(1)GRODDECK (1866-1934)- Médico e Psicanalista, Pai da
Psicossomática
Georg W. Groddeck nasceu
em 13 de Outubro de 1866, na Alemanha, e morreu em maio de
1934, perto de Zurich.
Formou-se em medicina, e foi muito
influenciado por seu professor, Ernest Schwenninger, que via a alopatia com reservas. Groddeck
ressaltava sempre o grau de intoxicação por remédios, com que chegavam seus
pacientes. Seu sistema de trabalho incluía massagens especiais, dietas e banhos
de água quente, ao que acrescentou, numa segunda fase, seu procedimento
analítico. Groddeck é considerado o pai da psicossomática.
Freud deve o conceito de ID a Groddeck. Em 1921, Groddeck escreveu
um livro expondo suas idéias sobre o “ISSO”. Este livro foi publicado pela
primeira vez em 1923. É uma obra de agradável leitura, consistente, que fala
sobre o homem e seu mundo, e o real subjacente às suas atitudes. Aqui entra o
ISSO, que permeia todas as reflexões do autor.
Esta obra, "O Livro d’Isso", está estruturada em forma de cartas,
uma correspondência regular entre Patrik Troll e uma amiga. Ele
vai explicando o que é o Isso e como ele influencia as ações humanas. Embora
seja uma obra de quase 100 anos de idade, podemos perceber a atualidade da
mesma, no que concerne à análise psicanalítica. Passo a passo, ou, carta a
carta, ele vai explicitando sua teoria. Vale lembrar que muitas de suas
conclusões coincidem com a teoria freudiana, antes mesmo de conhecê-la.
Groddeck acabou lendo Freud e se tornando seu discípulo.
Groddeck fala que chegou à psicanálise por causa de uma
paciente. Ele percebia nela uma “mistura estreita do que se convencionou chamar
de manifestações físicas e psíquicas”, mas na época não sabia como ajudá-la. O
que era claro para ele: “havia entre eu e a paciente misteriosas relações que a
preparavam para ter confiança em mim. (...) Só mais tarde é que percebi a
verdade: aquilo era fruto da transferência, e ela, a Srta. G, via em mim sua
mãe. (...) A atitude infantil – e, como se verificou mais tarde, de uma
criança de três anos – que ela havia adotado diante de mim me obrigou a
representar o papel da mãe. Certas forças maternas de meu Isso foram
despertadas por essa paciente e orientaram meu modo de proceder".
A citada paciente tirou Groddeck de sua zona de conforto, e
ele fala o seguinte sobre isso:
“E de repente me via numa situação singular: não era eu quem
tratava da paciente, era ela que me tratava. Colocando as coisas na minha
linguagem: o Isso de meu próximo procura transformar meu Isso, consegue de fato transformá-lo de
modo a poder utilizá-lo em seus objetivos.
Tomar consciência desse estado de coisas era algo que
apresentava grandes dificuldades; é que desse modo minhas relações com a
paciente ficavam alteradas. Não se tratava mais de lhe prescrever cuidados que
eu considerava que lhe deviam ser benéficos, mas de me apresentar tal como a
paciente precisava que eu fosse. Mas da tomada de consciência à execução das
conseqüências havia uma distância enorme! (...) Estou irremediavelmente perdido
no que diz respeito às atividades de guia e salvador; evito dar conselhos,
esforço-me por suprimir toda resistência de meu inconsciente ao Isso dos
doentes e a seus desejos; sinto-me feliz fazendo assim, consigo algumas curas e
eu mesmo estou muito bem. (...) Tenho a
impressão de que o mais difícil na vida é deixar-se ir, observar e seguir a voz
dos Issos, tanto em relação ao próximo quanto em relação a si mesmo. Mas vale a
pena. Aos poucos, voltamos a ser crianças e você sabe: aqueles que não se
tornam criancinhas não entrarão no reino dos céus. A gente deveria renunciar a
“ser adulto” desde os vinte e cinco anos; até aí, precisamos disso para
crescer, mas depois disso a coisa só é útil para os raros casos de ereção. Não
lutar contra o amolecimento, não esconder mais de si do que aos outros esse
relaxamento, essa flacidez, esse estado de avacalhação, é isso que precisava
ser feito. Mas somos como aqueles soldados de falo de madeira de que lhe falei
outro dia...”
Por hoje basta. Da próxima vez continuo a citar Groddeck. O
livro é muito interessante, mas pede leitura lenta, com pausas para reflexão.