quinta-feira, 3 de abril de 2014

Yamas e Niyamas: Os Mandamentos do Yoga (parte I)

Yama e Niyama formam a base moral do Yoga e se assemelham aos preceitos de muitas religiões e escolas filosóficas.
O termo “yama” significa controle, domínio. Representa os refreamentos necessários para se alcançar os estágios mais elevados da disciplina yogue.
Aclaramos que, sendo o Yoga amoral, as normas de comportamento ou Yamas destinam-se apenas a auxiliar no controle da mente e ajudar na obtenção da iluminação espiritual.

Os Yamas são em número de cinco:

1)      AHIMSA (não-violência)
2)      SATYA (veracidade)
3)      ASTEYA (abstenção do roubo)
4)      BRAHMACHARYA (abstenção do sexo)
5)      APARIGRAHA (não-possessividade)

O termo “niyama” quer dizer observância ou regra de vida, referindo-se às normas de conduta que se aplicam à disciplina individual. Os Niyamas também são em número de cinco, conforme segue abaixo:

1)      SAUCHA (purificação)
2)      SANTOSHA (contentamento)
3)      TAPAS (austeridade)
4)      SVADHYAYA (auto-reflexão)
5)      ISHVARA-PRANIDHANA (ação desinteressada)

Vejamos cada um separadamente:

AHIMSA:
Ahimsa significa não-violência, não-reação, possuindo um sentido amplo de amor. Esse amor estende-se a toda a Criação. Segundo esse yama, destruir uma coisa ou um ser é insultar ao Criador.
A violência é fruto do medo, da fraqueza, da ignorância e da inquietação. Para se praticar o Ahimsa é preciso superar o medo. Isso é possível mudando-se de atitude perante a vida e reorientando a mente. O fortalecimento da fé e a superação da ignorância fazem a violência diminuir de intensidade.
O ahimsa prega o perdão e isso significa receber com agrado todas as manifestações desagradáveis de nossos semelhantes. Esse esforço por perdoar leva ao aperfeiçoamento espiritual.
Devemos nos opor ao mal e não às pessoas más. É possível estabelecer corretivos para erros cometidos sem chegar à prática da violência. O amor deve acompanhar a oposição ao mal, pois tal oposição, sem amor, gerará violência.
Toda e qualquer luta contra o mal é vencida quando o amor é o eixo  de cada atitude. O amor é a energia mais poderosa que existe no Universo.
A prática do ahimsa nos liberta do medo e da ira.
Gandhi foi um grande exemplo de ahimsa. Ele libertou a Índia através da prática deste preceito. Ele disse: “O auto-sacrifício de um único homem é milhões de vezes mais poderoso do que o sacrifício de homens que morrem matando outros”.

SATYA:
Satya, ou verdade, é a mais elevada regra de conduta. A verdade purifica quem a busca e a pratica. Uma pessoa mentirosa jamais crescerá espiritualmente, pois a verdade brota de Deus.
Precisamos cultivar a verdade em todos os níveis e aspectos: palavras, pensamentos e obras.
Segundo o Yoga, há quatro pecados da língua: a) Abuso e obscenidade; b) Afirmar falsidades; c) Caluniar ou fazer intrigas; e d) Ridicularizar o que é sagrado para outros.
Se queremos nos libertar do mal, devemos aprender a controlar a língua. Como diz a Bíblia, livro sagrado dos cristãos, perigoso não é o que entra pela boca, mas o que sai dela. O nível de controle da língua está na razão direta do AUTOCONTROLE.
Quem cultiva a verdade possui um alto magnetismo, inspirando respeito e admiração entre os outros. O êxito lhe chega, suas necessidades são supridas sem que necessite correr atrás delas, pois a verdade é seu escudo e sua proteção. Observe a vida prática e notará que isso é um fato. Quem vive segundo os preceitos da Verdade aproxima-se de Deus e permite que Ele atue em sua vida. Pratique a Verdade e contemple as mudanças positivas que se darão em sua vida.

ASTEYA:
Significa não-roubar. Abarca dois sentidos: abster-se de tomar bens ou objetos alheios e, também, não suar o que pertence a outros sem permissão. Desta forma, Asteya refere-se à apropriação indevida, má administração e abuso de confiança.
Asteya ensina a diferença que há entre desejo e necessidade. Há muitas coisas que usufruímos por desejo, acreditando tratar-se de uma necessidade. A vida moderna está baseada na cultura cumulativa, onde vale mais quem tem mais, seja material ou intelectualmente.
Aquele que está em processo de amadurecimento espiritual percebe que o apego aos bens é desnecessário e vai, pouco a pouco, se libertando do desejo de posse. Os desejos dão nascimento à cobiça e esta destrói a paz e a tranqüilidade.
Aclaramos que o crescimento espiritual não é sinônimo de miséria material. O equilíbrio é básico em todas as coisas. A questão fundamental é a ausência de desejos, que nos dá discernimento e qualidade de espírito.

BRAHMACHARYA:
A palavra “brahmacharya” quer dizer caminhar com Brahma. Refere-se ao celibato temporário, onde o indivíduo aprende a dominar a energia sexual para, posteriormente, dedicar-se ao Tantrismo.
Hoje em dia, o Brahmacharya é mal compreendido. Não basta ser celibatário, é necessário dar uma direção positiva à energia criadora e isso é possível por meio de ásanas e pranayamas (posturas de yoga e exercícios respiratórios).
A abstenção sexual é destinada a aumentar o potencial energético e a concentração da mente. A energia sexual é sagrada para os hindus, tendo uma grande importância no processo de crescimento espiritual.

APARIGRAHA
Significa não-acúmulo. Refere-se à renúncia ao sentimento de posse e à ambição por bens materiais.
É um preceito a ser seguido por aqueles que vêm seu caminho de vida indo na direção da espiritualidade.
Aclaramos que o Yoga não é contra a posse de bens e sim contra o sentimento de posse. Isso se deve a que tal sentimento impede que se alcance o Samadhi (Iluminação).

Para tornar o conceito mais claro, citamos B.K.S.Yengar, em sua obra “A Luz da Ioga”, págs. 36 e 37: “Pela observância da aparigraha, o iogue torna sua vida tão simples quanto possível e treina sua mente para não se ressentir da perda de coisa alguma. Então tudo aquilo que ele realmente necessitar virá a ele por si só, e na hora certa. A vida de um homem comum está repleta de uma série interminável de perturbações, de frustrações e de suas reações a elas. Assim, dificilmente existe qualquer possibilidade de manter a mente num estado de equilíbrio. O sadhaka desenvolveu a capacidade de ficar satisfeito com o que quer que lhe aconteça. Assim conquista a paz que o leva além dos reinos da ilusão e da miséria de que nosso mundo está saturado”.

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