quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Importância do Efeito Placebo

PLACEBOS: O EFEITO DA CRENÇA
Mesmo superficialmente, todo aluno de medicina aprende que a mente tem influência direta sobre o corpo e sabe que as pessoas se sentem melhor quando pensam (ainda que não seja verdade) que estão tomando medicamentos. A cura ou a melhora pela ingestão de pílulas de açúcar é classificada como “efeito placebo”. Meu amigo Rob Williams, fundador da Psich-K, um sistema psicológico de tratamento com base em energia, sugere que o melhor termo a ser usado nesses casos é “efeito percepção”. Eu prefiro chamar de “efeito-crença” para enfatizar que nossas percepções, sejam elas precisas ou não, têm grande impacto sobre nosso comportamento e nosso corpo.
Considero o efeito-crença uma prova da habilidade de cura da mente/corpo. No entanto, por se tratar de algo que “ocorre apenas na mente”, o efeito placebo tem sido associado pela medicina a algo que só funciona com charlatães ou, na melhor das hipóteses, com, pacientes fracos e sugestionáveis. Mas o assunto é abordado muito rápida e superficialmente nas escolas de medicina. Os professores passam logo às matérias que tratam das verdadeiras ferramentas modernas: as drogas e a cirurgia.
Infelizmente, isso é um grande erro. O efeito placebo deveria ser um dos principais tópicos de estudo para estudantes de medicina. Os médicos deveriam ser treinados para reconhecer o poder de nossos recursos internos, e não para considerar o poder da mente como algo simples e inferior ao poder dos elementos químicos ou de um bisturi. Está na hora de deixarem de lado sua convicção de que o corpo e seus membros são desprovidos de inteligência e que precisamos de elementos externos para manter a saúde.
O efeito placebo deveria ser alvo de pesquisas patrocinadas. Se os pesquisadores descobrissem como utilizá-lo, poderíamos ter uma ferramenta mais eficiente, à base de energia e sem efeitos colaterais, para tratar as doenças. Os profissionais que utilizam a energia como instrumento de cura afirmam já ter essas ferramentas; porém, como cientista, acredito que, quanto mais descobrirmos sobre a ciência do placebo, mais facilmente poderemos utilizá-la sob condições clínicas.
Creio que este desprezo da medicina em relação à mente seja resultado não apenas do pensamento dogmático, mas também de aspectos financeiros. Se o poder da mente pode curar doenças, para que ir ao médico? E o mais importante: por que tomar remédio? Para meu desgosto, descobri recentemente que a indústria farmacêutica vêm estudando os pacientes que reagem ao tratamento com pílulas de açúcar com o objetivo de eliminá-los das experiências médicas. É desconcertante para essas empresas saber que na maioria dos experimentos seus medicamentos “falsos” têm o mesmo efeito que os grandes coquetéis químicos (Greenberg,2003). Embora essas empresas insistam em afirmar que não estão tentando, com isso, fazer com que medicamentos ineficazes sejam aprovados pelo governo, fica claro que a eficácia das pílulas placebo são uma ameaça para elas. A mensagem é muito clara para mim: já que não conseguimos competir com o placebo de maneira honesta, vamos eliminar a competição!
É engraçado pensar que os médicos não são treinados para lidar com o efeito placebo, pois alguns historiadores afirmam categoricamente que a história da medicina é a história do placebo. No início, os médicos não dispunham de métodos eficazes para curar as doenças. Os métodos mais conhecidos no passado eram a sangria, o tratamento de ferimentos com arsênico e o famigerado veneno de cobra, utilizado para todos os fins. É claro que pelo menos um terço dos pacientes, aqueles considerados suscetíveis ao efeito placebo, apresentavam melhoras com esses tratamentos. E, mesmo no mundo de hoje, quando os médicos em seus aventais brancosreceitam medicamentos, os pacientes acreditam que vão melhorar e acabam melhorando, seja por meio de pílulas de verdade ou apenas de açúcar.
Embora a questão de como o placebo age ainda seja ignorada pela medicina, alguns pesquisadores já começam a prestar mais atenção ao assunto. Os resultados de seus estudos sugerem que não apenas os tratamentos utilizados no século 19 como a sofisticada tecnologia da medicina atual, com todas as suas ferramentas “concretas”, pode estimular o efeito placebo.
Um estudo da Escola de Medicina Baylor publicado em 2002 no New England Journal of Medicine avaliou o resultado de cirurgias em pacientes com problemas sérios de dores nos jeolhos (Moseley, et al., 2002). O principal autor do estudo, Dr. Bruce Moseley, “sabia” que a cirurgia ajudava seus pacientes: “Todo bom cirurgião sabe que não há efeito placebo em cirurgias”. Mas ele queria descobrir qual parte da cirurgia trazia alívio aos pacientes. Dividiu-os em três grupos e raspou a região da cartilagem danificada de um grupo. No outro grupo, afastou a junta do joelho e eliminou, com a ajuda de um jato d’água, a parte que imaginava estar causando a inflamação. Os dois métodos são considerados tratamentos-padrão para problemas de artrite nos joelhos. Já no terceiro grupo, Moseley “simulou” uma cirurgia. Sedou o paciente e fez três incisões em seu joelho. Durante todo o tempo agiu como se estivesse realmente executando a cirurgia. Jogou até água sobre o local para simular o procedimento. Após 40 minutos costurou as incisões. Prescreveu aos pacientes dos três grupos o mesmo tratamento pós-cirurgia, que incluía um programa de exercícios.
