segunda-feira, 24 de junho de 2013

Uma Introdução a Groddeck: Pai da Psicossomática


(1)GRODDECK (1866-1934)- Médico e Psicanalista, Pai da Psicossomática

Georg W. Groddeck  nasceu em 13 de Outubro de 1866, na Alemanha, e morreu em maio de 1934, perto de Zurich.

Formou-se em medicina, e foi muito influenciado por seu professor, Ernest Schwenninger,  que via a alopatia com reservas. Groddeck ressaltava sempre o grau de intoxicação por remédios, com que chegavam seus pacientes. Seu sistema de trabalho incluía massagens especiais, dietas e banhos de água quente, ao que acrescentou, numa segunda fase, seu procedimento analítico. Groddeck é considerado o pai da psicossomática.

Freud deve o conceito de ID a Groddeck. Em 1921, Groddeck escreveu um livro expondo suas idéias sobre o “ISSO”. Este livro foi publicado pela primeira vez em 1923. É uma obra de agradável leitura, consistente, que fala sobre o homem e seu mundo, e o real subjacente às suas atitudes. Aqui entra o ISSO, que permeia todas as reflexões do autor.

Esta obra, "O Livro d’Isso", está estruturada em forma de cartas, uma correspondência regular entre Patrik Troll e uma amiga. Ele vai explicando o que é o Isso e como ele influencia as ações humanas. Embora seja uma obra de quase 100 anos de idade, podemos perceber a atualidade da mesma, no que concerne à análise psicanalítica. Passo a passo, ou, carta a carta, ele vai explicitando sua teoria. Vale lembrar que muitas de suas conclusões coincidem com a teoria freudiana, antes mesmo de conhecê-la. Groddeck acabou lendo Freud e se tornando seu discípulo.

Groddeck fala que chegou à psicanálise por causa de uma paciente. Ele percebia nela uma “mistura estreita do que se convencionou chamar de manifestações físicas e psíquicas”, mas na época não sabia como ajudá-la. O que era claro para ele: “havia entre eu e a paciente misteriosas relações que a preparavam para ter confiança em mim. (...) Só mais tarde é que percebi a verdade: aquilo era fruto da transferência, e ela, a Srta. G, via em mim sua mãe. (...) A atitude infantil – e, como se verificou mais tarde, de uma criança de três anos – que ela havia adotado diante de mim me obrigou a representar o papel da mãe. Certas forças maternas de meu Isso foram despertadas por essa paciente e orientaram meu modo de proceder".

A citada paciente tirou Groddeck de sua zona de conforto, e ele fala o seguinte sobre isso:

“E de repente me via numa situação singular: não era eu quem tratava da paciente, era ela que me tratava. Colocando as coisas na minha linguagem: o Isso de meu próximo procura transformar  meu Isso, consegue de fato transformá-lo de modo a poder utilizá-lo em seus objetivos.

Tomar consciência desse estado de coisas era algo que apresentava grandes dificuldades; é que desse modo minhas relações com a paciente ficavam alteradas. Não se tratava mais de lhe prescrever cuidados que eu considerava que lhe deviam ser benéficos, mas de me apresentar tal como a paciente precisava que eu fosse. Mas da tomada de consciência à execução das conseqüências havia uma distância enorme! (...) Estou irremediavelmente perdido no que diz respeito às atividades de guia e salvador; evito dar conselhos, esforço-me por suprimir toda resistência de meu inconsciente ao Isso dos doentes e a seus desejos; sinto-me feliz fazendo assim, consigo algumas curas e eu mesmo estou muito bem.  (...) Tenho a impressão de que o mais difícil na vida é deixar-se ir, observar e seguir a voz dos Issos, tanto em relação ao próximo quanto em relação a si mesmo. Mas vale a pena. Aos poucos, voltamos a ser crianças e você sabe: aqueles que não se tornam criancinhas não entrarão no reino dos céus. A gente deveria renunciar a “ser adulto” desde os vinte e cinco anos; até aí, precisamos disso para crescer, mas depois disso a coisa só é útil para os raros casos de ereção. Não lutar contra o amolecimento, não esconder mais de si do que aos outros esse relaxamento, essa flacidez, esse estado de avacalhação, é isso que precisava ser feito. Mas somos como aqueles soldados de falo de madeira de que lhe falei outro dia...”

Por hoje basta. Da próxima vez continuo a citar Groddeck. O livro é muito interessante, mas pede leitura lenta, com pausas para reflexão.

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