AS DEUSAS DENTRO DE NÓS
(por Jennifer Woolger)
O que é uma deusa?
Com “deusa” queremos exprimir a descrição psicológica de um
tipo complexo de personalidade feminina que reconhecemos intuitivamente em nós,
nas mulheres a nossa volta, e também nas imagens e ícones que estão em toda
parte em nossa cultura. Por exemplo, a jovem executiva, inteligente e bem
vestida, tão presente em nossas grandes cidades, é a personificação viva de um
tipo de deusa que chamamos mulher-Atena, em homenagem à deusa grega padroeira
da antiga cidade de Atenas. Hoje em dia, por ser ela tão prevalente, as
revistas, os filmes e os romances reproduzem-na como um estereótipo.
No entanto, o tipo de uma deusa como Atena é muito mais do
que um mero estereótipo ou clichê da mídia. Atena também representa uma espécie
complexa e altamente evoluída de consciência que caracteriza tudo o que esse
tipo de mulher pensa, sente e faz. Os traços mais proeminentes da mulher-Atena
são sua dedicação ao trabalho, sua vontade de realizar-se profissionalmente,
sua independência e sua intelectualidade. Ela dá grande valor à educação,
possui um alto grau de consciência sócio-política e geralmente coloca sua
carreira à frente dos filhos e do marido.
Há uma dinâmica fundamental por trás das atitudes de uma
mulher como essa que a torna singular enquanto tipo. Parte é adquirida socialmente
e parte parece ser inata. Quando a mesma dinâmica psicológica é constatada num
grupo de pessoas, temos o que Jung denominou arquétipo. Ele foi o primeiro a
observar que tipos dinâmicos dessa espécie podem ser encontrados em sua forma
mais pura na mitologia e na literatura, e que também estão presentes,
disfarçados, nos sonhos e nas fantasias de todos nós. Pode ser hoje facilmente
observados nos filmes, nas novelas de televisão e no modo como a mídia trata a
vida de pessoas famosas. Marilyn Monroe tornou-se uma trágica deusa do amor, na
tela e fora dela; Oliver North representou o herói patriótico frustrado nas
audiências perante o Congresso. O conhecido livro Man and His Symbols, editado
por Jung, fornece centenas de exemplos contemporâneos e históricos.
Uma deusa é, portanto, a forma que um arquétipo feminino
pode assumir no contexto de uma narrativa ou epopéia mitológica. Num conto de
fadas, esse arquétipo pode aparecer como princesa, rainha ou bruxa. Quando
sonhamos ou fantasiamos, nossa mente inconsciente pode recorrer às imagens
arquetípicas comuns a nossa cultura, ao que Jung chamou de inconsciente
coletivo. Assim, em vez de sonhar com uma rainha ou deusa como Hera, da
mitologia grega, para representar o arquétipo feminino do poder, podemos fazê-lo
com Margaret Thatcher ou como uma matriarca das novelas como Jane Wyman.
Quando a deusa Atena aparece na Ilíada, de Homero, ela é
protetora e companheira divina dos jovens heróis guerreiros; mas, como
mostraremos mais adiante, ela também tinha muitas outras funções para os
gregos. Na realidade, sua imagem representa uma dinâmica energética feminina
altamente complexa que surge do seio de populações agressivas, ambiciosas e
altamente civilizadas – os gregos da Antiguidade, por exemplo, ou as modernas mulheres
urbanas. Nesse sentido, acreditamos que Atena está viva, bem viva, nos dias de
hoje;enquanto deusa, ela é a encarnação do campo de energia psíquica que
inspira e informa as atitudes cotidianas, o comportamento e os ideais de muitas
mulheres da sociedade contemporânea.
Os Principais Tipos de Deusas
(...)
- A mulher-Atena é regida pela deusa da sabedoria e da
civilização; ela busca a realização profissional numa carreira, envolvendo-se
com educação, cultura intelectual, justiça e com política.
- A mulher-Afrodite é regida pela deusa do amor, e está
voltada principalmente para relacionamentos humanos, sexualidade, intriga,
romance, beleza e inspiração das artes.
- A mulher-Perséfone é regida pela deusa do mundo avernal;
ela é mediúnica e atraída pelo mundo espiritual, pelo oculto, pelas
experiências místicas e visionárias e pelas questões ligadas à morte.
- A mulher-Ártemis é regida pela deusa das selvas; ela é
prática, atlética, aventureira; aprecia a cultura física, a solidão, a vida ao
ar livre e os animais; dedica-se à
proteção do meio ambiente, aos estilos de vida alternativos e às comunidades de
mulheres.
- A mulher-Deméter é regida pela deusa das colheitas; ela é
uma verdadeira mãe-terra que gosta de estar grávida, de amamentar e de cuidar
de crianças; está envolvida com todos os aspectos do nascimento e com os ciclos
reprodutivos da mulher.
- A mulher-Hera é regida pela deusa dos céus; ela se ocupa
do casamento, da convivência com o homem e, sempre que as mulheres são líderes
ou governantes, de questões ligadas ao poder.
(...)
O que queremos enfatizar
neste livro é que não apenas uma, mas várias das deusas, em diversas
combinações, estão por trás do comportamento e da configuração psicológica de
toda mulher. (...) Conhecer-se a si mesma mais plenamente como mulher é
conhecer por quais deusas se é primordialmente governada. E é estar ciente de
como cada uma delas influencia as diversas fases e os diversos pontos de
mutação de nossa vida.
(texto extraído da obra “A Deusa Interior”, p. 14-16, de Jennifer
Barker Woolger e Roger J. Woolger)
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