Continuando com nosso tema, vamos explicar agora os Niyamas.
Como afirmamos anteriormente, Niyamas são observâncias ou
regras de vida. São em número de cinco, como segue.
SAUCHA:
Saucha significa purificação e deve ser compreendido nos
níveis físico, emocional e mental.
Pureza física diz respeito à higiene do corpo, tanto interna
como externa. Não basta manter o corpo limpo por fora, mas também deve-se
limpá-lo por dentro, purificando-o de toxinas. Para isso existem muitos
métodos. No Yoga, trabalhamos com os Kriyas, exercícios especiais de limpeza
interna que alcança o nível energético.
A purificação emocional está intimamente associada à devoção
a Deus, ao cultivo do amor consciente. O amor ao divinal limpa o indivíduo de
sentimentos negativos de ira, ódio, luxúria, cobiça, orgulho, etc.
Uma boa limpeza emocional se consegue, por exemplo, escutando
música clássica, fazendo passeios em bosques e praticando meditação.
No aspecto mental, deve-se cultivar o bom humor, praticar
técnicas de concentração, evitar contato com pessoas más e buscar o silêncio
sempre que possível. Isso trará a serenidade necessária à mente.
SANTOSHA:
Quer dizer contentamento. Estar alegre, em paz, traz um
tremendo bem-estar ao indivíduo. A alegria brota espontaneamente na pessoa que
anda de acordo com os preceitos da consciência.
Para se conseguir santosha é preciso aprender a não se
identificar com as diversas circunstâncias da vida. Uma pessoa que não se afeta
com facilidade vai se tornando serena, emanando paz de seu interior. Isso trará
uma progressiva descomplicação no decorrer de sua vida, pois uma pessoa
genuinamente alegre e serena é facilmente amada e querida por todos.
No livro “Yoga e Consciência”, de Antonio Renato Henriques,
pág. 181, encontramos o seguinte: “Santosha (o contentamento) é algo que surge espontânea
e necessariamente como conseqüência do progresso no Yoga. A alegria própria do
Santosha não é aqueça dos desejos satisfeitos, ao contrário, surge ela de um
deleite do ser consigo mesmo, a partir de um desapego dos frutos da ação e de
uma indiferença em relação às circunstâncias. Possui santosha aquele que mantém
seu ritmo e sua alegria interior num ambiente de guerra ou paz, num clima de
chuva ou sol. O yogue é um homem feliz e em paz, pois sua profunda alegria não
se desfaz segundo as circunstâncias. O contentamento atua como uma armadura
protetora que não permite que o ser sucumba diante dos revezes. Tal alegria
atua também de modo irradiante, incluindo as tristezas alheias sob suas asas
protetoras. Como disse La Ferriére: se não pudermos estar sempre alegres,
podemos ao menos estar sempre em paz. Isto significa que, mesmo quando a miséria
do mundo não consegue assimilar a alegria do yogue, pode ao menos ser receptiva
a sua paz. Santosha é uma benção do alto a todos aqueles que perseverem no
Caminho, e demonstra que o Yoga deve ser praticado com responsabilidade porque
sendo um processo acelerado de crescimento, deve se dar sem violentações, de
modo natural”.
TAPAS:
O termo “tapas” significa queimar, arder, brilhar, consumir
pelo calor. Assim, Tapas diz respeito a austeridade e disciplina,
imprescindíveis para o triunfo, seja material ou espiritual.
Existem muitos tipos e graus de austeridade. Patanjali afirma: “O auto-esforço produz a
destruição das impurezas e a conseqüente perfeição do corpo e dos sentidos”. Todo
aquele que aspira a níveis de consciência mais profundos deve submeter-se a uma
disciplina espiritual, a uma série de exercícios e meditações. Em nosso caso
particular, tratamos de conhecimento de técnicas orientais, de tipo yogue.
Yengar diz que: “Pelo Tapas o yogue desenvolve a força do
corpo, da mente e do caráter. Ganha coragem e sabedoria, integridade, rápido
progresso e simplicidade”.
SYADHYAYA:
A palavra “svadhyaya” quer dizer ida para dentro de si
mesmo. Indica a auto-reflexão em busca do autoconhecimento. Baseado nesta
noção, o aspirante leva tudo que aprende à reflexão. Toda teoria que aprendeu
ou estuda é direcionada ao enriquecimento interior. A praticidade é um elemento
constante neste niyama, pois nenhum estudo é feito, nenhuma nova teoria é
aprendida, se não for em função do autoconhecimento.
Svadhyaya induz a um estudo meditativo. Seu praticante busca
refletir sobre a essência contida nos livros sagrados (Bíblia, Alcorão, Tao Te
King, Pistis Sofia, etc.) sem perder o contato com sua realidade interior. Essa
disciplina dá vida a tudo que estudamos.
Aqueles que apenas lêem sem compreender o que lêem estão
perdendo tempo. Teorias não podem realizar mudanças em nosso interior, mas a
reflexão profunda pode. Os conhecimentos adquiridos só tem valor se estiverem
encadeados a um objetivo superior. Saber por saber é apenas encher a mente de informações
e nada mais.
ISHVARA-PRANIDHANA:
Este termo sânscrito significa “depositar diante do Senhor”.
Refere-se à ação desinteressada.
Ação desinteressada quer dizer sem apego ao fruto das obras,
ofertando-as a Deus, fonte única de tudo.
O desapego só se faz possível mediante a eliminação do egoísmo
e o desenvolvimento do amor. Através da meditação podemos chegar à compreensão
profunda destas questões, mesmo porque uma pessoa apegada a coisas, pessoas e
valores de personalidade, dificilmente crescerá espiritualmente. A renúncia é
um fator indispensável no caminho espiritual autêntico. Renunciar não é viver
na miséria, privando-se de tudo, mas é ofertar tudo a Deus, desapegar-se, não
sofrer se tiver que abrir mão de algo.
Não esperar recompensas pelo bem praticado é uma atitude
sábia que traz paz interior e amadurecimento psíquico.
O verdadeiro desapego só advém por compreensão, maturidade
psicológica. Existem graus e graus de desapego, desde o campo material,
passando pelo emocional até o mental.
Uma pessoa pode não ter apegos fortes a bens materiais, mas
pode tê-los bem arraigados a pensamentos, conceitos, regras de vida, etc.
A entrega a Deus é um elemento devocional resultante da
compreensão. Como diz Yengar, no verdadeiro amor não há lugar para divisões,
pois quando desaparece o sentimento do meu e do teu, a alma atinge sua
maturidade.