Você conhece alguém que se sente ou se vê socialmente
recusado e pessoalmente temido? Caso sua resposta seja “sim”, você pode estar
diante de um caso de Síndrome de Frankenstein. As pessoas com esta síndrome
sentem-se vítimas de intolerância e preconceito e por isso assumem o
comportamento de “monstros” perante a sociedade, como forma de se defenderem da
agressividade que vem dos outros.
Essas pessoas podem desenvolver vícios, também como forma de
fuga da intensa dor da rejeição. Por vezes aparentam indiferença ao mundo que
as cerca, adotando um estilo de vida fora do padrão, agressivo aos olhos da
maioria. Essas atitudes funcionam como defesas para disfarçar sua real maneira
de ser, comumente pessoas muito sensíveis.
Você se lembra da história de Frankenstein? Vamos dar uma
repassada. Se te interessar, o filme que mais se aproxima do livro é o de 1994,
com Robert De Niro.
Mary Shelley, escritora britânica, é tida como a autora do
livro que narra a história de um monstro criado em laboratório por um engenhoso
estudante de ciências naturais, Vitor Frankenstein. Estudiosos da obra
acreditam que o verdadeiro autor é seu marido (na época, noivo), Percy Bysshe
Shelley. Muitas interpretações são possíveis para a verdadeira mensagem que
traz esta obra, sendo a mais forte delas a intolerância e o preconceito em
relação à homossexualidade.
O título inglês da obra é “Frankenstein: O Novo Prometeu”,
sendo originalmente um romance de terror gótico.
Dito monstro, articulado e eloqüente, fugiu do laboratório
de Vitor, escondendo-se numa floresta, onde aprendeu a comer frutas e vegetais,
e a usar o fogo.
Ao se deparar com seres humanos era sempre escorraçado e
agredido, então, eventualmente, escondeu-se num depósito de lenha anexo a uma
cabana. De lá, observava, através de frestas, a vida de uma família pobre de
ex-nobres, afeiçoando-se a eles e ajudando-os em segredo. A família consistia
de um pai cego e um casal de irmãos. Aprendeu a língua e a escrita espionando
as aulas que davam à noite à noiva árabe do irmão, e encontrou livros onde
aprendeu sobre a vida e a virtude. Após longo tempo, criou coragem para se
apresentar à família, e conseguiu conversar com o pai cego, mas quando os
filhos chegaram e o viram junto ao pai, também o escorraçaram.
A criatura torna-se amargurada e resolve procurar seu
criador, cujo diário descobrira no bolso do casaco que levou do laboratório na
noite da fuga. Por onde passava, era sempre agredido pelos humanos.
Em Genebra, já transtornado por tanta rejeição, começa a
cometer assassinatos. Matou o irmão mais novo de Vitor Frankenstein, deixando
que fosse incriminada uma jovem criada, Justine. Vitor sabia que o monstro era
o culpado e resolveu encontrá-lo num lugar mais afastado. Lá, o monstro dizia
que precisava de uma companhia feminina e exigiu que ele construísse uma fêmea
para ele. Assim, ele deixaria todos em paz e iria viver nas florestas com sua
noiva. Mas, se Vitor não cumprisse o acordo, iria submetê-lo a tormentos de
todo tipo.
Ao voltar para Genebra, Vitor fica noivo de Elizabeth, uma
moça criada junto com ele e amada como uma filha por seu pai. Na Grã-Bretanha,
vai para uma das ilhas do arquipélago Orkneys, onde começa a construir a fêmea.
Mas, ele muda de idéia e destrói a criatura. O monstro jura se vingar e mata
Elizabeth e Clerval, seu melhor amigo. O pai de Vitor também termina por falecer,
pois não suporta a perda de Elizabeth.
Vitor passa a perseguir a criatura, que o leva através de
uma longa caçada em direção ao norte, prosseguindo pelos mares congelados, onde
eventualmente são avistados por um navio e resgatados.
Vitor estava, a essa altura, muito doente, e faleceu alguns
dias depois. O Capitão vê o monstro chorando por ele em seu leito de morte. Ele
diz ao Capitão que vai até o extremo norte e lá iria se suicidar, deixando em
paz a humanidade.
Assim termina a história.
Vemos que o “monstro” é alguém que não teve a oportunidade
de achar seu lugar no mundo. Por ser diferente, era rejeitado e escorraçado,
sem ter chances concretas de expressar quem ele era interiormente. Era julgado
sem misericórdia e, em decorrência disso, terminou desenvolvendo uma amargura,
uma frieza, chegando a cometer assassinatos em diversas ocasiões.
A síndrome de
Frankenstein faz a pessoa padecer de um profundo sentimento de inadequação. O
indivíduo torna-se muito solitário, não se sente parte de lugar nenhum, não se
sente parte da própria família, não é compreendido. Ele desenvolve um mecanismo
de defesa onde cria uma armadura como forma de agressão. Quer mostrar sua
rebeldia, agredindo o outro, por vezes através de atitudes específicas que
sabe, causarão horror nos outros.
Podemos pensar que tal síndrome acontece apenas em “tribos”
específicas, gangues, etc. Não necessariamente. Essa síndrome pode estar
inconscientemente instalada na psique de um bom pai de família, de um filho
aparentemente estável, e só vir à tona sob o efeito de álcool ou drogas. Nestas
condições, podem cometer atos de muita crueldade com membros de sua família ou
vítimas eventuais. Quando passa o efeito da droga, eles voltam “ao normal”.
No processo psicanalítico, podemos nos deparar com tal
síndrome aliada aos medos, ou oculta num comportamento de preguiça, ou
enraizada num complexo de castração, e por aí vai. Comumente, encontramos um
quadro de muitos maltratos, físicos e psicológicos na infância.
A cura? Começa por abrir portas para este indivíduo,
fazendo-o sentir-se convidado a entrar, sentir-se aceito como é. Os demais
passos virão no seu tempo.
Você me indicaria algum livro que fale sobre essa temática do preconceito ?
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