segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Transformando as Representações Mentais


  
                                               TRANSFORMANDO AS REPRESENTAÇÕES MENTAIS

Já faz algum tempo que gostaria de escrever sobre o interessante tema da transformação das impressões mentais.

Outro dia, depois de assistir ao filme “A Caça”, pensei: “É uma boa hora!” Este filme conta a história de um professor que foi injustamente acusado de pedofilia e teve sua vida destruída por causa do julgamento precipitado da comunidade em que vivia: perdeu o emprego, os amigos, o respeito de alguns familiares, a namorada, sofreu muitas humilhações e mesmo agressões morais e físicas, chegou até a ser preso (mas liberado por falta de provas). Ao final, mesmo com a verdade vindo à tona, e a comunidade aceitando-o de volta, ele ficou profundamente marcado por aquela experiência. Nunca mais foi o mesmo, apesar da aparência de normalidade. De fato, não dá para ser a mesma pessoa depois de algo assim, nem ver seus antigos “amigos/agressores” da mesma maneira.

De um lado, as pessoas da comunidade mudaram a representação mental que tinham dele, a partir do momento que aceitaram as fofocas como verdade. De um dia para outro, ele, que era um respeitável membro da comunidade, tornou-se execrável, sendo hostilizado pela quase totalidade das pessoas, dos amigos, dos familiares.

O filme permite muitas reflexões, mas gostaria de ficar neste tópico, pois a vida se processa assim, e isso qualquer um de nós percebe: hoje temos uma impressão, seja das situações ou das pessoas, e isso pode mudar a qualquer momento, de uma hora para outra.  Onde reside a mudança? Em nosso interior, nas representações mentais.

Só para esclarecer: representações mentais são a imagem mental ou as impressões, acompanhadas de um conceito, que temos de situações e pessoas. A todo momento recebemos impressões. Retemos de 2% a 3% delas, na forma de percepções conscientes; as demais são percebidas inconscientemente.

Existem diferentes vias para que isso aconteça, e em várias oitavas também. O mais comum são as situações do diário viver. Na interação social, através do que chamamos “experiências da vida”, vamos alterando essas impressões. Através dos ciclos de idades vamos modificando nossa visão do mundo, como um processo natural de amadurecimento psicológico.  Pela maneira como percebemos os fenômenos da vida, vamos construindo nossos valores. Sabemos que há uma herança que trazemos de nossos antepassados, predisposições que são reforçadas a cada geração. Acresce-se a elas o resultado do meio ambiente, da educação que recebemos, da maneira que somos tratados no meio familiar. Tudo isso deixa “marcas” em nosso psiquismo, uma base sobre a qual nossa vida se desenrola.

Esse conjunto de percepções podemos chamar de crenças, conceitos, preconceitos,  juízos, idéias, etc. São os valores plantados em nós no meio familiar e social. Nenhum de nós escapa de ter tais representações. As comunidades, tribos, etc., se baseiam em tais valores.

Somente depois de uma certa idade (normalmente a partir da adolescência) é que começamos a questionar essa base de valores. Quanto mais equipado for o nosso aparelho psíquico, melhor será nosso potencial de questionamento, de reavaliação e principalmente nosso potencial para lidar com a realidade, aqui e agora.

Assim, vemos que as representações mentais podem ser trabalhadas em duas frentes:

1)      Revendo as impressões cristalizadas, fruto de nosso passado coletivo: crenças, conceitos, preconceitos, valores morais, princípios de vida, aquilo que acreditamos ser a verdade.

2)      Atentando para as impressões que nos chegam a todo momento, a cada instante.

Então, duas necessidades se colocam:

1)      Viver no “aqui e agora”;

2)      Limpar nosso mundo mental de impressões cristalizadas.

Na convivência social não podemos nos desconectar de nossas origens, pois elas nos definem. O que podemos, sim, é questionar até que ponto essa estrutura cristalizada é óbice para nossa evolução como seres humanos. Podemos quebrar a rigidez dos conceitos e permitir mutações em nossa maneira de pensar, criando um movimento nessas estruturas mentais.

Por vezes, uma maneira de pensar já está ultrapassada e se não vemos isso por nós mesmos, a “vida” se encarrega de faze-lo, colocando-nos em situações de confronto. A finalidade é nos levar a uma mudança de mentalidade, uma transformação das representações.

Há valores eternos e há valores temporais. As experiências da vida tendem ao reforço dos valores eternos e à revisão dos valores temporais. Todos que padecem na vida acabam por se render à humildade, solidariedade, respeito, e tantos outros valores anímicos. Mas, para chegar a esses valores precisamos trabalhar os valores temporais, rever conceitos e crenças, quebrar o que foi estruturado durante muitos anos e até mesmo séculos.

Uma pequena circunstância de vida revela muito sobre tais representações mentais. As situações do dia-a-dia são os professores, os guias para essa autodescoberta. O que precisamos é estar no aqui e agora, num estado natural de atenção sobre nós mesmos, para perceber resistências, incômodos, vozes internas, julgamentos, críticas, etc.

A autopsicanálise é indispensável para uma adequada mudança nas representações mentais. Se não questionarmos o que pensamos, como e porque pensamos, nunca vamos nos transformar, nos aperfeiçoar, evoluir.

Prestar atenção a nós mesmos, saber como somos, o que pensamos, o que sentimos é indispensável no processo de evolução humana. Perceber como as impressões que recebemos a cada instante nos afetam, na psique e no corpo é condição fundamental para uma real transformação interior. Além disso, perceber como nos influenciamos mutuamente nesse processo, uma vez que nossas psiques não estão separadas, mas unidas pelo inconsciente.

Observar a nós mesmos é indispensável para descobrir como somos. Prestar atenção a nós mesmos, aqui e agora, a cada instante da nossa vida cotidiana, nos fará descobrir como somos de verdade. Chegará um momento em que começaremos a nos dar conta de padrões repetitivos – as representações mentais. Perceberemos que elas são muitas e de diversos graus, em densidade e profundidade. É neste ponto que começamos a nos relacionar com nosso próprio inconsciente. É aqui que a possibilidade de uma real transformação se dará.

A vida nos chama para mudanças, faz parte dos ciclos da existência. Muito dos sofrimentos pelos quais passamos são consequência da rigidez mental e emocional que se instala em nós pela ausência desse trabalho interior.

O processo da terapia é um caminho maravilhoso para o autoconhecimento. A meditação é a forma mais elevada de autocompreensão, mas se não conseguimos sozinhos, podemos apelar para a ajuda de um terapeuta.

Modificar representações mentais deixa em nós uma sensação muito boa de energia que circula, de vida em movimento. É uma leveza indescritível. Mas é preciso querer passar pelo processo da crisálida para alcançar esse patamar superior.

 

 

 

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