Um dos fenômenos mais ricos nesse
sentido é a SINCRONICIDADE.
a)
Consciência: é um “dar-se conta”, “aperceber-se” de uma
realidade. Jung diz que nossa consciência não se cria a si mesma, mas emana das
profundezas desconhecidas. Desperta gradualmente na infância e, ao longo da
vida sai das profundezas do sono, de um estado de inconsciência.
c) Inconsciente Pessoal: conjunto de todos os conteúdos reprimidos, assim como os instintos e os impulsos que levam à execução de ações comandadas por uma necessidade, mas não por uma motivação consciente (complexos). Esses conteúdos são parte integrante da personalidade individual e poderiam, pois, se tornar conscientes.
d) Inconsciente Coletivo: zona ou faixa psíquica onde estariam as figuras, símbolos e conteúdos arquetípicos de caráter universal, frequentemente expressos em termos mitológicos.
e) Arquétipo: forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. É o modelo inato que serve de matriz para o desenvolvimento da psique. Os arquétipos são as tendências estruturais invisíveis dos símbolos. Criam imagens ou visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente. Também são chamados de imagens primordiais e, segundo Jung, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações.
Diz Jung: “Escolhi o termo
‘sincronicidade’ porque a aparição simultânea dos dois acontecimentos, ligados
pela significação, mas sem relação causal, me pareceu um critério decisivo.
Emprego, pois, aqui, o conceito geral de sincronicidade, no sentido especial de
coincidência, no tempo, de dois ou vários elementos, sem relação causal e que
têm o mesmo conteúdo significativo, ou um sentido similar. Isto não é o mesmo
que sincronismo, cujo significado é apenas o da aparição simultânea de dois
fenômenos”.
A sincronicidade traz em si o
conceito da totalidade, característica do Inconsciente Coletivo. O sentido de
totalidade nos faz perceber que ninguém está isolado, que todos os fenômenos
estão interligados e se influenciam mutuamente. O Inconsciente não é algo
estático, mas possui um dinamismo próprio que objetiva a integração do ego. Ele
usa dos elementos visíveis para que possamos nos conscientizar dos
“invisíveis”, isto é, daquilo que não é óbvio para o ego, que se encontra num
nível inconsciente.
CARACTERÍSTICAS DA SINCRONICIDADE
Como explicar o caso de uma
pessoa que sonha ou tem um pensamento, ou um estado psicológico interior que
coincida com um acontecimento exterior? Quem nunca vivenciou um fenômeno
desses, em que uma coincidência significativa se deu, aparentemente sem
explicação?
São exemplos de sincronicidade:
sonhar com um acontecimento e ver ele se cristalizar no mundo físico, palpável;
querer encontrar alguém e de repente topar com essa pessoa “por coincidência”;
pensar em algo e ver que havia outra pessoa com a mesma idéia...
O fenômeno da sincronicidade
atesta a idéia oriental da unidade de todas as coisas, isto é, estamos todos
mergulhados na chamada “Alma Universal”, daí podemos perceber o que os outros
percebem. Faculdades como a telepatia, protagonista de muitas sincronicidades,
não seriam possíveis sem a evidência dessa totalidade que permeia a vida.
O indivíduo está no todo e o todo
no indivíduo. Hermes Trismegisto, grande sábio da antiguidade, deixou um axioma
que é muito conhecido: “assim como é acima é abaixo, assim como é abaixo é
acima”.
Normalmente, a maior parte das pessoas
têm dificuldade em perceber e aceitar a sincronicidade, bem como outros
fenômenos, porque estão presas ao racionalismo. A percepção da totalidade ou
unidade de todas as coisas é própria do lado criativo, emocional e mesmo
intuicional do ser humano.
R. H. Blyth, erudito em haiku,
disse: “O intelecto pode entender qualquer parte de algo como uma parte, porém
não como um todo; pode compreender qualquer coisa que não seja Deus”.
Não devemos confundir
sincronicidade com sincronia. Um evento sincrônico é qualquer coisa simultânea,
eventos que ocorrem ao mesmo tempo (relógios, horários de ônibus, de aulas em
escola, etc.). Na sincronicidade a “coincidência” tem um sabor especial,
acontecendo de um marco de tempo subjetivo. A pessoa consegue fazer a ligação
de dois episódios, e não é preciso que sejam simultâneos, embora com freqüência
isso aconteça.
Sincronicidade e emocionalidade
estão intimamente associadas. A sincronicidade provoca um estado emocional
transformador. Ao percebermos um evento sincronístico somos tomados de uma
emoção especial, que pode provocar mudanças imediatas em nossos estados de
ânimo, ou mesmo propiciar alteração profunda de comportamentos.
Jung classificou a sincronicidade
em três tipos:
1)
Coincidência entre o conteúdo mental (que pode ser um
pensamento ou um sentimento) e um evento externo. Ex: pensar em alguém e topar
com ele ou ela na rua.
2)
Ter um sonho ou visão que coincide com um acontecimento
que está ocorrendo a certa distância (e isto é comprovado mais tarde). Ex:
premonições e pressentimentos no momento do acontecimento.
3)
Uma pessoa vê uma imagem (como sonho, visão ou
premonição) de algo que ocorrerá no futuro e que então efetivamente acontece.
Ex: visão clarividente ou onírica de acontecimentos futuros.
