Toda pessoa
que procura a terapia sabe que chegou a hora de mudar algo em sua vida. Saber
disso e realizar isso são coisas distantes, num primeiro momento. Com o
desenrolar das sessões, vamos aproximando estes dois pontos até que eles se
tornem uma unidade.
O caminho é
difícil, pois neste intervalo tem-se que lidar com estruturas arcaicas, padrões
estabelecidos na psique que serviram numa dada época da vida, mas que depois de
um certo período, passam a ser obstáculos para a evolução do indivíduo.
Mas é
justamente aí que se encontra o desafio, a prova crucial do processo analítico.
Nós, como
analistas, temos a oportunidade de exercer a função de continente para nosso
cliente, mas ao mesmo tempo temos que saber dar-lhe o estímulo adequado para
questionar as “leis da sua vida” e, juntos, avaliar que “alicerces” pedem
reforma.
Muitos
conflitos se movem em todo esse processo. Muitas crises acontecem, muitos medos se
revolteiam até que as novas bases estejam assentadas. É o preço das mudanças
que nosso Self exige para nossa evolução como seres humanos.
Neste ponto,
gostaria de transcrever um trecho do livro “Anatomia da Cura”, da Dra.
Christine Page, que toca particularmente neste assunto:
Estabelecer novos parâmetros a partir
dos quais trabalhar pode muitas vezes ser assustador, pois tudo quanto foi “comprovado
pelo tempo” parece familiar e cômodo.
É freqüente haver medo de “ver” o que
está por trás do conselheiro, principalmente quando este é o pai ou a mãe.
Também pode haver medo do fracasso e de confiar nos próprios instintos
recém-descobertos.
As palavras “Eu bem que avisei” ou “Depois
não diga que não avisei” não ajudam quando estamos tomando decisões sozinhos.
Quando o sistema de crenças envolve
mensagens repetidas sobre a auto-estima, pode ser muito difícil começar a desenvolver
o senso de identidade e autovalorização.
O único papel que resta a um
indivíduo nessas circunstâncias é acreditar que tudo quanto lhe acontece é
culpa sua e que ele nunca vai conseguir nada que tentar obter.
Quando começam a desenvolver um grau
modesto de auto-estima, podem até se sentir culpados por negar aquilo em que
acreditaram durante tanto tempo.
Podem tornar-se a vítima e o algoz ao
mesmo tempo, e o crescimento estaciona.
Na verdade, são os únicos a ter a
chave que pode abrir a porta de sua prisão... muitos podem oferecer apoio, mas
a “vítima” precisa abrir a porta para permitir que os amigos entrem.
Tudo requer tempo e uma das maneiras
de sabotar qualquer movimento para a frente é estabelecer metas altas demais e,
assim, realizar a crença subconsciente de que nada é possível.
Seja qual for o motivo, costuma ser
muito difícil mudar o “disco” ou sistema de crenças arquivado no banco de dados
da memória e substituí-lo por outro.
Mas, quando chega o momento certo, a
mudança acontece de acordo com a Lei da Harmonia e do Equilibrio, e lá vamos
nós, de boa vontade ou esperneando e gritando!
Eu poderia citar um monte de gente
nos seus 50 ou 60 anos, homens e mulheres, cujos atos ainda são governados
pelos sistemas de crenças de seus pais.
Como devem agir, o que devem usar,
quanto devem se esforçar no trabalho, o que devem ler, o que devem comer.
Todos conselhos bons e sensatos em
sua época, mas que talvez não sejam apropriados agora.
Sempre que ouço as palavras “você tem
de fazer isso, é obrigado a fazer aquilo”, sei que estou diante de um problema
que puxa uma pergunta: Quem disse? Raramente a resposta é “Eu”.
Por exemplo:
Maria era uma mulher bem sucedida,
estava com 55 anos e era perfeccionista. Trabalhava o dia inteiro e depois se
perguntava por que a cabeça não parava e não a deixava dormir.
Conversamos sobre relaxamento e lazer
e ela disse que não eram atividades que fizessem parte de sua rotina, pois
significavam a perda de um tempo precioso.
Perguntei-lhe qual a origem dessa
rigorosa ética profissional e ela me contou que a mãe sempre lhe dissera que
nunca conseguiria nada e nunca seria alguém.
Durante os últimos 50 anos, ela tinha
tentado provar que a mãe estava errada.
Não era capaz de olhar para suas
conquistas e se dar os parabéns... Ainda procurava obter a aprovação da mãe.
Em épocas de mudança, é absolutamente
válido voltar a hábitos antigos de comportamento durante os curtos períodos de
tempo até os novos paradigmas já estarem bem “adaptados” e os antigos sistemas
de crenças não combinarem mais com a nova imagem.
Deepak Chopra, em seu livro “Quantum
Healing”, afirma que é muito difícil mudar velhos hábitos de uma vida
inteira... não é impossível, mas requer um “salto quântico” mental, que
significa soltar-se e confiar.
As leis do universo e da terra em que
vivemos existem para evitar o caos e proporcionar segurança.
Mas as regras e os sistemas de
crenças precisam ser avaliados de tempos em tempos para verificarmos se ainda
estão harmônicos com a sabedoria do Eu Superior.
Essa sabedoria surge do
desenvolvimento da intuição e reflete aquilo que é bom não só para o indivíduo,
mas também para a humanidade como um todo.
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