terça-feira, 3 de setembro de 2013

Câncer: Uma Abordagem Psicossomática (6)


CÂNCER; UMA ABORDAGEM PSICOSSÓMÁTICA (Anexo 6)

CÂNCER E DEFESA

Dos diagnósticos e sintomas mencionados, o câncer representa um processo de crescimento e regressão mergulhado no corpo. A estes dois soma-se ainda um terceiro componente, a defesa. A situação básica do câncer pode criar-se ao longo dos anos sem chegar à formação de um tumor. A medicina, e principalmente a medicina natural, conhecem essa situação e a chamam de pré-cancerosa. Os pressupostos anímicos descritos podem estar presentes há muito tempo, assim como os pressupostos físicos sob a forma dos estados carcinogênicos e de estimulação correspondentes, e ainda assim o câncer pode ser disparado somente após a ocorrência de determinados estímulos. Até então, é como se ele estivesse preso e subjugado por um sistema imunológico dominador. Somente o colapso do sistema de defesa é detectado por muitos pacientes, sendo caracterizado retrospectivamente como uma época de estados de tensão e angustia.

A estreita relação entre o câncer e o sistema imunológico é mostrada ainda pelo fato de o câncer utilizar o sistema de defesa que na verdade deveria combatê-lo para espalhar-se. Ele é atacado e expulso dos gânglios linfáticos pelos linfócitos e utiliza os canais linfáticos  para seguir adiante. Os gânglios linfáticos são lugares favoritos para o ataque. Ocupando as casernas do equipamento militar do corpo e avançando por suas estradas, o câncer demonstra como seu ataque é corajoso e que está disposto a ousar tudo em um confronto total. Por outro lado, lá mostra-se também a fraqueza da defesa. Ela está literalmente de mãos atadas. O câncer consegue ficar em tal situação graças a uma camuflagem perfeita. Assim como está em posição de desativar os “genes alterados” de suas células, o câncer consegue deixar também sem energia o sistema que permite reconhecer as células desde o exterior. Por trás dessa camuflagem, as células cancerígenas podem meter-se diretamente na cova do leão, no centro de defesa, sem serem reconhecidas e, sobretudo, impunemente. É neste ponto que existe a chance de uma terapia médico-biológica no nível funcional. Quando se consegue desarmar as células cangerígenas imunologicamente, elas passam a correr grande perigo.

A questão do que, em um nível mais profundo, leva ao não-funcionamento do sistema de defesa e à correspondente situação de humilhação, pode ser respondida de maneira geral e não se limita ao processo cancerígeno. O fenômeno aparece em cada resfriado: assim que uma pessoa está até o nariz e se fecha animicamente, o corpo, substitutivamente, abre-se aos agentes irritantes correspondentes e o nariz concreto se fecha. Expresso medicamente, uma fraqueza das defesas deixa o afetado suscetível. Quando a consciência se fecha para os temas irritantes, o corpo precisa se abrir substitutivamente para os irritantes correspondentes. A defesa imunológica torna-se então cada vez mais fraca na medida em que a defesa no nível da consciência é exagerada.

Fundamentalmente, o ser humano está equipado com uma defesa saudável em ambos os níveis. Evidentemente, frente a um mundo estranho cheio de perigos, é importante proteger as fronteiras do corpo com a ajuda de um sistema imunológico vital. Nós precisamos igualmente de uma certa defesa anímica, para não sermos inundados por impressões demasiado fortes que nos fariam cair na psicose. O objetivo, em ambos os níveis, é o ponto médio entre a abertura total e o fechamento absoluto. Caso se vá longe demais em um dos níveis, o outro é desequilibrado na direção contrária. Quem se fecha demais na consciência, sendo portanto demasiado avesso aos conflitos, força a abertura para as sombras, e ela então emerge no corpo sob a forma de suscetibilidade aos agentes patológicos.