O resultado foi impressionante. Sim, os grupos que receberam a cirurgia de verdade obtiveram melhoras. Mas o grupo placebo também! A conclusão é que, apesar de serem realizadas mais de 650 mil cirurgias em joelhos com artrite por ano, cada uma delas por cerca de 5 mil dólares, uma coisa ficou muito clara para Moseley, que declarou: “Minhas habilidades de cirurgião não resultaram benefício algum para esses pacientes. O único efeito em todas elas foi o placebo”. Os programas de TV anunciaram os resultados da pesquisa e mostraram imagens do grupo placebo andando, jogando basquete e desempenhando tarefas que não conseguiam antes da “cirurgia”. Só ficaram sabendo que não tinham sido operados de verdade dois anos depois. Um deles, chamado Tim Peres, disse que antes andava com a ajuda de uma bengala, mas que hoje consegue jogar basquete com os netos. Em uma declaração para o Discovery Health Channel, resumiu o tema de seu livro: “Qualquer coisa é possível neste mundo desde que sua mente queira. A mente é capaz de verdadeiros milagres”.
Estudos mostram que o efeito placebo também é eficaz no tratamento de diversas outras doenças como a asma e o mal de Parkinson. Em casos de depressão, já se tornou um dos principais métodos utilizados, algo tão comum que o Dr. Walter Brown, da Brown University School of Medicine, sugere pílulas com açúcar como primeiro tratamento em casos de depressão moderada (Brown,1998). Os pacientes são informados de que estão tomando remédios sem ingredientes ativos, mas isso não atrapalha o tratamento. Pesquisas mostram que mesmo quando eles sabem que estão tomando placebo, o efeito acaba sendo positivo.
Uma indicação do poder do placebo é apresentada em um relatório do Departamento norte-americano de saúde e assistência social. Segundo o documento, metade dos pacientes com depressão profunda que toma medicamentos com ingredientes ativos melhora e 32% daqueles que tomam placebo obtêm os mesmos resultados (Horgan, 1999). Mesmo esse estudo, porém, subestima o poder do placebo, pois muitos participantes da pesquisa percebem que estão tomando um medicamento verdadeiro porque sentem os efeitos colaterais que os os outros, que tomam apenas placebo, não sentem. Então, uma vez acreditando que estão tomando pílulas de verdade, tornam-se ainda mais suscetíveis ao afeito placebo.
Bem, com tantos efeitos positivos do placebo, não é de se surpreender que a indústria de antidepressivos de 8,2 bilhões de dólares esteja sendo acusada de exagerar na propaganda sobre a eficácia de suas pílulas. Em um artigo publicado em 2002 no periódico Prevention & Treatment, da American Psychological Association (Associação Psicológica Americana), “The emperor’s new drugs” (As novas drogas do imperador), o professor de psicologia Irving Kirsch, da Universidade de Connecticut, afirma ter descoberto que 80% do efeito dos antidepressivos, segundo experiências clínicas, pode ser atribuído ao efeito placebo (Kirsch et al,.2002). Kirsch usou a lei de liberdade de informações em 2001 para obter informações sobre as experiências clínicas feitas com os antidepressivos mais utilizados no mercado. Não se trata de dados extraídos do instituto Food and Drug Administration (FDA). Os números mostram que em mais da metade dos casos os antidepressivos não foram mais eficazes que o placebo. Kirsch declarou em uma entrevista para o Discovery Health Channel: “A diferença entre o efeito das drogas e o do placebo foi menos de dois pontos na média da escla clínica, que vai de 50 a 60 pontos. É uma diferença muito pequena, quase insignificante sob o ponto de vista clínico”.
Outro fato interessante sobre o efeito dos antidepressivos é que eles vêm obtendo desempenho cada vez melhor em testes clínicos nos últimos anos, o que sugere que seus efeitos placebo se devem, em grande parte, a estratégias de marketing. Quanto mais os efeitos milagrosos dos antidepressivos são divulgados pela mídia e pela propaganda, mais eficazes eles se tornam. As crenças são contagiosas! Vivemos hoje em uma cultura em que as pessoas acreditam que os antidepressivos funcionam. Por isso eles funcionam.
Uma designer do interior da Califórnia chamada Janis Schonfeld, que participou de um teste clínico sobre a eficácia do medicamento Effexor (venlafaxine) em 1997, ficou tão surpresa quanto Perez ao descobrir que vinha tomando placebo. Os comprimidos não apenas aliviaram a depressão que a incomodava havia 30 anos, como os exames que fez mostraram que a atividade de seu córtex pré-frontal havia aumentado (Leuchter ET AL.,2002). Mas a melhora não foi apenas no cérebro. Quando nossa mente se modifica, o corpo acompanha as mudanças. Schonfeld também sentiu náusea, um efeito colateral bastante comum do Effexor. Como a maioria dos pacientes que melhora após um tratamento com placebo e depois descobre que estava tomando pílulas de açúcar, ela achou que o médico tivesse se enganado. Tinha certeza de que estava tomando o remédio verdadeiro e pediu que fossem refeitos todos os exames para se certificar.


Bruce H. Lipton (A Biologia da Crença, cap 5, págs. 163 a 168)

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