quarta-feira, 7 de agosto de 2013

CAMPOS FORMATIVOS OU MORFOGENÉTICOS


CAMPOS FORMATIVOS OU MORFOGENÉTICOS

O texto a seguir foi retirado do livro “A Doença como Linguagem da Alma”, de Rudiger Dahlke”, p. 28 a 30 (Cultrix). Trata de um tema estudado por Sheldrake e que possui total “coincidência” com a visão da Mitologia/Filosofia Hindu, que abordamos em artigos anteriores. A compreensão desta questão ajuda-nos, como psicanalistas, a entender e lidar melhor com as transferências e contratransferências, tão comuns no consultório.

Como não existe nenhuma cultura antiga nem tampouco qualquer sociedade moderna sem rituais, pode-se deduzir que eles forçosamente fazem parte da vida humana. Em proporção à sua disseminação, a maneira como atuam ainda é pouco conhecida. Somente na última década encontrou-se um princípio esclarecedor, com a teoria de Sheldrake sobre campos morfogenéticos ou formativos. Através de experimentos, Sheldrake confirmou que há relações entre distintos seres vivos que escapam a explicações lógicas. Ele postulou os chamados campos formativos que servem de mediadores para essas ligações sem a necessidade de transmitir matéria ou informações. Várias experiências comprovam que seres vivos em um campo comum estão ligados uns aos outros de maneira inexplicável, de maneira muito semelhante às partículas gêmeas dos físicos atômicos. Eles vibram ao mesmo tempo no mesmo plano de vibração e comportam-se quase como se fossem um ser, comparável talvez a um grande cardume de peixes ou um campo de trigo sobre o qual o vento sopra. Nas situações que foram observadas, não havia nem mesmo tempo para que se comunicassem entre si no sentido tradicional.

O americano Conden pôde descobrir algo semelhante entre seres humanos. Ele filmou de perfil e em câmara lenta pessoas que se comunicavam. Com isso constatou-se que tanto a pessoa que fala como o ouvinte estão ligados no mesmo instante por movimentos minúsculos, chamados micromovimentos. Este vibrar um com o outro está presente em todos os seres humanos, com exceção das crianças autistas. Está-se aqui na pista de uma conexão que, no âmbito da vida orgânica, corresponde àquela inexplicável e característica conexão das partículas físicas elementares.

Qualquer um pode fazer um experimento de tais campos independentes no tempo e no espaço em uma sala de concertos, onde reina uma harmonia inexplicável segundo critérios tradicionais. Como é possível, pode-se perguntar ingenuamente, que tantos músicos diferentes com tempos de reação tão diferentes toquem todos no mesmo andamento? Eles naturalmente estão todos olhando para o mesmo regente, mas devido aos tempos de reação individuais, cada um deles deveria transpor os sinais para seus instrumentos em tempos diferentes. A razão disso não ser assim está no padrão vinculante da música. Em lugar do caos que logicamente seria de esperar, pode resultar uma sinfonia, um soar conjunto, porque os músicos tornam-se um no padrão e atuam como um único ser. Os ouvintes também podem introduzir-se nesse padrão e tornar-se um na música, com o regente, os músicos e os outros ouvintes. Esse é um mistério que nem mesmo a melhor reprodução técnica possível do concerto podem substituir.

Experiências práticas com esses campos que não podem ser compreendidos logicamente, nem vistos, mas que podem ser sentidos, permitem também a meditação. Em quase todos os mosteiros, havia salas de oração que eram mantidas exclusivamente com esse propósito, para não perturbar a atmosfera. Quem já meditou em um claustro onde somente a meditação foi praticada nos últimos mil anos conhece a experiência. Aqui entra-se em estado de meditação mais facilmente e mais profundamente que no dormitório de casa ou até mesmo viajando de avião. Grandes grupos que estão em uníssono também criam um campo que pode ser sentido. No Tai-Chi, uma antiga meditação chinesa feita através de movimentos, ele é especialmente perceptível. Surge uma enorme energia quando um grupo se movimenta como se fosse um único ser. Uma antiga experiência militar afirma que é mais fácil marchar ao mesmo tempo. Pode-se ver quão grande a energia do uníssono, da ressonância pode se tornar quando se sabe do perigo (de desabamento) que as colunas em marcha representam para as pontes.

Para ilustrar como esses campos podem se formar ao mesmo tempo a grandes distâncias, temos o fato de que frequentemente as descobertas são feitas ao mesmo tempo em diferentes partes do mundo e que as mesmas idéias surgem no mesmo instante em lugares diferentes. Essa experiência pode precipitar-se até mesmo na política. A energia de um campo de padrão vigente ficou demonstrada na queda quase sincrônica de um regime do bloco europeu oriental. Seu tempo tinha se esgotado e até mesmo os tanques, que durante décadas tinham preservado a paz dos cemitérios, repentinamente não podiam fazer mais nada. Embora o intelecto, movendo-se por caminhos estreitos, ainda possa procurar outras explicações para todos esses exemplos, há uma experiência drástica que nesse sentido representa para ele um problema insolúvel. Separou-se uma cadela poodle de seus filhotes, que foram levados a milhares de quilômetros de distância em um submarino atômico. À medida que eles iam sendo sacrificados a espaços de tempo determinados, a mãe “reagia” de maneira mensurável. A palavra “reagir” não é de fato apropriada para este caso, pois não havia qualquer razão para que a mãe reagisse a qualquer coisa; ela na verdade estava ligada aos seus filhotes em um campo. A reação requer tempo, sendo que aqui tudo sucedia simultaneamente.

Enquanto ainda acreditamos que são as mais diversas causas que mantêm o mundo em movimento, a física moderna prova justamente o contrário: na realidade, somos regidos por uma sincronicidade inexplicável, não passando a causalidade de um equívoco, ainda que plausível. Os fenômenos que emergem nos campos formativos ocorrem de maneira sincrônica e não podem mais ser explicados de maneira causal. Estamos começando a suspeitar que a física e a biologia estão na pista daquela realidade mais profunda que nas escrituras sagradas do Oriente é descrita como um grande padrão ocorrendo de maneira sincrônica em planos diferentes, onde tudo tem seu lugar, está relacionado entre si, mas não está de modo algum relacionado de maneira causal. A doutrina analógica é a que mais coincide com as noções dos campos formativos. Neste sentido é compreensível que ensinamentos antigos tais como o de Paracelso, de que o homem e o mundo são um, voltem a ser levados em consideração.

Falta pouco para que se relacione o efeito dos rituais com os campos formativos. Os rituais são o caminho mais direto para construir esses campos e ancorá-los na realidade. A suspeita transforma-se em certeza quando se considera os antigos ritos de iniciação e de cura. Nos rituais da puberdade não se explica aos adolescentes o mundo dos adultos e suas regras, mas através da execução dos procedimentos rituais eles se tornam parte do mesmo sem precisar entender coisa alguma. Uma vez introduzidos no campo da nova esfera, todas as suas possibilidades abrem-se para ele automaticamente. Nós, que não acreditamos mais em rituais e por essa razão tampouco construímos campos fortes, mal podemos imaginar algo semelhante.

 

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