O estado ideal caracteriza-se por uma ampla abertura anímica assentada sobre uma base de força. Pode-se deixar entrar tudo o que imagina sem precisar temer pela própria saúde anímica. Isso é possível sobre a base de uma defesa potencialmente forte, que além disso não entra em ação praticamente nunca. Caso isso seja necessário, seu proprietário pode confiar em seu poder de penetração. Justamente porque pode dizer não de maneira decidida e assim proteger seu espaço vital, ele raramente a necessita. A defesa que lhe corresponde, graças a seu bom treinamento, elimina qualquer agente patológico e está à altura de qualquer exigência. Exatamente por não ser poupada, confrontando-se com muitos desafios em uma vida corajosa, ela está sempre pronta para a luta e segura da vitória. A principal razão de ela não correr o risco de sucumbir aos agentes patológicos deve-se a que ela não é enfraquecida pelo plano anímico. Quem se deixa atacar na consciência e se defende lá mesmo, não precisa empurrar o tema para o corpo.

O fechamento exagerado na consciência e a conseqüente abertura grande demais no corpo é muito mais freqüente em um mundo que obtém a maior parte de sua cultura e de sua civilização evitando os conflitos. Quando o não-poder-dizer não que evita os conflitos mergulha no corpo, volta a tornar-se visível sob a forma de incapacidade de limitar-se. A experiência de vida cotidiana confirma este princípio. Uma pessoa que enfrenta a vida abertamente (=vital) dispõe de uma defesa corporal saudável, sendo portanto menos propensa a infecções. Uma pessoa estreita, medrosa, “pegará” mais agentes patológicos e cultivará os resfriados correspondentes mais frequentemente devido a seu mal equipamento de defesa. Ao contrário, uma pessoa entusiasmada, que se inflama com um tema, praticamente não pode se resfriar, não em uma situação tão aberta. Todos tiveram a experiência de uma coriza fulminante que desaparece por si mesma após uma pessoa passar duas horas assistindo com entusiasmo um filme de suspense. Somente ao final do filme, quando se lembra que o nariz estava escorrendo, é que o nariz volta a se encher.

É necessário que o bloqueio e o fechamento sejam muito profundos para que o colapso da defesa seja tão completo a ponto de permitir o surgimento de um tumor. Tais constelações afloram quando uma pessoa não se abre mais para um aspecto essencial de sua vida. Caso esse contato já esteja por um fio e este se rompa bruscamente, é como se o fio da vida se rompesse. Caso uma pessoa depressiva que praticamente não se comunica mais com o meio circundante perca a única pessoa com quem se relaciona, isso pode realmente acontecer. Como não participa mais do fluxo da vida sem essa pessoa, ela pode se recusar a aceitar uma perda tão despropositada. Sua defesa anímica aumenta na mesma medida em que ela fecha sua consciência para a perda, e a defesa corporal entra em colapso. Assim, o sistema imunológico passa a ser um anúncio de abertura e vitalidade.

Em pacientes que sofrem algum tipo de depressão, tudo o que torna real essa situação tão volátil pode levar a um enfraquecimento decisivo do sistema imunológico. A demissão de um emprego que tinha se transformado no próprio conteúdo da vida pode bastar, ou uma decepção definitiva com um sócio após anos de engano. Partindo de seu padrão interno, o típico paciente de câncer costuma se envolver em tais situações. Seu ser adaptado e, além disso, oprimido, volta uma e outras vez a se colocar sob pressão para arriscar uma nova tentativa de revificação. Cada uma dessas tentativas pode tornar real a sensação de absurdo mantida sob controle a tão duras penas, e um novo fechamento repentino pode desencadear a erupção da doença. Os pacientes de câncer que têm êxito também encontram inúmeras possibilidades para fechar-se à energia da vida. Qualquer coisa que coloque em questão a máscara de sua depressão, o sucesso, está apta para isso.
(Dr. Rudiger Dahlke - A Doença Como Linguagem da Alma)

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