sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Psicanálise e Mitologia: As Deusas Dentro de Nós


         
                                                                AS DEUSAS DENTRO DE NÓS 
(por Jennifer Woolger)

O que é uma deusa?

Com “deusa” queremos exprimir a descrição psicológica de um tipo complexo de personalidade feminina que reconhecemos intuitivamente em nós, nas mulheres a nossa volta, e também nas imagens e ícones que estão em toda parte em nossa cultura. Por exemplo, a jovem executiva, inteligente e bem vestida, tão presente em nossas grandes cidades, é a personificação viva de um tipo de deusa que chamamos mulher-Atena, em homenagem à deusa grega padroeira da antiga cidade de Atenas. Hoje em dia, por ser ela tão prevalente, as revistas, os filmes e os romances reproduzem-na como um estereótipo.

No entanto, o tipo de uma deusa como Atena é muito mais do que um mero estereótipo ou clichê da mídia. Atena também representa uma espécie complexa e altamente evoluída de consciência que caracteriza tudo o que esse tipo de mulher pensa, sente e faz. Os traços mais proeminentes da mulher-Atena são sua dedicação ao trabalho, sua vontade de realizar-se profissionalmente, sua independência e sua intelectualidade. Ela dá grande valor à educação, possui um alto grau de consciência sócio-política e geralmente coloca sua carreira à frente dos filhos e do marido.

Há uma dinâmica fundamental por trás das atitudes de uma mulher como essa que a torna singular enquanto tipo. Parte é adquirida socialmente e parte parece ser inata. Quando a mesma dinâmica psicológica é constatada num grupo de pessoas, temos o que Jung denominou arquétipo. Ele foi o primeiro a observar que tipos dinâmicos dessa espécie podem ser encontrados em sua forma mais pura na mitologia e na literatura, e que também estão presentes, disfarçados, nos sonhos e nas fantasias de todos nós. Pode ser hoje facilmente observados nos filmes, nas novelas de televisão e no modo como a mídia trata a vida de pessoas famosas. Marilyn Monroe tornou-se uma trágica deusa do amor, na tela e fora dela; Oliver North representou o herói patriótico frustrado nas audiências perante o Congresso. O conhecido livro Man and His Symbols, editado por Jung, fornece centenas de exemplos contemporâneos e históricos.

Uma deusa é, portanto, a forma que um arquétipo feminino pode assumir no contexto de uma narrativa ou epopéia mitológica. Num conto de fadas, esse arquétipo pode aparecer como princesa, rainha ou bruxa. Quando sonhamos ou fantasiamos, nossa mente inconsciente pode recorrer às imagens arquetípicas comuns a nossa cultura, ao que Jung chamou de inconsciente coletivo. Assim, em vez de sonhar com uma rainha ou deusa como Hera, da mitologia grega, para representar o arquétipo feminino do poder, podemos fazê-lo com Margaret Thatcher ou como uma matriarca das novelas como Jane Wyman.

Quando a deusa Atena aparece na Ilíada, de Homero, ela é protetora e companheira divina dos jovens heróis guerreiros; mas, como mostraremos mais adiante, ela também tinha muitas outras funções para os gregos. Na realidade, sua imagem representa uma dinâmica energética feminina altamente complexa que surge do seio de populações agressivas, ambiciosas e altamente civilizadas – os gregos da Antiguidade, por exemplo, ou as modernas mulheres urbanas. Nesse sentido, acreditamos que Atena está viva, bem viva, nos dias de hoje;enquanto deusa, ela é a encarnação do campo de energia psíquica que inspira e informa as atitudes cotidianas, o comportamento e os ideais de muitas mulheres da sociedade contemporânea.

 

Os Principais Tipos de Deusas

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- A mulher-Atena é regida pela deusa da sabedoria e da civilização; ela busca a realização profissional numa carreira, envolvendo-se com educação, cultura intelectual, justiça e com política.

- A mulher-Afrodite é regida pela deusa do amor, e está voltada principalmente para relacionamentos humanos, sexualidade, intriga, romance, beleza e inspiração das artes.

- A mulher-Perséfone é regida pela deusa do mundo avernal; ela é mediúnica e atraída pelo mundo espiritual, pelo oculto, pelas experiências místicas e visionárias e pelas questões ligadas à morte.

- A mulher-Ártemis é regida pela deusa das selvas; ela é prática, atlética, aventureira; aprecia a cultura física, a solidão, a vida ao ar livre e os animais; dedica-se  à proteção do meio ambiente, aos estilos de vida alternativos e às comunidades de mulheres.

- A mulher-Deméter é regida pela deusa das colheitas; ela é uma verdadeira mãe-terra que gosta de estar grávida, de amamentar e de cuidar de crianças; está envolvida com todos os aspectos do nascimento e com os ciclos reprodutivos da mulher.

- A mulher-Hera é regida pela deusa dos céus; ela se ocupa do casamento, da convivência com o homem e, sempre que as mulheres são líderes ou governantes, de questões ligadas ao poder.

(...)

O que queremos enfatizar  neste livro é que não apenas uma, mas várias das deusas, em diversas combinações, estão por trás do comportamento e da configuração psicológica de toda mulher. (...) Conhecer-se a si mesma mais plenamente como mulher é conhecer por quais deusas se é primordialmente governada. E é estar ciente de como cada uma delas influencia as diversas fases e os diversos pontos de mutação de nossa vida.

 

(texto extraído da obra “A Deusa Interior”, p. 14-16, de Jennifer Barker Woolger e Roger J. Woolger)

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