terça-feira, 15 de julho de 2014

A Síndrome de Frankenstein


Você conhece alguém que se sente ou se vê socialmente recusado e pessoalmente temido? Caso sua resposta seja “sim”, você pode estar diante de um caso de Síndrome de Frankenstein. As pessoas com esta síndrome sentem-se vítimas de intolerância e preconceito e por isso assumem o comportamento de “monstros” perante a sociedade, como forma de se defenderem da agressividade que vem dos outros.
Essas pessoas podem desenvolver vícios, também como forma de fuga da intensa dor da rejeição. Por vezes aparentam indiferença ao mundo que as cerca, adotando um estilo de vida fora do padrão, agressivo aos olhos da maioria. Essas atitudes funcionam como defesas para disfarçar sua real maneira de ser, comumente pessoas muito sensíveis.
Você se lembra da história de Frankenstein? Vamos dar uma repassada. Se te interessar, o filme que mais se aproxima do livro é o de 1994, com Robert De Niro.
Mary Shelley, escritora britânica, é tida como a autora do livro que narra a história de um monstro criado em laboratório por um engenhoso estudante de ciências naturais, Vitor Frankenstein. Estudiosos da obra acreditam que o verdadeiro autor é seu marido (na época, noivo), Percy Bysshe Shelley. Muitas interpretações são possíveis para a verdadeira mensagem que traz esta obra, sendo a mais forte delas a intolerância e o preconceito em relação à homossexualidade.
O título inglês da obra é “Frankenstein: O Novo Prometeu”, sendo originalmente um romance de terror gótico.
Dito monstro, articulado e eloqüente, fugiu do laboratório de Vitor, escondendo-se numa floresta, onde aprendeu a comer frutas e vegetais, e a usar o fogo.
Ao se deparar com seres humanos era sempre escorraçado e agredido, então, eventualmente, escondeu-se num depósito de lenha anexo a uma cabana. De lá, observava, através de frestas, a vida de uma família pobre de ex-nobres, afeiçoando-se a eles e ajudando-os em segredo. A família consistia de um pai cego e um casal de irmãos. Aprendeu a língua e a escrita espionando as aulas que davam à noite à noiva árabe do irmão, e encontrou livros onde aprendeu sobre a vida e a virtude. Após longo tempo, criou coragem para se apresentar à família, e conseguiu conversar com o pai cego, mas quando os filhos chegaram e o viram junto ao pai, também o escorraçaram.  
A criatura torna-se amargurada e resolve procurar seu criador, cujo diário descobrira no bolso do casaco que levou do laboratório na noite da fuga. Por onde passava, era sempre agredido pelos humanos.
Em Genebra, já transtornado por tanta rejeição, começa a cometer assassinatos. Matou o irmão mais novo de Vitor Frankenstein, deixando que fosse incriminada uma jovem criada, Justine. Vitor sabia que o monstro era o culpado e resolveu encontrá-lo num lugar mais afastado. Lá, o monstro dizia que precisava de uma companhia feminina e exigiu que ele construísse uma fêmea para ele. Assim, ele deixaria todos em paz e iria viver nas florestas com sua noiva. Mas, se Vitor não cumprisse o acordo, iria submetê-lo a tormentos de todo tipo.
Ao voltar para Genebra, Vitor fica noivo de Elizabeth, uma moça criada junto com ele e amada como uma filha por seu pai. Na Grã-Bretanha, vai para uma das ilhas do arquipélago Orkneys, onde começa a construir a fêmea. Mas, ele muda de idéia e destrói a criatura. O monstro jura se vingar e mata Elizabeth e Clerval, seu melhor amigo. O pai de Vitor também termina por falecer, pois não suporta a perda de Elizabeth.  
Vitor passa a perseguir a criatura, que o leva através de uma longa caçada em direção ao norte, prosseguindo pelos mares congelados, onde eventualmente são avistados por um navio e resgatados.
Vitor estava, a essa altura, muito doente, e faleceu alguns dias depois. O Capitão vê o monstro chorando por ele em seu leito de morte. Ele diz ao Capitão que vai até o extremo norte e lá iria se suicidar, deixando em paz a humanidade.
Assim termina a história.
Vemos que o “monstro” é alguém que não teve a oportunidade de achar seu lugar no mundo. Por ser diferente, era rejeitado e escorraçado, sem ter chances concretas de expressar quem ele era interiormente. Era julgado sem misericórdia e, em decorrência disso, terminou desenvolvendo uma amargura, uma frieza, chegando a cometer assassinatos em diversas ocasiões.
 A síndrome de Frankenstein faz a pessoa padecer de um profundo sentimento de inadequação. O indivíduo torna-se muito solitário, não se sente parte de lugar nenhum, não se sente parte da própria família, não é compreendido. Ele desenvolve um mecanismo de defesa onde cria uma armadura como forma de agressão. Quer mostrar sua rebeldia, agredindo o outro, por vezes através de atitudes específicas que sabe, causarão horror nos outros.  
Podemos pensar que tal síndrome acontece apenas em “tribos” específicas, gangues, etc. Não necessariamente. Essa síndrome pode estar inconscientemente instalada na psique de um bom pai de família, de um filho aparentemente estável, e só vir à tona sob o efeito de álcool ou drogas. Nestas condições, podem cometer atos de muita crueldade com membros de sua família ou vítimas eventuais. Quando passa o efeito da droga, eles voltam “ao normal”.
No processo psicanalítico, podemos nos deparar com tal síndrome aliada aos medos, ou oculta num comportamento de preguiça, ou enraizada num complexo de castração, e por aí vai. Comumente, encontramos um quadro de muitos maltratos, físicos e psicológicos na infância.

A cura? Começa por abrir portas para este indivíduo, fazendo-o sentir-se convidado a entrar, sentir-se aceito como é. Os demais passos virão no seu tempo. 

Um comentário:

  1. Você me indicaria algum livro que fale sobre essa temática do preconceito ?

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