O CORPO DE DOR (anexo 2)
O NASCIMENTO DA EMOÇÃO
Além da agitação do pensamento, embora não inteiramente
separada dele, existe outra dimensão do ego: a emoção. Isso não quer dizer que
todo pensamento e toda emoção pertençam ao ego. Esses elementos se convertem no
ego apenas quando nos identificamos com eles ou quando eles assumem o controle
sobre nós, isto é, quando se tornam o eu.
O organismo físico, nosso corpo, tem inteligência própria,
assim como os organismos de todas as formas de vida. E essa inteligência reage
ao que a mente diz, aos pensamentos. Portanto, a emoção é a resposta do corpo à
mente. A inteligência do corpo, evidentemente, é uma parte inseparável da
inteligência universal, uma das suas incontáveis manifestações. Ela dá coesão
temporária aos átomos e às moléculas que constituem o organismo físico. É o
princípio organizador por trás do funcionamento de todos os órgãos; da
conversão de oxigênio e alimento em energia; dos batimentos cardíacos e da
circulação do sangue; do sistema imunológico, que protege o corpo dos
invasores; e da conversão das informações sensoriais em impulsos nervosos que
são enviados ao cérebro, decodificados e reagrupados num quadro interior
coerente com a realidade exterior. Tudo isso, assim como milhares de outras funções
que ocorrem ao mesmo tempo, é coordenado com perfeição pela inteligência. Não
somos nós que conduzimos o corpo. A inteligência faz isso. Ela também é
responsável pelas respostas do organismo ao ambiente.
Isso se aplica a todas as formas de vida. É a mesma
inteligência que dá forma à planta e depois manifesta como a flor que dela
surge, aquela que, de manhã abre as pétalas para receber os raios de sol e, à
noite, as fecha. É a mesma inteligência que se revela como Gaia, o ser vivo
complexo que é o planeta Terra.
Essa inteligência faz surgir as reações instintivas do
organismo a tudo o que representa uma ameaça ou um desafio. No caso dos
animais, ela produz respostas que parecem ter afinidade com as emoções humanas,
como raiva, medo e prazer. Essas reações instintivas poderiam ser consideradas
formas primordiais de emoção. Em determinadas situações, os seres humanos as
manifestam da mesma maneira que os animais. Diante do perigo, quando a
sobrevivência do organismo é ameaçada, o coração bate mais rápido, os músculos
se contraem, a respiração se acelera numa preparação para a luta ou a fuga. O
medo primordial. Quando o corpo se vê sem possibilidade de fuga, uma descarga
súbita de energia intensa lhe dá uma força que ele não tinha antes. A raiva
primordial. Essas reações instintivas se assemelham às emoções, mas não são
emoções no verdadeiro sentido da palavra. A diferença fundamental entre elas é:
enquanto a reação instintiva é a resposta direta do corpo a uma situação
externa, a emoção é a reação do corpo a um pensamento.
Indiretamente, uma emoção também pode ser uma reação a uma
situação ou a um acontecimento real, porém ela será uma reação ao acontecimento
que terá passado pelo filtro da interpretação mental, do pensamento, ou seja,
dos conceitos de bom e mau, semelhante e diferente, eu e meu. Por exemplo, pode
ser que você não sinta nenhuma emoção ao
ser informado de que o carro de alguém foi roubado. No entanto, caso se trate
do seu carro, é provável que fique perturbado. É impressionante a quantidade de emoção que um pequeno conceito mental como
“meu” pode gerar.
Embora o corpo seja muito inteligente, ele não consegue
diferenciar uma situação real de um pensamento. Por isso reage a todo
pensamento como se fosse a realidade. Para o corpo, um pensamento preocupante,
assustador, corresponde a “Estou em perigo”, e ele responde à altura, embora a
pessoa que esteja pensando isso possa estar deitada numa cama quente e
confortável. O coração bate mais forte, os músculos se contraem, a respiração
se acelera. Forma-se um acúmulo de energia, mas, uma vez que o perigo é apenas
uma ficção mental, a energia não flui. Parte dela retorna à mente e dá origem a
outros pensamentos ainda mais ansiosos. O resto da energia se converte em
toxinas e interfere no funcionamento harmonioso do corpo.
Eckhart Tolle (Um Novo Mundo: O Despertar de Uma Nova
Consciência)
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