O CORPO DE DOR (Anexo 9)
O CORPO DE DOR FEMININO COLETIVO
A dimensão coletiva do corpo de dor apresenta componentes
diferentes. Tribos, nações, raças, todos têm seu corpo de dor coletivo, e
alguns são mais pesados do que os outros. A maioria dos integrantes de cada um
desses grupos participa dele em maior ou menor grau.
Quase toda mulher tem sua parcela no corpo de dor feminino
coletivo, que tende a se tornar ativado especialmente no período que precede a
menstruação. Nessa fase, muitas mulheres são dominadas por uma intensa emoção
negativa.
A supressão do princípio feminino, sobretudo ao longo dos
últimos dois mil anos, permitiu que o ego ganhasse absoluta supremacia na
psique humana coletiva. Embora as mulheres tenham ego, é claro, ele pode
enraizar-se e prosperar com mais facilidade na forma masculina do que na
feminina. Isso acontece porque as mulheres se identificam menos com a mente do
que os homens. Elas estão mais em contato com o corpo interior e a inteligência
do organismo, que dão origem às faculdades intuitivas. A forma feminina não se
encontra tão rigidamente encapsulada quanto a masculina, tem maior abertura e
sensibilidade em relação às outras formas de vida e está mais sintonizada com o
mundo natural.
Se o equilíbrio entre as energias masculina e feminina não
tivesse acabado no nosso planeta, o crescimento do ego teria sido limitado de modo
significativo. Não teríamos declarado guerra à natureza e não seríamos tão
completamente alienados do nosso Ser.
Ninguém tem o número exato porque não foram mantidos
registros, mas acredita-se que ao longo de 300 anos entre 3 e 5 milhões de
mulheres foram torturadas e mortas pela “Santa Inquisição”, uma instituição
fundada pela Igreja Católica Romana para reprimir a heresia. Esse
acontecimento se equipara ao Holocausto
como um dos capítulos mais sombrios da
história da humanidade. Bastava uma mulher mostrar amor pelos animais, caminhar
sozinha nos campos ou nas florestas ou colher plantas medicinais para ser considerada
bruxa, torturada e condenada a morrer na fogueira. O sagrado feminino foi
declarado demoníaco e toda uma dimensão desapareceu significativamente da
experiências humana. Outras culturas e religiões, como o judaísmo, o islamismo
e até mesmo o budismo, também reprimiram a dimensão feminina, embora de uma
maneira menos violenta. O papel das mulheres foi reduzido a cuidar dos filhos e
da propriedade masculina. Os homens que negavam o feminino até dentro de si
mesmos, agora comandavam o mundo, um mundo que estava em total desequilíbrio. O
resto é história, ou melhor, o histórico de um caso de insanidade.
Quem foi responsável por esse medo do feminino que só pode
ser descrito como uma paranóia coletiva aguda? Poderíamos dizer: evidentemente,
os homens foram os responsáveis. Mas então porque em muitas civilizações
antigas pré-cristãs, como a suméria, a egípcia e a celta, as mulheres eram
respeitadas e o princípio feminino não era temido, e si reverenciado? O que foi
que de repente levou os homens a se sentir ameaçados pelo feminino? O ego que
se desenvolvia neles. Ele sabia que só conseguiria obter o pleno controle do
planeta por meio da forma masculina e, para fazer isso, tinha que tornar o
feminino menos poderoso.
Além disso, o ego também dominou a maioria das mulheres,
embora jamais fosse capaz de se enraizar tão profundamente nelas quanto fez com
os homens.
Hoje em dia, a supressão do feminino está interiorizada, até
mesmo pela maior parte das mulheres. O sagrado feminino, por ser reprimido, é
sentido por elas como uma dor emocional. Na verdade, ele se tornou parte do seu
corpo de dor juntamente com o sofrimento que elas acumularam ao longo de
milênios por meio do parto, do estupro, da escravidão, da tortura e da morte
violenta.
No entanto, agora as coisas estão mudando num ritmo muito
veloz. Como muitas pessoas estão se tornando mais conscientes, o ego vem
perdendo influência sobre a mente humana. Uma vez que ele nunca se enraizou
profundamente nas mulheres, seu domínio sobre elas está se reduzindo mais
rápido do que sobre os homens.
Eckhart Tolle – Um Novo Mundo: O Despertar de Uma Nova
Consciência)
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