Na sincronicidade é o
participante que determina (através de sentimentos meramente subjetivos) se as
coincidências são significativas. A sincronicidade é o princípio que Jung
postula como o elo que liga a psique e o evento numa coincidência significativa.
Para Jung, a camada arquetípica
do inconsciente está envolvida em eventos sincronísticos. É no Inconsciente
Coletivo, universal e congênito que se encontram os arquétipos, padrões de
comportamento instintivo, segundo Jung tão numerosos quantas as situações
típicas que houver na vida. A repetição infinita gravou essas experiências
dentro de nossa constituição psíquica. São exemplos de situações arquetípicas:
nascimento, morte, casamento, laços entre mãe e filho, entre pai e filho, as
lutas heróicas, etc.
O Self (si-mesmo) segundo Jung, é
o ponto médio relacionado tanto com o Ego como com o Inconsciente, sem contudo
ser equivalente a nenhum dos dois. O Self corresponde ao Tao oriental. É uma
fonte de energia que impele a pessoa a “tornar-se o que ela é”, conferindo um
sentido de ordem à personalidade. Vejamos o que Jung fala sobre o Self ou
Si-Mesmo: “O si-mesmo é uma realidade ‘sobre-ordenada’ ao eu consciente.
Abrange a psique consciente e a inconsciente, constituindo por esse fato uma
personalidade mais ampla, que também somos... Mas não devemos nutrir a
esperança de chegar a uma consciência aproximada do si-mesmo; por mais
consideráveis e extensas que sejam as paisagens interiores e os setores
apreendidos pela consciência, não desaparecerá à massa imprecisa e uma soma
desconhecida de inconsciência, que também faz parte integrante da totalidade do
si-mesmo. O si-mesmo é o centro e também a circunferência completa que
compreende ao mesmo tempo o consciente e o inconsciente; é o centro dessa
totalidade, como o eu é o centro da consciência”.
Jung afirma que não há nenhuma
evolução linear; há apenas a circum-ambulação do self.
A sincronicidade é o princípio
que faz a ligação entre nossa psique e uma ocorrência exterior, na qual
sentimos uma misteriosa sensação de união entre o ser interior e o ser
exterior. No decorrer da experiência de uma ocorrência sincronística, em vez de
nos sentirmos como entidades separadas, isoladas num vasto mundo,
experimentamos a interligação com os outros e percebemos o universo num nível
profundo e significativo. Essa conexão subjacente é o Inconsciente Coletivo, e
o evento sincronístico é uma de suas manifestações específicas.
PORQUE A SINCRONICIDADE ACONTECE
Como vimos, a sincronicidade é
uma das formas de comunicação do Inconsciente Coletivo, uma das maneiras em que
se expressa no mundo exterior. Ela ocorre dentro da “dança” ou circum-ambulação
descrita por Jung. O Self quer que tomemos consciência da dança ou mutação do
universo interior e que consigamos a integração com ele. É para isso que põe em
ação os eventos sincronísticos.
O que proporciona a mudança
causada pelos eventos sincronísticos são os estados psíquicos de alta
sensitividade. Mudanças de estado emocional proporcionam a elevação do tônus do
inconsciente, criando facilmente um declive em que o inconsciente pode fluir
para o consciente. A consciência cai, então, sob a influência de impulsos e
conteúdos instintivos inconscientes. Geralmente, estes últimos são complexos
cuja base última é o arquétipo.
O inconsciente contém,
igualmente, percepções subliminares, bem como imagens esquecidas na memória que
não podem ser reproduzidas no momento, ou mesmo nunca. Mas, estas imagens
radicadas ou não em bases já existentes, se acham em uma relação significativa,
análoga ou equivalente a acontecimentos objetivos que não tem com eles nenhuma
relação causal reconhecível ou mesmo imaginável.
Há, no inconsciente, uma espécie de conhecimento ou “presença a priori” de acontecimentos, sem qualquer base causal. Jung denominou essa “presença” de “espírito” que, autonomamente, move os arquétipos.
A alma se acha tão desejosa
daquela coisa que ela gostaria de realizar, que escolhe espontaneamente a hora
ou o momento melhor e mais significativo, que rege também as coisas que
concordam melhor com o objetivo de que se ocupa. Aquilo que somos internamente
mobiliza forças para alcançar sua meta.
Jung, em seu livro
“Sincronicidade”, diz: “O fenômeno da sincronicidade é constituído, portanto,
de dois fatores: 1) uma imagem inconsciente alcança a consciência de maneira
direta (literalmente) ou indireta (simbolizada ou sugerida) sob a forma de
sonhos, associação ou premonição; 2) uma situação objetiva coincide com este
conteúdo. Tanto uma coisa como a outra podem, por assim dizer, causar
admiração.
CONCLUSÃO
A sincronicidade é uma das formas
em que o Inconsciente se comunica com o mundo exterior. É um fenômeno especial
e que pode produzir insights no psiquismo humano, na medida em que o indivíduo
permita-se dar vazão à sua emocionalidade.
Fechamos este trabalho sobre a
sincronicidade com as palavras de Jung:
“A emocionalidade da alma humana
constitui (realmente) a causa principal de todas as coisas, porque pode
afeta-las e modifica-las. A alma se acha, com efeito, tão desejosa daquela
coisa que ela gostaria de realizar que escolhe espontaneamente a hora
astrológica melhor e mais significativa que rege também as coisas que concordam
melhor com o objetivo de que se ocupa”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário