terça-feira, 24 de setembro de 2013

Facilitando as Decisões


 
FACILITANDO AS DECISÕES

Como todos os terapeutas, tenho técnicas preferidas de mobilização, desenvolvidas ao longo de muitos anos de prática. Algumas vezes, acho útil sublinhar o absurdo da resistência baseada em eventos passados irreversíveis. Certa vez, tive um paciente com resistência, extremamente paralisado na vida, que insistia em culpar a mãe por eventos que ocorreram décadas antes. Para ajudá-lo a apreender o absurdo de sua postura, pedi-lhe que repetisse várias vezes a seguinte frase: “Não vou mudar, mãe, até você me tratar de maneira diferente daquela de quando eu tinha oito anos”. De tempos em tempos, ao longo dos anos, usei esse recurso com eficácia (com variações no texto, é claro, para adequá-lo à situação particular do paciente). Algumas vezes, simplesmente lembro os pacientes de que, mais cedo ou mais tarde, eles terão de desistir da menta de ter um passado melhor.

Outros pacientes dizem que não podem agir porque sabem o que querem. Nestes casos, tento ajudá-los a localizar e sentir seus desejos. Isso pode ser extenuante e, no final, muitos terapeutas se cansam e desejariam gritar: “Você nunca quer nada?” Karen Horney algumas vezes disse, talvez exasperada: “Alguma vez você já pensou em se perguntar o que você quer?” Alguns pacientes não sentem que têm o direito de querer alguma coisa, outros abrem mão do desejo para tentar evitar a dor da perda. (“Se eu nunca desejar, nunca mais me sentirei decepcionado”). Outros, ainda, não sentem nem expressam desejos, na esperança de que os adultos ao seu redor adivinhem suas necessidades.

Ocasionalmente, os indivíduos  podem reconhecer que só desejam quando algo lhes é tirado. Algumas vezes, achei útil, quando trabalhava com indivíduos confusos sobre quanto a seus sentimentos em relação a um outro, imaginar (ou encenar) uma conversa por telefone na qual o outro rompe o relacionamento. O que eles sentem, então? Tristeza? Mágoa? Alívio? Exaltação? Podemos, assim, encontrar uma forma de permitir que esses sentimentos mobilizem seu comportamento e decisões proativos?

Algumas vezes, estimulei pacientes presos num dilema decisório citando uma frase de A Queda, de Camus: “Acredite, para um homem, a coisa mais difícil de desistir é daquilo que, afinal de contas, ele realmente não quer”. (...)

(Os Desafios da Terapia – Irvin D. Yalom)

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