FACILITANDO AS DECISÕES
Como todos os terapeutas, tenho técnicas preferidas de
mobilização, desenvolvidas ao longo de muitos anos de prática. Algumas vezes,
acho útil sublinhar o absurdo da resistência baseada em eventos passados
irreversíveis. Certa vez, tive um paciente com resistência, extremamente
paralisado na vida, que insistia em culpar a mãe por eventos que ocorreram
décadas antes. Para ajudá-lo a apreender o absurdo de sua postura, pedi-lhe que
repetisse várias vezes a seguinte frase: “Não vou mudar, mãe, até você me tratar
de maneira diferente daquela de quando eu tinha oito anos”. De tempos em
tempos, ao longo dos anos, usei esse recurso com eficácia (com variações no
texto, é claro, para adequá-lo à situação particular do paciente). Algumas
vezes, simplesmente lembro os pacientes de que, mais cedo ou mais tarde, eles
terão de desistir da menta de ter um passado melhor.
Outros pacientes dizem que não podem agir porque sabem o que
querem. Nestes casos, tento ajudá-los a localizar e sentir seus desejos. Isso
pode ser extenuante e, no final, muitos terapeutas se cansam e desejariam
gritar: “Você nunca quer nada?” Karen Horney algumas vezes disse, talvez
exasperada: “Alguma vez você já pensou em se perguntar o que você quer?” Alguns
pacientes não sentem que têm o direito de querer alguma coisa, outros abrem mão
do desejo para tentar evitar a dor da perda. (“Se eu nunca desejar, nunca mais
me sentirei decepcionado”). Outros, ainda, não sentem nem expressam desejos, na
esperança de que os adultos ao seu redor adivinhem suas necessidades.
Ocasionalmente, os indivíduos podem reconhecer que só desejam quando algo
lhes é tirado. Algumas vezes, achei útil, quando trabalhava com indivíduos
confusos sobre quanto a seus sentimentos em relação a um outro, imaginar (ou
encenar) uma conversa por telefone na qual o outro rompe o relacionamento. O
que eles sentem, então? Tristeza? Mágoa? Alívio? Exaltação? Podemos, assim, encontrar
uma forma de permitir que esses sentimentos mobilizem seu comportamento e
decisões proativos?
Algumas vezes, estimulei pacientes presos num dilema
decisório citando uma frase de A Queda, de Camus: “Acredite, para um homem, a
coisa mais difícil de desistir é daquilo que, afinal de contas, ele realmente
não quer”. (...)
(Os Desafios da Terapia – Irvin D. Yalom)
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