segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Astrologia: Os Ciclos e sua Relação com as Crises

ASTROLOGIA HUMANÍSTICA
Os Ciclos e sua Relação com as Crises
A Astrologia Humanística constitui a primeira abordagem astrológica a usar o conceito de ciclos como base para a compreensão e interpretação dos seus símbolos fundamentais: casas, signos, plantas e aspectos. (...)
O que é um ciclo? Ciclo é uma estrutura-forma de tempo. É o contexto no qual ocorrem as mudanças. Toda a existência é estruturada pelo tempo e toda a atividade tem lugar no tempo. Ciclo é o tempo de duração da vida de qualquer entidade determinada. Embora um ciclo tenha um começo e um fim reconhecíveis, é errôneo interpretar isso como um eterno ponto de partida – começo, fim e novo começo. Uma tal visão dos ciclos, em astrologia, levará o indivíduo a considerá-los como sequências repetitivas de eventos. Este não é o verdadeiro retrato da realidade; pois, embora o padrão do seu desenvolvimento se repita, desde o início até o fim, o conteúdo de um ciclo – os estados de mudança, os eventos ou as experiências de seu período de duração – nunca se repete exatamente. (...)
Sendo um “todo e de atividade”, um ciclo contém um meio, assim como um começo e um fim, havendo fases de desenvolvimento identificáveis à medida que ele se desenrola. Tão logo um momento particular é identificado como parte de um ciclo, passa a estar inextricavelmente relacionado com o começo e também com o fim desse ciclo. Qualquer momento específico ocorrido dentro de um ciclo é considerado parte do “meio”, um desenvolvimento do impulso que iniciou o ciclo, e é dirigido no sentido da consumação ou propósito desse ciclo. Desse modo, todos os momentos dentro de um ciclo estendem-se para trás, para a raiz do ciclo e, ao mesmo tempo para frente, na direção da semente do ciclo. Este impulso simultâneo, para frente e para trás, envolve qualquer momento particular com todos os outros momentos do ciclo. Rudhyar denomina este fenômeno de INTERPRETAÇÃO-TEMPO. É a quarta dimensão do tempo. (...) Cada momento no tempo é uma parte, um aspecto ou uma fase de uma realidade oniabrangente – o Todo – e tem seu significado essencial somente com referência a esse Todo. Assim sendo, cada unidade aparentemente separada tem participação e está envolvida com cada uma das outras unidades existentes dentro do tempo de duração de um ciclo. Isto acontece porque, em qualquer ciclo, o efeito também age sobre a causa e cada momento presente é puxado pelo futuro, assim como é empurrado pelo passado. O ciclo inteiro está implícito em cada um de seus momentos.
Como um estudo dos ciclos, a astrologia torna-se, então, um estudo das correlações entre todos esses fatores – entre o futuro e o passado em cada momento presente; entre o macrocosmo universal e o microcosmo individual. O mapa natalício é o ponto de partida do ciclo de vida do indivíduo. Situa-se entre o passado ancestral – as raízes cármicas e o futuro potencialmente individualizado – o propósito-vida dármico. Trata-se do padrão ou plano que Jung chamou de processo de individuação, revelando, em linguagem simbólica, como cada pessoa pode atualizar plenamente aquilo que é potencialmente.
O QUE É UMA CRISE? Os ciclos são medidas de mudança. Para que qualquer propósito se realize, devem ocorrer mudanças e, necessariamente, mudanças envolvem crises.  (...) Ela deriva da palavra grega “krino”, “decidir”, e significa, simplesmente, um momento de tomar uma decisão. Uma crise é um momento decisivo – aquele que precede a MUDANÇA. Para evitar uma crise, teríamos que evitar a própria mudança, o que constitui uma impossibilidade óbvia.
Embora toda a matéria, tanto viva quanto inanimada, esteja mudando constantemente, somente o homem tem capacidade de tomar uma decisão consciente. Com o fito de evoluir, ele deve abandonar o comportamento instintivo, que serve apenas para a sobrevivência ou as compulsões sociais, em favor da escolha consciente. A barreira para a escolha consciente é o “ego”, aquilo que a sociedade disse ao indivíduo que ele deveria ser, em oposição à experiência do Eu, que lhe diz o que ele realmente é. É na adaptação ao papel social que o indivíduo assume padrões de comportamento habituais. Assim, quando chega o momento de tomar uma decisão (crise), permitimos que esses padrões determinem a nossa escolha, em vez de seguirmos as linhas de orientação emanadas da nossa própria verdade pessoal.
