CAMPOS FORMATIVOS OU
MORFOGENÉTICOS
O texto a seguir foi retirado do
livro “A Doença como Linguagem da Alma”, de Rudiger Dahlke”, p. 28 a 30
(Cultrix). Trata de um tema estudado por Sheldrake e que possui total
“coincidência” com a visão da Mitologia/Filosofia Hindu, que abordamos em
artigos anteriores. A compreensão desta questão ajuda-nos, como psicanalistas, a entender e lidar melhor com as transferências e contratransferências, tão comuns no consultório.
Como
não existe nenhuma cultura antiga nem tampouco qualquer sociedade moderna sem
rituais, pode-se deduzir que eles forçosamente fazem parte da vida humana. Em
proporção à sua disseminação, a maneira como atuam ainda é pouco conhecida.
Somente na última década encontrou-se um princípio esclarecedor, com a teoria
de Sheldrake sobre campos morfogenéticos ou formativos. Através de
experimentos, Sheldrake confirmou que há relações entre distintos seres vivos
que escapam a explicações lógicas. Ele postulou os chamados campos formativos
que servem de mediadores para essas ligações sem a necessidade de transmitir
matéria ou informações. Várias experiências comprovam que seres vivos em um
campo comum estão ligados uns aos outros de maneira inexplicável, de maneira
muito semelhante às partículas gêmeas dos físicos atômicos. Eles vibram ao
mesmo tempo no mesmo plano de vibração e comportam-se quase como se fossem um
ser, comparável talvez a um grande cardume de peixes ou um campo de trigo sobre
o qual o vento sopra. Nas situações que foram observadas, não havia nem mesmo
tempo para que se comunicassem entre si no sentido tradicional.
O
americano Conden pôde descobrir algo semelhante entre seres humanos. Ele filmou
de perfil e em câmara lenta pessoas que se comunicavam. Com isso constatou-se
que tanto a pessoa que fala como o ouvinte estão ligados no mesmo instante por
movimentos minúsculos, chamados micromovimentos. Este vibrar um com o outro
está presente em todos os seres humanos, com exceção das crianças autistas.
Está-se aqui na pista de uma conexão que, no âmbito da vida orgânica,
corresponde àquela inexplicável e característica conexão das partículas físicas
elementares.
Qualquer
um pode fazer um experimento de tais campos independentes no tempo e no espaço
em uma sala de concertos, onde reina uma harmonia inexplicável segundo
critérios tradicionais. Como é possível, pode-se perguntar ingenuamente, que tantos
músicos diferentes com tempos de reação tão diferentes toquem todos no mesmo
andamento? Eles naturalmente estão todos olhando para o mesmo regente, mas
devido aos tempos de reação individuais, cada um deles deveria transpor os
sinais para seus instrumentos em tempos diferentes. A razão disso não ser assim
está no padrão vinculante da música. Em lugar do caos que logicamente seria de
esperar, pode resultar uma sinfonia, um soar conjunto, porque os músicos
tornam-se um no padrão e atuam como um único ser. Os ouvintes também podem
introduzir-se nesse padrão e tornar-se um na música, com o regente, os músicos
e os outros ouvintes. Esse é um mistério que nem mesmo a melhor reprodução
técnica possível do concerto podem substituir.
Experiências
práticas com esses campos que não podem ser compreendidos logicamente, nem
vistos, mas que podem ser sentidos, permitem também a meditação. Em quase todos
os mosteiros, havia salas de oração que eram mantidas exclusivamente com esse
propósito, para não perturbar a atmosfera. Quem já meditou em um claustro onde
somente a meditação foi praticada nos últimos mil anos conhece a experiência.
Aqui entra-se em estado de meditação mais facilmente e mais profundamente que
no dormitório de casa ou até mesmo viajando de avião. Grandes grupos que estão
em uníssono também criam um campo que pode ser sentido. No Tai-Chi, uma antiga
meditação chinesa feita através de movimentos, ele é especialmente perceptível.
Surge uma enorme energia quando um grupo se movimenta como se fosse um único
ser. Uma antiga experiência militar afirma que é mais fácil marchar ao mesmo
tempo. Pode-se ver quão grande a energia do uníssono, da ressonância pode se
tornar quando se sabe do perigo (de desabamento) que as colunas em marcha
representam para as pontes.
Para
ilustrar como esses campos podem se formar ao mesmo tempo a grandes distâncias,
temos o fato de que frequentemente as descobertas são feitas ao mesmo tempo em
diferentes partes do mundo e que as mesmas idéias surgem no mesmo instante em
lugares diferentes. Essa experiência pode precipitar-se até mesmo na política.
A energia de um campo de padrão vigente ficou demonstrada na queda quase
sincrônica de um regime do bloco europeu oriental. Seu tempo tinha se esgotado
e até mesmo os tanques, que durante décadas tinham preservado a paz dos
cemitérios, repentinamente não podiam fazer mais nada. Embora o intelecto,
movendo-se por caminhos estreitos, ainda possa procurar outras explicações para
todos esses exemplos, há uma experiência drástica que nesse sentido representa
para ele um problema insolúvel. Separou-se uma cadela poodle de seus filhotes,
que foram levados a milhares de quilômetros de distância em um submarino
atômico. À medida que eles iam sendo sacrificados a espaços de tempo
determinados, a mãe “reagia” de maneira mensurável. A palavra “reagir” não é de
fato apropriada para este caso, pois não havia qualquer razão para que a mãe
reagisse a qualquer coisa; ela na verdade estava ligada aos seus filhotes em um
campo. A reação requer tempo, sendo que aqui tudo sucedia simultaneamente.
Enquanto
ainda acreditamos que são as mais diversas causas que mantêm o mundo em
movimento, a física moderna prova justamente o contrário: na realidade, somos
regidos por uma sincronicidade inexplicável, não passando a causalidade de um
equívoco, ainda que plausível. Os fenômenos que emergem nos campos formativos
ocorrem de maneira sincrônica e não podem mais ser explicados de maneira
causal. Estamos começando a suspeitar que a física e a biologia estão na pista
daquela realidade mais profunda que nas escrituras sagradas do Oriente é
descrita como um grande padrão ocorrendo de maneira sincrônica em planos
diferentes, onde tudo tem seu lugar, está relacionado entre si, mas não está de
modo algum relacionado de maneira causal. A doutrina analógica é a que mais
coincide com as noções dos campos formativos. Neste sentido é compreensível que
ensinamentos antigos tais como o de Paracelso, de que o homem e o mundo são um,
voltem a ser levados em consideração.
Falta
pouco para que se relacione o efeito dos rituais com os campos formativos. Os
rituais são o caminho mais direto para construir esses campos e ancorá-los na
realidade. A suspeita transforma-se em certeza quando se considera os antigos
ritos de iniciação e de cura. Nos rituais da puberdade não se explica aos
adolescentes o mundo dos adultos e suas regras, mas através da execução dos
procedimentos rituais eles se tornam parte do mesmo sem precisar entender coisa
alguma. Uma vez introduzidos no campo da nova esfera, todas as suas
possibilidades abrem-se para ele automaticamente. Nós, que não acreditamos mais
em rituais e por essa razão tampouco construímos campos fortes, mal podemos
imaginar algo semelhante.
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