude sábia que traz paz interior e amadurecimento psíquico.

O verdadeiro desapego só advém por compreensão, maturidade psicológica. Existem graus e graus de desapego, desde o campo material, passando pelo emocional até o mental.

Uma pessoa pode não ter apegos fortes a bens materiais, mas pode tê-los bem arraigados a pensamentos, conceitos, regras de vida, etc.

A entrega a Deus é um elemento devocional resultante da compreensão. Como diz Yengar, no verdadeiro amor não há lugar para divisões, pois quando desaparece o sentimento do meu e do teu, a alma atinge sua maturidade.

               

Yamas e Niyamas: Os Mandamentos do Yoga (parte I)

Yama e Niyama formam a base moral do Yoga e se assemelham aos preceitos de muitas religiões e escolas filosóficas.
O termo “yama” significa controle, domínio. Representa os refreamentos necessários para se alcançar os estágios mais elevados da disciplina yogue.
Aclaramos que, sendo o Yoga amoral, as normas de comportamento ou Yamas destinam-se apenas a auxiliar no controle da mente e ajudar na obtenção da iluminação espiritual.

Os Yamas são em número de cinco:

1)      AHIMSA (não-violência)
2)      SATYA (veracidade)
3)      ASTEYA (abstenção do roubo)
4)      BRAHMACHARYA (abstenção do sexo)
5)      APARIGRAHA (não-possessividade)

O termo “niyama” quer dizer observância ou regra de vida, referindo-se às normas de conduta que se aplicam à disciplina individual. Os Niyamas também são em número de cinco, conforme segue abaixo:

1)      SAUCHA (purificação)
2)      SANTOSHA (contentamento)
3)      TAPAS (austeridade)
4)      SVADHYAYA (auto-reflexão)
5)      ISHVARA-PRANIDHANA (ação desinteressada)

Vejamos cada um separadamente:

AHIMSA:
Ahimsa significa não-violência, não-reação, possuindo um sentido amplo de amor. Esse amor estende-se a toda a Criação. Segundo esse yama, destruir uma coisa ou um ser é insultar ao Criador.
A violência é fruto do medo, da fraqueza, da ignorância e da inquietação. Para se praticar o Ahimsa é preciso superar o medo. Isso é possível mudando-se de atitude perante a vida e reorientando a mente. O fortalecimento da fé e a superação da ignorância fazem a violência diminuir de intensidade.
O ahimsa prega o perdão e isso significa receber com agrado todas as manifestações desagradáveis de nossos semelhantes. Esse esforço por perdoar leva ao aperfeiçoamento espiritual.
Devemos nos opor ao mal e não às pessoas más. É possível estabelecer corretivos para erros cometidos sem chegar à prática da violência. O amor deve acompanhar a oposição ao mal, pois tal oposição, sem amor, gerará violência.
Toda e qualquer luta contra o mal é vencida quando o amor é o eixo  de cada atitude. O amor é a energia mais poderosa que existe no Universo.
A prática do ahimsa nos liberta do medo e da ira.
Gandhi foi um grande exemplo de ahimsa. Ele libertou a Índia através da prática deste preceito. Ele disse: “O auto-sacrifício de um único homem é milhões de vezes mais poderoso do que o sacrifício de homens que morrem matando outros”.

SATYA:
Satya, ou verdade, é a mais elevada regra de conduta. A verdade purifica quem a busca e a pratica. Uma pessoa mentirosa jamais crescerá espiritualmente, pois a verdade brota de Deus.
Precisamos cultivar a verdade em todos os níveis e aspectos: palavras, pensamentos e obras.
Segundo o Yoga, há quatro pecados da língua: a) Abuso e obscenidade; b) Afirmar falsidades; c) Caluniar ou fazer intrigas; e d) Ridicularizar o que é sagrado para outros.
Se queremos nos libertar do mal, devemos aprender a controlar a língua. Como diz a Bíblia, livro sagrado dos cristãos, perigoso não é o que entra pela boca, mas o que sai dela. O nível de controle da língua está na razão direta do AUTOCONTROLE.
Quem cultiva a verdade possui um alto magnetismo, inspirando respeito e admiração entre os outros. O êxito lhe chega, suas necessidades são supridas sem que necessite correr atrás delas, pois a verdade é seu escudo e sua proteção. Observe a vida prática e notará que isso é um fato. Quem vive segundo os preceitos da Verdade aproxima-se de Deus e permite que Ele atue em sua vida. Pratique a Verdade e contemple as mudanças positivas que se darão em sua vida.

ASTEYA:
Significa não-roubar. Abarca dois sentidos: abster-se de tomar bens ou objetos alheios e, também, não suar o que pertence a outros sem permissão. Desta forma, Asteya refere-se à apropriação indevida, má administração e abuso de confiança.
Asteya ensina a diferença que há entre desejo e necessidade. Há muitas coisas que usufruímos por desejo, acreditando tratar-se de uma necessidade. A vida moderna está baseada na cultura cumulativa, onde vale mais quem tem mais, seja material ou intelectualmente.
Aquele que está em processo de amadurecimento espiritual percebe que o apego aos bens é desnecessário e vai, pouco a pouco, se libertando do desejo de posse. Os desejos dão nascimento à cobiça e esta destrói a paz e a tranqüilidade.
Aclaramos que o crescimento espiritual não é sinônimo de miséria material. O equilíbrio é básico em todas as coisas. A questão fundamental é a ausência de desejos, que nos dá discernimento e qualidade de espírito.

BRAHMACHARYA:
A palavra “brahmacharya” quer dizer caminhar com Brahma. Refere-se ao celibato temporário, onde o indivíduo aprende a dominar a energia sexual para, posteriormente, dedicar-se ao Tantrismo.
Hoje em dia, o Brahmacharya é mal compreendido. Não basta ser celibatário, é necessário dar uma direção positiva à energia criadora e isso é possível por meio de ásanas e pranayamas (posturas de yoga e exercícios respiratórios).
A abstenção sexual é destinada a aumentar o potencial energético e a concentração da mente. A energia sexual é sagrada para os hindus, tendo uma grande importância no processo de crescimento espiritual.

APARIGRAHA
Significa não-acúmulo. Refere-se à renúncia ao sentimento de posse e à ambição por bens materiais.
É um preceito a ser seguido por aqueles que vêm seu caminho de vida indo na direção da espiritualidade.
Aclaramos que o Yoga não é contra a posse de bens e sim contra o sentimento de posse. Isso se deve a que tal sentimento impede que se alcance o Samadhi (Iluminação).

Para tornar o conceito mais claro, citamos B.K.S.Yengar, em sua obra “A Luz da Ioga”, págs. 36 e 37: “Pela observância da aparigraha, o iogue torna sua vida tão simples quanto possível e treina sua mente para não se ressentir da perda de coisa alguma. Então tudo aquilo que ele realmente necessitar virá a ele por si só, e na hora certa. A vida de um homem comum está repleta de uma série interminável de perturbações, de frustrações e de suas reações a elas. Assim, dificilmente existe qualquer possibilidade de manter a mente num estado de equilíbrio. O sadhaka desenvolveu a capacidade de ficar satisfeito com o que quer que lhe aconteça. Assim conquista a paz que o leva além dos reinos da ilusão e da miséria de que nosso mundo está saturado”.