Infelizmente, está sempre presente a tentação de se evitar o ato de tomar uma decisão, na esperança de que a necessidade desapareça e as coisas permaneçam num confortável estado “normal”. Às vezes esta técnica dá a impressão de que funciona, e o fio do status quo parece não ter sido rompido; contudo, não importa quão pequenina a decisão ou quão insignificante a crise, este ato de evitar representa, de qualquer modo, uma derrota espiritual. O fato de recusar-se a decidir, ou o fato de esperar que as circunstâncias ou outras pessoas decidam, não exime o indivíduo da responsabilidade. Toda vez que uma decisão deixa de ser tomada, os padrões inconscientes e instintivos tornam-se mais profundos. O que na infância era uma ranhura transforma-se, mais tarde, num sulco e, finalmente, numa cova. Esta repetida ausência de decisão consciente pode, numa determinada circunstância, aumentar a tensão, fazendo-a finalmente explodir. O indivíduo será então obrigado a reagir a circunstâncias difíceis ou dolorosas, que poderiam ter sido evitadas, caso tivesse ele enfrentado as crises anteriormente e menores com objetividade e coragem. A catástrofe resultante não é uma conseqüência inevitável das crises, mas sim das decisões evitadas. Assim sendo, para os astrólogos humanisticamente orientados, as crises não são eventos externos, embora os eventos externos possam precipitá-los ou condicionar o seu desenvolvimento. As crises, tanto grandes como pequenas, representam, essencialmente, oportunidades para o desenvolvimento – as únicas oportunidades que realmente temos. O indivíduo deve fazer um esforço contínuo no intuito de se manter alerta e livre dos padrões de hábitos inconscientes, que obstaculizam o crescimento espiritual. Desse modo, será capaz de usar as crises em favor de seus objetivos particulares.
O desafio das confrontações é interminável. Alguns destes pontos críticos são biológicos (tais como a adolescência e a menopausa) e são enfrentados em idades específicas, ao passo que outros são individuais e podem ocorrer em qualquer época durante o período de vida. O potencial destes últimos é inerente ao mapa de nascimento, e a interpretação de seus efeitos e reações dependerá da idade da pessoa na ocasião da crise. Por meio de trânsitos e progressões, o astrólogo pode deduzir a época e a natureza das futuras crises em potencial. Caso se espere um tipo específico de período de transição, ou de crise de crescimento, o indivíduo pode preparar-se para enfrentá-lo conscientemente e com os olhos abertos e, através dele, poderá lucrar muito mais em termos de maturidade pessoal e de desenvolvimento espiritual. Tal conhecimento também poderá ajudar a pessoa a evitar decisões imprudentes ou precipitadas. O sentimento de desespero que frequentemente surge no meio de uma crise pode ser igualmente dispersado pela capacidade do astrólogo em predizer o fim do ciclo.
Todavia, o conhecimento antecipado pode, por outro lado, ter efeitos negativos. Com muita freqüência, a antecipação de uma crise iminente provoca medo e ansiedade – as causas primárias de todos os males. Idealmente, do ponto de vista humanístico esta abordagem negativa deverá ser menos provável, uma vez que o objetivo da abordagem humanística é antes o desenvolvimento espiritual, e não o conforto ou o enriquecimento material. Além do mais, o astrólogo humanístico deverá saber que as crises não são eventos isolados, mas fases de crescimento individual. Deverá interpretá-las tomando como referência os ciclos maiores ou menores dentro dos quais elas ocorrem – as fases desses ciclos. A fase correspondente à crise revelará seu significado e propósito em função da natureza, do alcance e do propósito do ciclo como um todo. A astrologia humanística, portanto, será capaz de trazer um sentido de direção, de orientação e de determinação a cada crise. A maioria dos manuais astrológicos não trata da capacidade para visualizar o que poderá e deverá ocorrer no futuro (isto é, a meta e o propósito do ciclo completo), mesmo quando a pessoa se acha no meio de uma caótica situação presente. Ela deve ser aprendida enfrentando-se experiências em função da quarta dimensão temporal – isto é, observando-se o ciclo todo em cada momento em que está sendo vivido e abordando-se esse momento presente de maneira lúcida e consciente.
Embora a astrologia humanística possa prestar um grande auxílio na compreensão das crises futuras, essa abordagem poderá ser ainda mais valiosa no que se refere a compreender as crises já ocorridas. Tal compreensão, embora tardia, é a melhor preparação para se enfrentar, construtiva e expressamente, as crises de desenvolvimento que ainda estão por vir. Contudo, como qualquer técnica, seu valor depende da pessoa que a está utilizando – de sua coragem, discernimento e visão espiritual. Ninguém pode ver, quer num mapa de nascimento, quer na própria pessoa, qualquer coisa que esteja além do alcance do seu próprio entendimento. O astrólogo pode extrair de um mapa de nascimento apenas aquilo que ele insere em sua própria vida.


Trecho extraído do livro “Ciclos de Evolução”, de Alexander Ruperti.

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